Debate promovido pela WILL reuniu CEOs para debater a importância
da diversidade de gênero no ambiente corporativo
A WILL (Women in Leadership in Latin America) –
organização sem fins lucrativos que tem como objetivo fomentar a liderança
feminina no mercado de trabalho - reuniu hoje, em São Paulo, 70 executivos
durante a primeira edição, "Mulheres na
Liderança: Práticas e Avanços". O debate foi moderado Cristiane
Amaral, sócia-líder de Talento da EY, e teve a participação, Silvia Fazio,
da presidente da WILL e sócia do escritório de advocacia Norton Fullbright,
André Araújo, CEO da Shell, Claudia Politanski, Vice
Presidente das áreas Juridico, Pessoas, Marketing e Relações
Institucionais Itaú, e Theo Von Der Loo, CEO da Bayer.
Além de trazerem à plateia - composta por
executivos de empresas dos mais variados setores - as experiências vividas em
suas empresas no que se refere à pratica da diversidade de gêneros, os
executivos, em alguns momentos, também relataram as suas vivências pessoais e,
embora, por vezes, tenham salientando pontos de vistas divergentes, todos eles
foram unânimes em afirmar que ainda há muito para ser feito neste campo. Até
mesmo o CEO da Shell, empresa que liderou o ranking da pesquisa sobre liderança
feminina (no setor químico e petroquímico) realizada no final de 2017 pela
WILL, disse que, embora se sentisse muito feliz pela posição de liderança,
sabia que muita coisa ainda precisa mudar de modo a promover a igualdade entre
os gêneros.
Presente no Brasil há 105 anos, segundo André, a
Shell iniciou este movimento em prol da diversidade cerca de 20 anos atrás. O
CEO informou que, apesar de todos os esforços, ainda há poucas mulheres em posições
de liderança na empresa, mas garantiu que estão lutando para mudar essa
realidade. E salientou a importância de encontros como esse para promover o
debate. “Sou CEO da empresa há cerca de seis anos e uma das minhas missões é
promover a diversidade de gêneros”, adiantou.
Já o CEO da Bayer e membro do board da WILL, Theo
Van de Loo, lembrou que são os momentos de crise que requerem mais atenção,
pois quando precisam ser feitos cortes, estes acabam sendo implementados nas
ações que seriam dirigidas aos programas de inclusão e diversidade, que acabam
ficando relegados a um segundo plano. “Neste ritmo, os resultados vão demorar
muito a aparecer”, desabafa. Segundo Theo, é igualmente importante que as
empresas participem de rankings e pesquisas como o da WILL, pois isso “ajuda a
convencer àqueles que ainda têm dúvidas sobre a importância do tema”. “Não se
trata de aderirmos a determinadas iniciativas, pesquisas ou grupos de discussão
apenas para sairmos bem na foto, quando são publicados os resultados, mas,
principalmente, por entendermos que a questão da diversidade é uma causa
justa”, finalizou.
O encontro possibilitou também a troca de vivências
entre os homens e as mulheres presentes. Cláudia Politanski, vice-presidente
executiva das áreas Jurídica e de Ouvidoria do Itaú, citou uma experiência
vivida, quando a sua promoção chegou junto de sua gravidez, no início dos anos
90: “Depois de um comentário do meu chefe, naquela ocasião, de que eu era a
primeira mulher ali a ter direito à licença maternidade, que acabara de ser
estendida para quatro meses e que ele queria saber como se daria ‘aquilo’, fiz
todos os esforços para que a minha gravidez não fosse notada, de modo a não dar
o que falar. Mas isso não é justo! A gravidez é um momento especial para a mulher
e não podemos permitir que se menospreze isso”, defendeu.
Na mesma linha, a advogada Silvia Fazio, presidente
da WILL e sócia do escritório de advocacia Norton Fullbright, disse ter vivido
experiência semelhante e que isso interferiu até na forma como ela se vestia,
durante a gestação: ”fazia de tudo para disfarçar, usava roupas que não
deixassem parecer que eu estava grávida”, informou.
“Os líderes precisam entender que esse
comportamento é absurdo, afinal, se as mulheres não tiverem filhos, não
nascerão as crianças, que serão futuros consumidores dos produtos e serviços
que essas empresas vendem”, provocou o CEO da Bayer, para quem, entre outras
vantagens, um ambiente em que prevalece a diversidade é também mais alegre.
Embora apenas 5% dos cargos de alto escalão na indústria farmacêutica sejam,
ainda, ocupados por homens, a Bayer tem em seus quadros 36% de mulheres, no
cômputo geral, e apenas 16% em cargos de alta liderança, mas ainda não registra
nenhum caso nos cargos de vice-presidentes.
Todos os executivos que participaram do debate
foram enfáticos ao frisar a necessidade de canais de denúncias que sejam
realmente confiáveis e que permitam que os casos de assédio ou discriminações
de quaisquer tipos sejam registrados, para que ações possam ser implementadas
no sentido de coibir práticas inaceitáveis. Outro ponto em comum entre eles é a
necessidade de que o tema seja exaustivamente discutido, inclusive entre os
homens. “Por conta disso, realizamos eventos em que reunimos alguns dos
executivos mais bem sucedidos dos mais variados setores para que discutam a
questão da necessidade de políticas que visem minimizar ou extinguir as
políticas e os pensamentos ultrapassados que relegam a mulher a um segundo
plano, como se fosse mercadoria de segunda. Hoje, já há pesquisas que mostram
que a diversidade e a igualdade de gêneros geram lucros para as empresas”,
explica a presidente da WILL. “Se ficarmos de braços cruzados, não iremos a
lugar algum. Lembrem-se de que os senhores também têm filhas e que elas poderão
ser submetidas a esse tratamento discriminatório e injusto”, conclui.
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