Anticorpo Monoclonal,
Terapias Antiamiloides, Medicação Contra TAU, Memantina e Inibidores De Acetilcolinesterase,
funcionam? Já há uma luz no fim do túnel?
Estes são os 4
medicamentos aprovados no exterior e no Brasil para uso na doença de Alzheimer.
A base do tratamento é a
seguinte: como, na Doença de Alzheimer, os neurônios que vão se degenerando e
causando os sintomas de doença são neurônios colinérgicos (ou seja, que usam
acetilcolina para fazer a transmissão das mensagens entre um e outro), os
anticolinesterásicos facilitam a transmissão das mensagens entre os neurônios
colinérgicos, pois são remédios que diminuem a destruição normal da
acetilcolina no espaço entre 2 neurônios (já que há menos neurônios, ela tenta
contrabalançar a falta de transmissão colinérgica aumentando a disponibilidade
de acetilcolina).
Isto no início funciona
razoavelmente bem (de fato, foram os primeiros medicamentos no mundo a ter
benefício no Alzheimer), mas hoje já está mais do que provado que eles não
exercem efeito "modificador de doença) - ou seja, tudo aquilo que está
acontecendo com o cérebro de quem tem Alzheimer vai acontecer do mesmo jeito,
mas eu consigo uma melhora sintomática enquanto a doença está no começo. O
aumento de sobrevida e a lentificação na evolução da Doença, observáveis com
estes medicamentos, são considerados efeitos SINTOMÁTICOS.
Com a evolução da doença,
o que os estudos mostraram é que os anticolinesterásicos (rivastigmina,
donepezila e a galantamina) já não promovem nenhuma melhoria para o paciente, o
que nos deixava sem nenhuma opção de, melhora para casos avançados (eles já vão
perdendo efeito na fase moderada e não tem nenhum efeito em fase avançada)
Esta perda de efeito dos
anticolinesterásicos já está bem explicada: simplesmente faltam neurônios
colinérgicos em quantidade suficiente para que estes medicamentos façam
qualquer efeito clínico.
Por um lado, a massa de
neurônios colinérigicos no Alzheimer avançado está muito danificada; por outro
lado, a massa de neurônios glutamatérgicos (que usam glutamato como
neurotransmissor e que são o sistema de oposição - na neurologia há muitos
sistemas que se opõem normalmente, para que haja um equilíbrio entre os
diferentes sistemas) resulta na situação (Alzheimer avançado) em que a
quantidade de neurônios glutamatérgicos (que é normal) é desproporciionalmente
simplesmente demais para que a transmissão colinérgica (doente no alzheimer)
consiga ocorrer, mesmo com os anticolinesterásicos. A memantina, que é um
inibidor de glutamato, surgiu para promover um re-equilíbrio entre estes 2
sistemas - ou seja, ela piora o sistema que se opõe ao sistema danificado pelo
Alzheimer - o que dá uma certa melhora SINTOMÁTICA em quadro de moderados a
avançados.
Basicamente ela age como uma
continuidade do tratamento sintomático que os anticolinesterásicos oferecem em
inicio e meio de doença.
Daqui a pouquinho escrevo
sobre os outros mencionados, mas já adianto que não há nenhum para uso clínico
imediato (agora, já)!
Esses medicamentos são
divisores de água, pois os quatro que existem até hoje são meramente
sintomáticos e o que se está buscando com os medicamentos anti-TAU,
anti-amiloidogênicos e anticorpos é finalemnte tentar interferir no curso /
mecanismo da doença.
Dentre estes 3 tipos,
embora qualquer um pudesse ou possa vir a funcionar no futuro (existe nexo
biológico para isto) os medicamentos que tem tido melhores resultados
experimentais são os medicamentos anti-amiloidogênicos!!!
O que ocorre: já se sabe
que todos nós temos uma proteína da membrana do neurônio que se chama proteína
precursora do amilóide.
Quando esta proteína vai
ser degradada / reciclada, ela precisa ser cortada em pedaços menores e
retirada da membrana do neurônio.
Todos nós possuímos as
seguintes 3 enzimas: alfa- , beta- e gama-secretase.
Quando a proteína
precursora do amiloide (APP) é cortada pela beta-secretase, ela vai ser
degradada na chamada via amiloidogênica, criando fragmentos proteicos que
espontaneamente se agregam em volta dos neurônios, explicando grande parte do
mecanismo da doença que se segue.
Se ela é cortada pelas
outras, tudo vai bem (assim, temos a via amiloidogenica e a via não
amiloidogenica).
Diferentes fatores, claro,
até genéticos, influenciam tanto se eu vou degradar mais ou menos a APP pela
via amiloidogênica (e também se eu vou conseguir limpar a que foi degradada por
ela antes de se agregar), mas... todos nós temos todas estas enzimas....
No entanto, de tudo o que
se pesquisou até hoje, temos 2 drogas que fazem a mesma coisa (2 drogas de
laboratórios diferentes): elas inibem enzima beta-secretase, obrigando a
degradação prosseguir pela via não amiloidogenica.
Se eu não gero o
beta-amiloide, ele não se agregará, em teoria!
Estas 2 medicações estão
evoluindo: ambas já mostraram bons resultados em modelos de alzheimer em
camundongos e já estão em testes humanos.
Uma delas está em fase 1
(teste de farmacologia em humanos) e a outra está em fase 3! (que é a última
fase antes de a droga ser liberada para venda!). Ou seja, a droga mostrou
resultado em camundongos, não é tóxica nem neles nem em animais de maior porte,
não é tóxica em humanos e agora se está vendo se ela vai ter resultado benéfico
também em humanos (fase 3). Isto ocorrendo (e estamos torcendo!). teremos em
pouquíssimos anos a primeira droga a interferir no mecanismo da Doença de
Alzheimer!
A cura do Alzheimer?
Após décadas de pesquisas
sobre o Mal de Alzheimer que não tiveram resultados persistentes, incluindo 123
drogas que fracassaram no tratamento da doença, os principais pesquisadores da
área disseram agora estar mais confiantes sobre a chegada de um tratamento
efetivo.
O otimismo tem se
espalhado antes da Conferência Internacional da Associação de Alzheimer (CIAA),
que começa neste sábado em Washington, nos Estados Unidos. Novas drogas
experimentais se mostraram promissoras em reduzir a progressão da doença que
afeta o cérebro, atraindo a atenção de investidores e pacientes.
Os medicamentos estão nas
fases iniciais de desenvolvimento e podem vir a ser ineficazes, assim como
substâncias anteriores. Mas os pesquisadores da área adquiriram um vasto
conhecimento sobre as transformações do cérebro afetado pelo Alzheimer, e
possuem um entendimento melhor sobre como e quando intervir com remédios.
Mulheres e o Alzheimer
A questão da Doença de
Alzheimer e as mulheres é muito interessante: por um lado, há muitos anos em
que as mulheres são maioria entre os casos de D. de Alzheimer, mas isto vinha
sendo interpretado como um reflexo simples dos fatos de que:
- A Doença de Alzheimer
aumenta com o aumento etário (quanto mais velha uma população, mais Alzheimer)
- As mulheres sobrevivem
mais, portanto, quanto mais uma população envelhece, maior é o percentual de
mulheres em uma população.
No entanto, com o
envelhecimento da população e aumento da % de mulheres sobre homens, o que se
observou foi um aumento desproporcionalmente maior na D. Alzheimer em mulheres.
Atualmente, estima-se que 2/3 (dois terços) de todos os casos de Alzheimer no
mundo ocorram entre mulheres - e isto deverá aumentar à medida que as
populações continuem a envelhecer.
O estudo: Clinical
epidemiology of Alzheimer’s disease, mostra o quanto as mulheres estão
desproporcionalmente afetadas pelo Alzheimer. “Elas tem, já descontados os
efeitos de idade, acesso a educação, etc, muito maior probabilidade de
desenvolver Alzheimer do que os homens. Além de pacientes, pelo próprio papel
imposto socialmente à mulher, as mulheres também tem muito maior probabilidade
de SE TORNAREM CUIDADORAS de pacientes com Alzheimer, um trabalho
emocionalmente e fisicamente desgastante (tanto que é sabido que cuidadores de
pacientes com Alzheimer tem maior probabilidade de desenvolver depressão e até
morrer do que quem não é!!)”, constata, Thiago Mona, médico geriatra
especializado.
Outro estudo, também do
ano passado o X chromosome aneuploidy in the Alzheimer’s disease brain, mostra
que diferenças genéticas, mais precisamente justamente no cromossomo X, podem
explicar uma maior suscetibilidade bioquímica das mulheres à agressão da doença
de alzheimer.
Novo estudos mostram um
possível substrato para o que estamos vendo nas populações humanas: o que eles
fizeram foi usar um modelo de camundongos "com Alzheimer" modelo
animal da doença, estes camundongos desenvolvem em seus cérebros as mesmas
alterações - o que aconteceu foi que mostraram maior acúmulo da proteína
beta-amiloide (marca registrada do alzheimer) em cérebros de camundongos femeas
do que dos machos. Ou seja, de fato parece que algo biológico está ocorrendo e
precisamos ficar alertas!
Cresce o número de
mulheres com Alzheimer
Mulheres ansiosas,
ciumentas ou mal-humoradas na meia idade correm mais risco de desenvolver
Alzheimer no futuro do que aquelas sem essas características.
A conclusão é de um estudo
que durou 40 anos. Mulheres na meia idade ciumentas, ansiosas e mal-humoradas
podem ter até duas vezes mais risco de desenvolver Alzheimer.
Por 38 anos, os cientistas
acompanharam 800 mulheres de, em média, 46 anos. Eles analisaram a
personalidade das voluntárias por meio de testes de introversão, extroversão e
memória. Ao longo do estudo, dezenove participantes desenvolveram demência.
Os pesquisadores
perguntaram às voluntárias se elas haviam tido períodos de stress com mais de
um mês de duração. Stress refere-se a sentimentos de irritabilidade, tensão,
nervosismo, medo, ansiedade e distúrbios de sono. As respostas foram avaliadas
de zero a cinco, sendo zero nenhum episódio e cinco stress constante nos
últimos cinco anos.
Mulheres que se
enquadraram nas categorias três a cinco foram consideradas estressadas. De
acordo com os cientistas, mulheres que eram ao mesmo tempo introvertidas e
estressadas eram aquelas com maior probabilidade de desenvolver Alzheimer. Das
63 participantes com essas características, dezesseis (25%), tiveram Alzheimer,
diante de oito das 63 (13%) que eram extrovertidas e calmas, uma incidência 2x
maior que as não estressadas. Respire fundo e muito calma!
De acordo com a OMS
(Organização Mundial de Saúde), a doença de alzheimer afete atualmente entre 24
e 37 milhões de pessoas. Esse número está crescendo a cada ano e, segundo estimativas da organização, pode
chegar a 115 milhões de pessoas até 2050.
O alzheimer não tem cura,
nem pode ser revertido. Mas existem remédios que reduzem a velocidade da sua
progressão. Existem dois tipos de medicamento para tratar o problema, que podem
ser usados juntos ou separados: os anticolinesterásicos, que repõem
acetilcolina (mediador químico cerebral da memória e aprendizagem) e os
antiglutamatérgicos (que diminuem a sobrecarga de cálcio, reduzindo a morte dos
neurônios.
Thiago Monaco - geriatra,
Professor Doutor da Disciplina de Geriatria da Faculdade de Medicina da
UniNove.
(11) 5051-5572
Al. dos Jurupis, 452, cj
64, Moema, São Paulo - SP
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