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segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Obesidade infantil: como os pais devem lidar sem restringir?



Nutricionista e autora do livro O Peso das Dietas acredita que dietas radicais são prejudiciais e fazem as crianças engordarem mais


Para Sophie Deram, nutricionista com doutorado no departamento de endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e pesquisadora na área de obesidade infantil, a maioria dos programas de “combate” à obesidade infantil incentiva as crianças a “fechar a boca e malhar”, ou seja, é a responsabilidade da criança reduzir o que ela come e aumentar exercício físico com a ajuda dos adultos ao seu redor.

A noção de “combate” pressupõe que a criança obesa de alguma maneira tem uma responsabilidade na situação na qual se encontra. Existe uma estigmatização da criança obesa como sendo preguiçosa e sem nenhuma força de vontade ou disciplina.

Isso prejudica muito essas crianças que, na realidade, estão presas num corpo que se adaptou ao meio ambiente no qual vivem, sem saber o que fazer para mudar a situação. Isso pode até levá-las a sofrer bullying.


Fechar a boca e malhar não funciona
É claro que um mínimo de exercício físico é saudável, mas fazer dieta restritiva (fechar a boca) desregula o cérebro, aumenta o apetite, a obsessão por comer e o comer emocional. Também reduz o metabolismo. O cérebro, percebendo uma falta de comida, começa a “economizar”. Esses efeitos são ainda mais fortes em crianças que estão em desenvolvimento. Em vez de ajudar a criança com restrições, se estressa o cérebro dela, levando à tristeza, depressão ou mesmo comer escondido, uma das causas da obesidade infantil.

O comer escondido não é uma escolha dela, dá muita vergonha e isso é o começo de uma vida de compulsão e relação estragada com a comida, algo difícil de reverter. Então, basicamente, fazendo dieta a criança entra no caminho de engordar e/ou de desenvolver um transtorno alimentar.

Estudos mostram que adolescentes que fazem dietas aumentam em duas ou três vezes o risco de se tornar obesas quando comparados a outros que não fizeram restrições. Um estudo mostrou que dietas severas (diminuindo calorias ou pulando refeições) aumentam em 18 vezes o risco de desenvolver transtornos alimentares em adolescentes. Na população geral, 95% dos que fazem dieta voltam a engordar em um prazo de 2 anos, muitas vezes para um peso maior ainda. Dos 5% que não engordam, mais do que a metade (3%) têm um transtorno alimentar. Ou seja, é normal fracassar na dieta!


A obesidade infantil é evitável
Apenas alguns casos são geneticamente inevitáveis. A Organização Mundial da Saúde (OMS) é clara sobre isso: a obesidade é evitável, mas é difícil de tratar. Quando se estuda a genética da obesidade se vê que há mais do que 500 fatores genéticos associados à obesidade. Quem puxa o gatilho é o estilo de vida e também o estresse psicológico, medicamentos, desregulamento de hormônios, falta de sono e muito mais. Não é só comer demais e ser preguiçoso!

Tentativas de tratamento com dietas, remédios e cirurgia, não têm dado resultados satisfatórios e têm muitos efeitos secundários. O corpo volta a engordar na maioria das vezes. Por que? Porque a obesidade é uma adaptação do corpo ao seu meio ambiente e quanto mais se agride o corpo, mais ele reage engordando!

Hoje está cada vez mais claro e comprovado que se deve enfatizar uma abordagem chamada “mindful eating” ou alimentação consciente. É uma forma compassiva e holística para se conseguir uma alimentação saudável. É preciso respeitar a fome e prestar atenção à saciedade, conexões emocionais com a comida e os relacionamentos envolvidos em comer.




Sobre a autora:
Sophie Deram é nutricionista francesa e brasileira naturalizada, com doutorado em pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) no departamento da Endocrinologia. Formou-se originalmente engenheira agrônoma na França e então estudou nutrição, primeiro na França e depois no Brasil. Concentrou suas pesquisas em obesidade infantil, nutrigenômica, transtornos alimentares e neurociência do comportamento alimentar. É também pesquisadora no Ambulatório do Programa de Transtornos Alimentares (AMBULIM) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. É coordenadora do projeto de genética e do banco de DNA dos pacientes com transtorno alimentar no AMBULIM. Como especialista em comportamento alimentar, estilo de vida saudável e perda de peso, Sophie é ativista contra as dietas restritivas e inspira incontáveis indivíduos, no consultório e nas mídias sociais, a viver uma vida mais feliz e a transformar sua relação com os alimentos, mudando seu mundo familiar, e fazendo as pazes com seu corpo e os alimentos. Ela acredita no prazer de comer e no poder dos alimentos verdadeiros para resgatar a saúde e chegar ao peso saudável.




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