Se você tem filhos irá concordar comigo que educar
não é tarefa fácil. Ainda mais nessa nossa realidade de informações
instantâneas, hiperconectividade, pais e mães sobrecarregados com o trabalho, o
que torna nossa missão cada dia mais complexa.
Mas independente de qual linha de educação você
decide adotar – uma mais firme e rígida, uma mais permissiva, ou um equilíbrio
entre as duas –, uma coisa é clara: antes de começar a pensar em educar,
primeiro, é preciso considerar que o nosso filho ou filha vai viver em
sociedade e que todos temos de seguir regras.
Nesse sentido, quero compartilhar com vocês uma
experiência que vivi com meus filhos e que me deixou preocupado, pois percebi
que muitos pais estão esquecendo deste princípio básico. Em nome do amor aos
filhos, focam em satisfazer todos os desejos das crianças, criando para os
pequenos uma realidade muito diferente da que vão enfrentar quando se tornarem
adultos.
Tenho dois filhos, Cauã, de 9 anos, e Bella, de 7.
Recentemente, em um feriado, fui com eles a um clube próximo à minha casa para
curtirmos uma piscina. Na quadra de futebol de salão, um grupo de pais e filhos
iniciava uma partida de queimada. Você se lembra da queimada? Com certeza, deve
ter lembranças de infância do jogo. Sou da época em que brincávamos no meio da
rua usando uma bola feita de meias!
As regras da queimada são simples. Os participantes
se dividem em dois times e cada jogador deve atirar a bola para tentar acertar
o adversário. Se atingido, ou “queimado”, você deve se dirigir para o final da
quadra do lado adversário, onde pode até ter a chance de pegar a bola e ajudar
o seu time, porém, fica fora do jogo principal.
Ao verem a diversão do grupo, meus filhos logo
perguntaram se podíamos brincar também. Claro, vamos lá! O ambiente era
agradável, os pais deixavam as crianças arremessar a bola para ir “queimando”
os coleguinhas e todos se divertiam, respeitando as regras do jogo.
Até que, em certo momento, uma das crianças já
“queimada” e, portanto, fora do jogo, voltou para a quadra. Para a minha
surpresa, outras começaram a fazer o mesmo, como se a regra do jogo para os
“queimados” simplesmente não existisse. Algumas crianças questionaram a
atitude, obviamente. A justificativa que nos deram foi que estavam “trocando de
lugar” com o pai ou a mãe. A partir daí, valia chamar a irmã, a avó, a babá
para “trocar por vidas” e se manter no jogo mesmo já tendo sido acertado pela
bola.
Incomodado com a situação, decidi chamar os pais e
propor que obedecessem a regra do jogo. Afinal, por que quebrá-la se ela
existe? “Mas é meu filho e dou a vida por ele”, respondeu a mãe que
inicialmente propôs a troca. Sim, também sou capaz de dar a vida pelos meus
filhos. Mas aqui, nesse jogo, assim como em sociedade, somos um grupo de
pessoas submetido a normas que devem ser respeitadas. Não podemos dispensar as
nossas crianças dessa responsabilidade e dar a elas um tratamento diferenciado.
Foi o que tentei argumentar.
No entanto, preferi deixar a quadra e voltar para a
piscina com os meus filhos. Quero que o Cauã e a Bella aprendam que no jogo da
vida existem regras a serem seguidas que nos ajudam a conviver. E que nem
sempre é possível ganhar. Especialmente neste momento de formação do caráter
das crianças, ensinar a respeitar regras e impor limites são alguns dos
instrumentos que nós, pais, dispomos para prepará-las a enfrentar o mundo e a
lidar com as frustrações ao longo da vida.
Além do mais, reclamamos tanto da realidade do
nosso país e do famoso “jeitinho brasileiro” que legitima a cultura daqueles
que burlam as regras para levar a melhor. Se queremos uma nova geração capaz de
mudar essa cultura, entendo que a única solução é educá-la de forma que não
perpetue as mesmas práticas. Como diz o filósofo e educador Mario Sergio
Cortella, “o mundo que vamos deixar para os nossos filhos depende muito dos
filhos que vamos deixar para esse mundo”.
Trazendo a discussão para o ambiente corporativo,
crianças que crescem sem conhecer limites e respeitar regras podem ter sérios
transtornos na sua vida profissional, que podem envolver problemas no
relacionamento com os colegas, dificuldades em receber feedbacks, em ser
liderados ou até mesmo em liderar. Só para citar alguns.
“Quem ama, educa.” E educar não é fácil, como eu
disse no início, podendo até ser doloroso às vezes. Mas uma boa educação, com
limites claros e estabelecidos, pode ajudar os filhos a adaptarem-se às regras
mais tarde na vida e é a maior prova de amor que nós podemos dar a eles.
Se você é pai ou mãe, compartilhe a sua opinião nos
comentários. Ficarei feliz em ouvi-los.
Braulio
Lalau de Carvalho - CEO da Orbitall, empresa do Grupo Stefanini
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