Quando o assunto é organização financeira, nosso povo sofre de uma grave inversão de valores. O que acontece é que a maioria dos brasileiros tem o hábito de gastar primeiro para só depois gerar renda para honrar as dívidas assumidas. Não faço julgamentos, pois esta é uma condição que afeta milhões em todo o país, justamente pela falta de orientações sobre como lidar com dinheiro.
Ensinamentos sobre finanças deveriam ser incluídos
nos planos de educação desde os primeiros anos de idade. Isso porque o
comportamento de gastar mais do que se ganha tornou-se praticamente cultural.
Precisamos fazer um movimento para modificar esse traço que carregamos por
gerações e evitar que ele seja passado adiante para nossos descendentes.
É um processo trabalhoso e extremamente necessário.
Mas como quem já está endividado neste momento pode cuidar do próprio orçamento
e finalmente quitar os débitos? Bom, a primeira etapa é entender qual o
montante devido e classificar os gastos entre dívidas boas e ruins. Aí você me
pergunta: e lá existe dívida boa?
A dívida boa ou inteligente é aquela feita com
planejamento, quando você se organiza para realizar um gasto e sabe como poderá
quitá-lo. É a compra de um imóvel financiado com parcelas menores do que o
aluguel. Outro exemplo é fazer um empréstimo para montar um negócio que você
sabe exatamente quanto fatura, viabilizando assim o pagamento do valor
emprestado.
Já a dívida ruim é aquela que você faz sem pensar
nas consequências. Além de tirar dinheiro do seu bolso, ela geralmente cresce
como uma bola de neve por conta dos juros. Um exemplo é pagar apenas o valor
mínimo do cartão de crédito ou aquele empréstimo com taxas abusivas ignoradas
ou mal negociadas.
Sabendo destas classificações, você diria que tem
mais dívidas boas ou ruins? Se o seu caso pender mais para os débitos ruins,
você precisa anotar tudo no papel, no caderno ou em uma planilha com as suas
demais despesas. Ao visualizar estes valores, você se situa e percebe a sua
real situação financeira.
Para eliminar as dívidas, priorize pagar aquela com
os juros mais altos. Se possível, troque uma dívida por outra com taxas
menores, como trocar o cartão de crédito por CDC. Não tenha pressa, liquide
primeiro uma dívida e depois outra. Tenha em mente que este processo pode levar
até alguns anos.
Você deve direcionar seu olhar para as dívidas com
as maiores taxas de juros. Não foque apenas no montante total. Isso porque os
juros podem aumentar o valor que inicialmente parece pequeno. Aqui não sugiro
nada muito radical, mas, se for necessário, cancele seus cartões de crédito até
aprender a se controlar. É melhor evitar as tentações financeiras.
O pagamento das suas dívidas é um dos pilares para
criar um plano sólido para alcançar sua liberdade financeira. Você pode começar
hoje, mudando de mentalidade e priorizando investir em primeiro lugar. Assim
você terá a oportunidade de criar um futuro digno e não precisará trabalhar
durante toda a velhice por necessidade, apenas por prazer se assim desejar.
Adélia Glycerio - advogada, educadora
financeira e autora do livro “Independência Financeira: 7 Princípios para Você
Alcançar Seus Sonhos”.
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