Estudo comprova pela primeira vez a relação
entre o vírus e o aumento dos casos de microcefalia no país
Segundo estimativa divulgada
no último dia 28 de janeiro pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS),
braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas, entre três e quatro
milhões de pessoas devem contrair o Zika vírus, conhecido no mundo científico
pela sigla ZIKV, em 2016 no continente americano. Desses, 1,5 milhão de
casos devem ser registrados no Brasil, onde as autoridades de saúde já
investigam a relação do Zika com o aumento da ocorrência de microcefalia,
anomalia que implica na redução da circunferência craniana do bebê, entre
outras complicações.
Apesar de sua primeira aparição registrada em seres
humanos ter sido em 1954, na Nigéria, e de alguns casos registrados entre os
anos de 2007 e 2013 na Oceania e na França, respectivamente, no Brasil, a
doença teve início no ano passado e desde então causado pânico em toda a
população, principalmente entre as mulheres, já que a contaminação no período
de gravidez pode causar a microcefalia.
Até o momento, o Ministério da
Saúde confirma 270 casos de bebês que nasceram com microcefalia por infecções
congênitas, que podem ou não terem sido causadas por algum agente infeccioso
como o vírus Zika, e 49 mortes. Outros 3.448 casos suspeitos de microcefalia no
país permanecem sob investigação.
O aumento da rara condição neurológica associada à
infecção pelo ZIKV motivou uma pesquisa realizada pelo Instituto Carlos Chagas,
da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Paraná em conjunto com a PUC-PR. O estudo
confirmou pela primeira vez a capacidade do vírus de atravessar a placenta
durante a gestação, fato que foi constatado pela patologista pediátrica
associada da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) e professora de Medicina
da PUC-PR, Lúcia de Noronha.
“Essa pesquisa teve início quando a Fiocruz começou a
receber amostras de abortos causados pela infecção do ZIKV e eu fui convidada
para fazer a análise anatomopatológica das amostras na tentativa de identificar
o vírus”, conta.
Lúcia explica que foi possível identificar a presença de
placentite, um tipo de inflamação na placenta, em uma das amostras estudadas.
“A análise feita a partir da amostra de uma paciente que sofreu aborto no
Nordeste, mostra claramente que o vírus rompeu a barreira da placenta”, explica
a patologista, confirmando a suspeita inicial.
Ela conta que o estudo representa um grande passo no
combate à epidemia, já que mostra a potência do vírus. “É só conhecendo o vírus
que poderemos combatê-lo. Com o estudo descobrimos que o ZIKV é capaz de afetar
os bebês através da placenta, isto é, estamos compreendendo a fisiopatologia da
doença, mas ainda temos muito o que aprender sobre esse vírus”, ressalta.
A investigação dos mecanismos de infecção do ZIKV
continua agora com uma pesquisa nos fetos que foram abortados por conta da
transmissão. A vacina contra a doença está em fase experimental e só deve ficar
pronta em três a cinco anos. Por isso, a população precisa tomar providências
contra o agente causador da doença. Eliminar focos de água parada, evitar
viagens para os lugares com maior incidência do mosquito (Pernambuco, Paraíba e
Bahia), usar repelente e roupas que cubram melhor o corpo, são alguns dos
cuidados essenciais contra a propagação do mosquito e consequentemente, da
microcefalia.
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