Estranho, muito
estranho. Eu sempre pensei que as causas da pobreza fossem determinadas por um
modelo institucional todo errado
(em 2017, o 109º pior entre 137 países, segundo o World Economic Forum (WEF). Pelo jeito, enganava-me de novo quando incluía entre as
causas da pobreza uma Educação que prepara semianalfabetos e nos coloca em 59º
lugar no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), entre 70 países.
Sempre pensei que havia relação entre pobreza e atraso tecnológico e que nosso
país não iria longe enquanto ocupasse o 55º lugar nesse ranking (WEF, 2017). Na
minha santa ignorância, acreditava que a pobreza que vemos fosse causada,
também, por décadas de desequilíbrio fiscal, gastos públicos descontrolados
tomados pela própria máquina e inflação. Cheguei a atribuir responsabilidades
pela existência de tantos miseráveis à concentração de 40% do PIB nas
perdulárias mãos do setor público (veja só as tolices que me ocorrem!). E acrescento
aqui, se não entre parêntesis, ao menos à boca pequena, que via grandes culpas,
também, nessas prestidigitações que colocam nosso país em 96º lugar entre os
180 do ranking de percepção da corrupção segundo a Transparência Internacional.
Contemplando, com a minha incorrigível cegueira, os
miseráveis aglomerados humanos deslizantes nas encostas dos morros, imputava
tais tragédias à negligência política. Não via como obrigatório o abandono
sanitário e habitacional dos ambientes urbanos mais pobres. Aliás, ocupamos a
112ª posição no ranking, entre 200 países, no acesso a saneamento básico. Pelo
viés oposto, quando vou a Brasília, vejo, nos palácios ali construídos com
dinheiro do orçamento da União, luxos e esplendores de uma corte dos Bourbons.
Mas os profetas do megafone juram que estou errado. A culpa
pela pobreza, garantem, tampouco é do patrimonialismo, do populismo, dos
corporativismos, do culto ao estatismo, dos múltiplos desestímulos ao emprego
formal. Não é sequer de um país que, ocupando a 10ª posição entre os países
mais desiguais do mundo, teve a pachorra de gastar, sob aplauso nacional, cerca
de R$ 70 bilhões para exibir ao mundo sua irresponsabilidade na Copa de 2014 e
nos Jogos Olímpicos de 2016. No entanto, os Pinóquios da política, das salas de
aula, da mídia e dos púlpitos a serviço da ideologia, fanáticos da irrazão,
asseguram-nos que existem pobres por causa da economia de empresa e dos
empreendedores.
Um dos fenômenos brasileiros deste início de século é o
silêncio das consciências ante toda falsidade. É a morte do grilo falante.
*Este
texto atualiza dados de um pequeno trecho do meu livro “Pombas e Gaviões”,
publicado pela AGE em 2010.
Percival Puggina - membro
da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e
titular do site www.puggina.org, colunista
de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil, integrante do grupo Pensar+.
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