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terça-feira, 22 de março de 2016
O neurocientista Francinaldo Gomes esclarece algumas dúvidas sobre a relação do Zica Vírus com microcefalia
O aumento dos casos de microcefalia no Brasil, principalmente na região nordeste, vem gerando muitas dúvidas. Hoje, há dados que indicam que o Zika Vírus, transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, também causador da dengue e da Chikungunya, está sim associado com a ocorrência de casos de microcefalia no país. O vírus tem sido encontrado no líquido amniótico das gestantes e também no fluido cérebro-espinhal de bebês que nasceram com a alteração. Acredita-se que o vírus, ao atingir o cérebro do feto, provoque uma reação inflamatória que leva a dificuldade na multiplicação das células cerebrais que originam os neurônios, por conta desta inflamação o cérebro não atingiria seu tamanho normal.
O diagnóstico da doença durante a gestação pode ser feito pelo ultrassom morfológico e, após o nascimento, é feito pela medida do perímetro cefálico da criança. Já o diagnóstico da infecção pelo Zika vírus é feito pelos sinais e sintomas apresentados pelos pacientes. “O quadro é muito semelhante à dengue, com vermelhidão nos olhos (conjuntivite), manchas vermelhas na pele, dores no corpo e febre. No entanto, é preciso ficar atento, pode não ocorrer nenhuma manifestação”, explica o neurocientista Francinaldo Gomes.
A ocorrência de microcefalia em bebês nascidos de mães que tiveram infecção pelo Zika durante a gravidez é uma situação rara. As maiores ocorrências são em gestantes que já tiveram dengue alguma vez e que tiveram a doença no primeiro ou no último trimestre de gestação. Se a mulher já foi infectada quando não estava grávida, e os sintomas foram totalmente controlados, não existe a possibilidade da criança desenvolver a enfermidade.
A microcefalia pode provocar atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e também alterações intelectuais nas crianças. Podem ocorrer outros sintomas, dependendo da causa da microcefalia, tais como epilepsia, alterações visuais e auditivas. Estas sequelas variam de leves a severas e costumam comprometer o desenvolvimento e a vida da criança. O desenvolvimento de crianças com microcefalia costuma estar sempre abaixo da média das crianças normais.
Ainda não existem muitas formas para evitar a contaminação pelo Zika Vírus, a principal medida a ser tomada é o combate ao mosquito Aedes aegypti que é o transmissor, pois eliminar os criadouros do mosquito evita que ele se multiplique. Para proteção individual, a melhor maneira é o uso de repelentes, o produto deve ser usado diariamente e repassado a cada 6 horas em todo o corpo e na roupa. Para grávidas, é indicado o uso de repelentes com DEET (dietiltoluamida), pois não prejudicam o bebê.
O maior medo e dúvida dos pais está em como irá se desenvolver o filho com microcefalia, como é uma doença grave e que não tem cura, a criança apresentará retardo no desenvolvimento neuropsicomotor, como dificuldade para andar, para aprender, para raciocinar e falar. O tratamento consiste basicamente de reabilitação feita por meio de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia principalmente durante a infância e a adolescência.
Vale ressaltar que existem causas muito mais frequentes e evitáveis de microcefalia tais como o uso de bebida alcoólica e de drogas durante a gravidez, bem como outras infecções tais como a sífilis, a toxoplasmose e o citomegalovírus. As mães precisam estar atentas para estas causas também.
“Após o nascimento é essencial que o bebê seja acompanhado de perto pelo pediatra e deve ter o perímetro cefálico medido periodicamente para avaliar se o crescimento da cabeça está ocorrendo normalmente”, conclui o especialista.
Dr. Francinaldo Gomes - Formado pela Universidade Federal do Pará e membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), o Dr. Francinaldo Lobato Gomes é mestre em neurociências e neurocirurgião especialista em neurocirurgia de epilepsia e distúrbios de movimento pela Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM), com atuação nas áreas de cirurgia para epilepsia, dor e doença de Parkinson. Faz parte do CENEPE (Centro de Neurocirurgia Pediátrica) em São Paulo e do Neurogenesis – Instituto de Neurociências, em Belém (Pará).
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