Já faz
algum tempo que o comportamento dos jovens no mercado de trabalho tem
despertado atenção. Segundo dados do Caged – Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados –, emitidos pelo Ministério do Trabalho, no primeiro semestre
deste ano 260,7 mil trabalhadores jovens entraram no mercado. Em julho o saldo
foi bem positivo, na marca de 68,3 mil. Entre
as ocupações, as principais são linha de produção, vendedor e trabalhador da
agricultura.
Os índices
demonstram um “fôlego” na atividade econômica do país e a geração de
oportunidades é um fator importante, pois demonstra o crescimento da
formalidade entre esse público, o que é fundamental para o desenvolvimento das
cidades. E quando o assunto é crescimento, construção e também perenidade vale
uma reflexão um tanto interessante sobre a questão do jovem no mundo do
trabalho.
Ao longo
dos últimos anos estamos cada vez mais interessados em conhecer melhor a cabeça
dos nossos jovens, por isso inúmeras pesquisas vêm sendo realizadas para tentar
entender a chamada geração dos Millenials, como se comportam, suas ideias sobre
a política e a economia, índices de conectividade e o que tanto fazem nas redes
sociais, aspirações sobre o modelo educacional, etc.
Se pararmos
para olhar a realidade das composições familiares, onde muitas vezes a
referência dos pais está completamente perdida, seja pela ausência deles, pela
negligência do papel na relação pai x filho ou pelo número de casais separados
cujos filhos convivem praticamente com duas casas, vemos que cada vez menos os
jovens têm tido espaço para discutir com seus pais sobre seus sonhos, suas
ambições, que caminhos percorrer para os colocar de pé. E isso não é um
privilégio de condição econômica, social ou geográfica, mas afeta a todos nos
mais diferentes níveis. Aliás, nós pais cometemos o equívoco de projetarmos em
nossos filhos o que eles devem ser, como conduzir suas próprias vidas, impondo
a eles sem antes pedirmos licença para conversar sobre o que querem fazer com
seu próprio futuro.
Atuando há
alguns anos em temas ligados à juventude e conversando com outras pessoas que
atuam neste campo, tenho percebido que as mais exitosas experiências que
capacitam os jovens para o mercado formal de trabalho ou para o
empreendedorismo são aquelas que inserem em sua metodologia a discussão e
construção de projetos de vida. São aquelas que trazem à tona conversas sobre o
que esperam individualmente para suas vidas. Se desejam um trabalho numa grande
empresa, talvez prestar um concurso público ou porque não empreender um
negócio.
Hoje tenho
a convicção de que é fundamental e urgente dialogarmos com os jovens sobre o
que querem para suas próprias vidas nos próximos anos, seja em casa nas
conversas de família, na escola ou em projetos sociais. Devemos seguir uma
premissa básica: deixá-los projetar aquilo que eles próprios querem para si,
cabendo a nós fazermos as provocações para estimular as reflexões, darmos as
ferramentas e condições para que exercitem uma das mais belas habilidades
humanas: sua capacidade de sonhar.
Um projeto
de vida é um plano que precisa ter uma rota. A rota, por mais sinuosa que se
apresente, ajuda a planejar as etapas profissionais, definir metas e escolher
projetos que valem investimento pessoal, psicológico, financeiro e educacional.
Se uma
jovem quer ser bailarina, que ótimo. Nosso papel enquanto pais, educadores, é
fazê-la pensar sobre que tipo de investimento precisará fazer em sua própria
formação, seja matriculando-se numa academia ou buscando um curso de dança numa
ONG. O fato dela buscar seu primeiro emprego num Call Center não tem demérito
algum, pelo contrário, que ali seja um lugar onde ela possa aprender valores
importantes para a sua vida artística e que tenha a consciência de deixar uma
porcentagem de seu pequeno salário reservada para a busca de seu sonho. É
provocá-la a pensar que a jornada não será fácil, principalmente num país como
o Brasil que ainda valoriza pouco uma profissão tão bela e digna como esta de
seu sonho.
Apoiar um
jovem na construção de seu projeto de vida, é fazê-lo pensar que ser
empreendedor não é algo mágico que ocorre da noite para o dia. Exigirá 10%
inspiração e 90% transpiração e não o contrário como é pregado por muitos gurus
por aí. E que empreender pode ser muito mais legal se for promovendo impacto
social, visto que nossos jovens estão cada vez mais preocupados com a redução
das desigualdades sociais e ambientais em nosso planeta, ou como prega a
Artemísia “entre ganhar dinheiro e mudar fique com os dois”.
Um bom
exemplo disso é o Coletivo Jovem, do Instituto Coca-Cola Brasil, que atua em
parcerias interessantes como a realizada recentemente com o Instituto Vedacit.
A parceria
abre potencialidade para o desenvolvimento local, nos bairros onde os jovens
vivem e convivem. Ao inspirar e empoderar um público de 16 a 25 anos por meio
da capacitação, valorização da autoestima e conexão com novas oportunidades de
geração de renda, traz além do conhecimento técnico a vivência em campo, quando
eles visitam pequenos comércios em suas comunidades colocando “óculos para
enxergar oportunidades”. Deste modo os jovens levam recomendações de melhorias
dos comércios locais, criando assim maneiras dos pequenos comerciantes
aumentarem as chances de prosperidade de seus negócios e porque não com isso
ampliar as oportunidades de geração de emprego e renda para a própria
comunidade, sem a necessidade de grandes deslocamentos, com isso tornamos as
nossas cidades mais sustentáveis.
Isso tudo
está de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, cuja a
meta é implantar os 17 objetivos em todos os países do mundo até
2030. Chamo a atenção para o oitavo objetivo, que é promover o crescimento econômico sustentado e inclusivo, emprego
pleno e produtivo e trabalho decente para todos.
Dentro
dessa meta existe ainda a questão da remuneração igual para trabalhos iguais e
do tempo de até dois anos para reduzir a proporção de jovens desempregados e na
informalidade. Para isso acontecer, além de acelerar as políticas
governamentais, as empresas privadas têm que fazer a sua parte, com iniciativas
que contribuam para o desenvolvimento sustentável.
Há muito a
fazer pela frente, mas precisamos começar por algum lugar. Cabe ao jovem
absorver as oportunidades que se apresentam durante a trajetória profissional,
mas nosso papel é fundamental para ajudá-lo na construção de um projeto de vida
bem-sucedido. Vamos planejar juntos para construir um futuro melhor?
Luís Fernando Guggenberger - Head de Sustentabilidade e do Instituto Vedacit.
Sua experiência profissional é marcada pela passagem em empresas renomadas como
Fundação Telefônica, Vivo, Fundação Gol de Letra entre outras.
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