Você já deu uma olhada nos nomes
listados nas pesquisas de intenção de voto para as futuras eleições
presidenciais? Pois é. Integram-nas alguns personagens da nossa cena política
que jamais convidaríamos para um jantar em família. Outros há aos quais ninguém
de bom senso confiaria a condução de uma microempresa familiar. Tudo indica,
porém, que a nação entregará a um deles seu destino quando chamada - mais uma
vez! - a escolher com base no inevitável e desesperado critério do mal menor.
Caveira de burro, fatalidade?
Qual
o perfil do presidente que desejaríamos ter? Honesto, competente, bem instruído
nos negócios de Estado. Ademais, animado por um talento de estadista que lhe
permitisse formular e sustentar soluções eficazes para nossas dificuldades
sociais e econômicas. Sem ser demagogo,
teria que estar dotado de excepcional capacidade de comunicação, pois lhe
caberia arregimentar a opinião pública num nível capaz de alcançar dezenas de
milhões de votos. Para viabilizar sua campanha em âmbito nacional, esse varão
de Plutarco precisaria arrecadar uma fortuna entre doadores interessados no bom
desempenho da frondosa árvore do poder e totalmente desapegados de sua
acolhedora sombra e saborosos frutos.
Chegado ao Planalto nos braços do povo
lhe caberia a indispensável tarefa política de compor sua sustentação
parlamentar, posto que com nosso pluripartidarismo ela nunca lhe adviria da
própria legenda. E mais uma vez, seu envolvente talento e bom programa
produziriam o sortilégio de implantar suas ideias em cabeças onde elas não
ocupavam qualquer espaço.
Há mais de um século, renunciamos à
superior racionalidade do parlamentarismo e começamos a procurar por esse
sujeito. E a fé em que o encontraremos resiste a golpes e rupturas
institucionais, suicídios e revoluções, num cortejo de débeis honestos,
poderosos safados, ditadores, demagogos, oportunistas, corretores da nação,
idealistas repetidores de péssimos chavões. Caveira de burro ou burrice do
sistema?
Se a concentração de poder no governante
e se a possibilidade de partidarizar o Estado e a administração pública são
causa relevantíssima de incompetência e corrupção, por que não separar essas
funções? Se é tão difícil conseguir apoio parlamentar para medidas inerentes a
um determinado plano de governo, por que não fazer dele o tema das campanhas
eleitorais, centrando na eleição parlamentar o maior interesse político? Se
seria tão apropriado dar a quem concede mandatos, ao eleitor, o poder de
cancelá-los em caso de mau desempenho, corrupção ou infidelidade aos
compromissos de campanha, por que não instituir o voto distrital com recall
(que só é exequível nesse tipo de eleição)?
O presidencialismo brasileiro, com tão
longa história de fracassos, se tornou um caso de fetiche. Nenhuma ideia na
cabeça de um presidente se concretiza se não estiver antes na cabeça da maioria
parlamentar. A importância da eleição do Congresso é uma obviedade que grita
nas páginas da História!
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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