Nos
últimos tempos, falar em inovação tornou-se quase obrigatório para o mundo
corporativo. Inovar passou a ser fundamental em praticamente todos os segmentos
do mercado. Com isso, assistimos o emergir da cultura da inovação e atribuímos
ao substantivo uma visão extremamente positivista. Inovar virou sinônimo de
“mudança para o sucesso”.
Mas
seria assim tão simples e definitivo? Um olhar mais atento logo percebe algumas
controvérsias. O conceito de inovação está baseado no desenvolvimento de novos
bens, na implantação de diferentes métodos de produção e em novas formas de
organização, fatos que refletem o comportamento atual da sociedade.
A
edição especial de cinquenta anos da revista Exame, publicada em agosto de
2017, apresentou uma série de reportagens sobre as recentes mudanças no
comportamento da sociedade. Seja em questões econômicas e políticas ou acerca
dos padrões de produção e sobre as diferentes formas de se fazer negócios no
Brasil e no mundo, as reportagens evidenciam que estamos em uma importante fase
de mudança e de profundas transformações.
Para
os mais céticos, a redução de empregos frente à outras soluções tecnológicas, o
consequente aumento da desigualdade social e a mudança o ritmo de crescimento
das grandes economias são pontos preocupantes desse processo. Há ainda o
ressurgimento de movimentos radicais e o nacionalismo exacerbado que vão de
encontro à ideia de um mundo integrado, resultando no fechamento de fronteiras
e na indiferença para as dificuldades de nações subdesenvolvidas.
Para
os que enxergam a partir dessa perspectiva, a inovação pode ser uma grande
vilã. No entanto, o outro lado desse cenário pode ser muito mais promissor. Em
destaque estão a aplicação da inovação em pesquisas científicas para a cura de
doenças crônicas, no desenvolvimento de novos materiais e no investimento em
energias limpas e renováveis. Assistimos também grandes transformações no campo
educacional com o incentivo à adoção de novas tecnologias da educação; a
capacitação das pessoas para um novo cenário econômico; e, até mesmo, o
surgimento de novas profissões como alternativa para o mercado. Cabe a nós
encontrarmos o equilíbrio entre esses extremos e clarificarmos nossos
objetivos.
Assim
como afirma Ricardo Voltolini em seu livro Sustentabilidade Como Fonte de
Inovação, para obter bons resultados, é preciso saber porque inovar, em que
inovar, como inovar, com quem inovar, que tempo dedicar à inovação e até onde
devem ir. Com foco nesses resultados, a ONU estabeleceu uma Agenda Global para
o Desenvolvimento Sustentável que determina 17 Objetivos desdobrados em 165
metas interdependentes e interconectadas que orientam a sociedade na construção
de um mundo economicamente viável, ambientalmente correto e socialmente mais
justo até 2030.
Enquanto
a inovação avança em criações de alta complexidade, a chamada Agenda 2030 busca
soluções para questões que afetam a vida das pessoas e do planeta. Assim, para
encontrar o equilíbrio entre esses interesses, é fundamental que os líderes
globalmente responsáveis atuem de forma integrada para incentivar e estabelecer
iniciativas que possam aproximar a inovação e a sustentabilidade. Nesse
contexto, cabe às instituições de ensino e escolas de negócios a
responsabilidade de promover a educação executiva responsável no intuito de
desenvolver habilidades técnicas e de estratégias de gestão associadas a
valores como a ética e o desenvolvimento sustentável.
É
preciso formar profissionais dotados de uma visão mais global de suas ações,
que assumam papeis de protagonistas e responsáveis pela transformação que o
mundo tanto precisa para se tornar um lugar mais justo e sustentável. Somente
dessa forma será possível concentrar toda a capacidade de pesquisa e
desenvolvimento da humanidade em seu próprio benefício.
Norman de Paula Arruda Filho - Presidente
do ISAE – Escola de Negócios, conveniado à Fundação Getulio Vargas, professor
do Mestrado em Governança e Sustentabilidade do
ISAE/FGV, e Coordenador do Comitê de Sustentabilidade Empresarial
da Associação Comercial do Paraná (ACP).
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