Estruturação de políticas públicas e ações coordenadas são urgentes para garantir a preservação de florestas e áreas verdes
● Pessoas dependem diretamente das florestas para
obter abrigo, alimentos, medicamentos, energia e renda, afirma especialista
● Brasil tem
12% das florestas do mundo e é o país que mais perdeu área florestal na última
década
O
Brasil é o país que mais perdeu área de floresta na última década, com 1,5
milhão de hectares perdidos a cada ano, nos últimos 10 anos. Foto: Pixabay
Projetos
de plantio e restauração, florestas em regiões urbanizadas, parques e
corredores verdes preservam a vida de espécies, reduzem ilhas de calor,
contribuem com a captação de água, minimizam impactos de enchentes, melhoram a
qualidade do ar, diminuem ruídos, proporcionam serviços ecossistêmicos e ainda
favorecem atividades ligadas ao lazer, bem-estar e qualidade de vida para a
população. Esses são importantes exemplos de ações e os consequentes impactos
positivos oferecidos pela natureza que valem ser lembrados neste Dia
Internacional das Florestas (21/3).
“As
florestas abrigam cerca de 80% da biodiversidade terrestre mundial, o que já
deveria ser o suficiente para que fossem mais protegidas. Mas o papel que elas
têm na saúde e no bem-estar humano reforçam ainda mais a necessidade de
políticas públicas para garantir a sobrevivência desses ambientes. Bilhões de
pessoas dependem diretamente das florestas para obter abrigo, alimentos,
medicamentos, energia e renda”, diz a pesquisadora Teresa Magro, membro da Rede de
Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e professora associada do
Departamento de Ciências Florestais da Universidade de São Paulo (USP).
O
Dia Internacional das Florestas foi instituído pela Organização das Nações
Unidas (ONU), em 1971, para conscientizar a população sobre a importância das
florestas para a vida no planeta. Cobrindo praticamente um terço da superfície
terrestre, as florestas fornecem serviços essenciais, como a produção de
alimentos, regulação do clima e proteção do solo e dos recursos hídricos.
De
acordo com o Relatório de Avaliação Global dos Recursos Florestais de 2020 da
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 12% das
florestas do mundo estão no Brasil, totalizando 497 hectares de área florestal.
Entretanto, o mesmo relatório aponta que o Brasil é o país que mais perdeu área
de floresta na última década, com 1,5 milhão de hectares perdidos a cada ano,
nos últimos 10 anos. O mundo, todos os anos, perde 10 milhões de hectares, o
que faz com que de 12% a 20% de emissões globais de dióxido de carbono (CO2)
deixem de ser absorvidas pela floresta e sejam lançadas diretamente na atmosfera.
Para
Cecília Herzog, também membro da RECN, professora e
pesquisadora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), a importância das florestas
pode ser considerada por diferentes ângulos, desde o nível macro, por sua
relação direta com as mudanças climáticas, até no aspecto regional ou local,
observado na saúde e qualidade de vida da população nos centros urbanos. “As
florestas nos fornecem serviços ecossistêmicos de valor inestimável. Desde a
regulação do clima e das chuvas necessárias para garantir as atividades
econômicas diversas, como a agricultura, passando pelo fornecimento de água e
energia, até a sensação de bem-estar que a natureza proporciona, mesmo por meio
de ilhas verdes nas selvas de pedras”, ressalta a pesquisadora.
As
florestas têm no desmatamento a sua maior ameaça. De acordo com dados do
Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, elaborado pelo projeto MapBiomas,
13,8 mil quilômetros quadrados foram desmatados no País em 2020, 99% de forma
ilegal, um crescimento de 14% em comparação com 2019. Segundo o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o desmatamento no Cerrado aumentou
7,9%, entre agosto de 2020 e julho de 2021, alcançando a marca de 8.531
quilômetros quadrados perdidos, o maior desde 2015. O desmatamento na Amazônia,
em 2021, foi o pior em 10 anos, de acordo com o Instituto do Homem e Meio
Ambiente da Amazônia (Imazon). Os dados apontam que mais de 10 mil quilômetros
de mata nativa foram destruídos no ano passado — um crescimento de 29% em
relação a 2020.
Cada
árvore conta
Entre as medidas de proteção de áreas florestais está a criação de Unidades de Conservação, que podem ser públicas ou privadas. Além de proteger a biodiversidade local, as unidades têm potencial de contribuir com o desenvolvimento regional. A Fundação Grupo Boticário, por exemplo, mantém duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN): a Reserva Natural Serra do Tombador, em Cavalcante, no Cerrado goiano; e a Reserva Natural Salto Morato, no município paranaense de Guaraqueçaba, no coração da Grande Reserva Mata Atlântica. Enquanto a primeira tem concentrado esforços nas ações de conservação e pesquisas científicas, especialmente em relação à ecologia do fogo, a segunda tem investido amplamente em ações recreativas e educativas, sendo aberta à visitação e vivência com a natureza. Juntas, elas preservam mais de 11 mil hectares de vegetação nativa.
A manutenção de
áreas como essas traz uma série de benefícios para toda a sociedade,
especialmente por meio de serviços ecossistêmicos fornecidos pela natureza,
como a proteção a nascentes, garantindo a qualidade de recursos hídricos,
sequestro de carbono e proteção de espécies raras e ameaçadas. Outros
benefícios fundamentais são a geração de ICMS Ecológico para os municípios onde
as reservas estão localizadas, o conhecimento científico gerado a partir de
diversas pesquisas de campo e o desenvolvimento socioeconômico do entorno,
especialmente por meio de atividades de turismo ecológico.
Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) www.fundacaogrupoboticario.org.br
Fundação Grupo Boticário
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