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quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Nova era digital não deve extinguir profissões por completo


Avaliação é do economista alemão Joachim Möller, do Instituto Alemão de

Pesquisa de Mercado de Trabalho e Profissões. Ele falará sobre este assunto durante o 7º Diálogo Brasil-Alemanha de Ciência, Pesquisa e Inovação ao lado do economista brasileiro Naercio Menezes Filho, da FEA/USP.


Com grande repercussão na mídia, a evolução da era digital espalhou também um medo no mercado de trabalho: a tecnologia levaria a ondas de demissão em massa por conta da substituição da mão de obra humana. Um receio que, para Joachim Möller, diretor do Instituto Alemão de Pesquisa de Mercado de Trabalho e Profissões (IAB, na sigla em alemão), não deve ser alimentado Möller será um dos conferencistas do 7º Diálogo Brasil-Alemanha de Ciência, Pesquisa e Inovação, que acontece em São Paulo, na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), nos dias 30 e 31 de outubro. Ele participará de um painel que mostrará as diferentes perspectivas de emprego ao lado do economista Naercio Menezes Filho, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP). Organizado pelo Centro Alemão de Ciência e Inovação São Paulo (DWIH São Paulo) e pela FAPESP, o tema do evento será trabalho e formação profissional no mundo digital.

“É claro que nunca podemos ter certeza absoluta se o salto tecnológico atual é semelhante ao do passado”, pondera Möller. “Apesar da digitalização, o mercado de trabalho atual tem maior probabilidade de sofrer com a escassez de força de trabalho”, contradiz o temor recorrente.

Para fundamentar sua análise, Möller olha para o passado. A Revolução Industrial do século 18 e a chegada da linha de produção, um pouco mais tarde, trouxeram um ganho considerável de eficiência. Naquela época, foram os trabalhadores especializados que perderam lugar para as máquinas.

Quase dois séculos depois, a informatização dos processos de trabalho, a tecnologia da informação, as máquinas programáveis e outras tecnologias de automação trouxeram – novamente – trabalhadores qualificados para o centro. “Profissionais altamente qualificados se tornaram um catalisador de certas formas de progresso técnico que exigem maior uso de trabalho de alta qualidade”, comenta Möller.

Segundo o pesquisador, as experiências passadas deixaram pelo menos três lições importantes. A primeira delas é que não existe desemprego secular em massa como resultado do processo tecnológico. “Sempre há vencedores e perdedores – empregados com diferentes qualificações, de diferentes profissões, empresas, regiões e setores”, cita a segunda lição. “Os processos de ajuste são normalmente dolorosos e onerosos para as pessoas e organizações envolvidas”, adiciona a terceira.


          
Processo de adaptação – Na visão de Möller, os empregos simplesmente não desaparecem, mas as atividades do trabalho mudam. O caso do limpador de chaminés é um exemplo: antigamente, esse profissional tinha apenas a função de retirar o que impedisse a saída da fumaça. Atualmente, esse trabalho ficou mais técnico, de caráter ambiental, que mede nível de emissões, faz controle de segurança, dá informação sobre uso mais eficiente de energia.

 “Quando a atividade principal em uma profissão se torna obsoleta devido a mudanças nas tecnologias ou outras razões, o perfil se adapta aos novos requisitos. Apenas em casos raros as ocupações desaparecem completamente”, afirma Möller. É por isso que a cooperação e parceria social são importantes. No caso da Alemanha, a flexibilidade interna em organizações – como a capacidade de alterar horários de trabalho – é apontada como vantagem.

“Em relação a essa flexibilidade, pode-se dizer que muitas empresas alemãs estão bem preparadas para a era digital. Por outro lado, se essa nova era tiver processos disruptivos como, por exemplo, a rápida ascensão e queda de empresas, o sistema vai mostrar suas fraquezas, onde a flexibilidade nas empresas é menor”, comenta o diretor do IAB.

Resta saber se o sistema de educação em diferentes países, da forma como está organizado atualmente, está pronto para acompanhar os desafios. Para Möller, a formação dual, que inclui a aprendizagem dentro de uma empresa em combinação com conhecimentos teóricos numa instituição de ensino, em geral, se mostra mais vantajosa. “Nesse contexto, o sistema dual é bem-sucedido e deveria ser reforçado, modernizado nas áreas que houver necessidade, e não deve ser de nenhuma forma enfraquecido”, opina.

            Perspectiva no Brasil – Já Naercio Menezes Filho, da FEA/USP, vai apresentar no evento evidências de outros países, como os EUA, para discutir o caso brasileiro. “Nos EUA a introdução dos robôs vem substituindo os trabalhadores, inclusive aqueles que se dedicam a atividades mais elaboradas. A fase de substituição de trabalhadores menos qualificados já está acabando. Agora, os robôs são mais sofisticados, trabalham em rede e estão substituindo, por exemplo, médicos, em tarefas como a avaliação de exames.”

Para Menezes Filho, resta saber se os robôs conseguirão ser ‘criativos’. Além disso, é preciso pensar em que medida o ser humano deve investir mais em habilidades sócio emocionais, nas quais pode ser que os robôs não consigam lograr tanto êxito.

O economista acredita que no Brasil os efeitos da substituição dos trabalhadores por robôs devam ser menores do que em outros países. “Aqui há muitas barreiras à entrada de tecnologia, nós investimos pouco em P&D, a produtividade do trabalhador brasileiro está estagnada há vinte anos. Os efeitos vão ser menores porque o Brasil está ficando para trás, não há dinamismo aqui. Tanto o crescimento econômico quanto a renda do brasileiro estão muito abaixo do que deveriam estar. Além do mais, aqui a substituição dos trabalhadores por robôs terá de enfrentar as associações de classe e os movimentos corporativistas.”

Em sua avaliação, quem ganhará com a substituição serão as grandes empresas de tecnologia e aqueles responsáveis por programar os robôs. E que é preciso pensar em que as pessoas empregarão seu tempo. 





 

Serviço: O 7º Diálogo Brasil-Alemanha de Ciência, Pesquisa e Inovação será realizado no auditório da FAPESP localizado em sua sede, em São Paulo (R. Pio XI, 1500 - Alto da Lapa) no dia 30 de outubro das 14h30 às 17h e no dia 31 de outubro das 8h30 às 17h. Veja neste link (https://bit.ly/2x8iq92) a programação preliminar. Inscrições neste link: http://bit.ly/2P8UdK8
 

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