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terça-feira, 25 de agosto de 2020

Perdão pode ser o antídoto para a intolerância nos tempos atuais

Pesquisas apontam que perdoar proporciona inúmeros benefícios à saúde


O mundo vive tempos de forte intolerância, sentimento que tem encontrado terreno fértil nas redes sociais e onde junto com discursos de ódio conquista cada vez mais adeptos. A sociedade está cada dia mais intransigente com as causas diferentes do comum. Já é tempo de repensar os posicionamentos agressivos e apostar na serenidade, empatia, afeto, e no perdão como antídotos para essa hostilidade.

É hora de aprender a perdoar. Um número cada vez maior de pesquisas indica que o perdão proporciona uma série de benefícios à saúde. Qualquer pessoa pode se tornar mais tolerante quando desenvolve hábitos como a empatia, passando a focar no lado bom das coisas.

De acordo com Flora Victoria, mestre em Psicologia Positiva aplicada pela Universidade da Pensilvânia, quando não perdoamos os outros, nos colocamos em uma escravidão mental, física e emocional. “E quando permitimos que isso ocorra, a pessoa que nos feriu pode nos colocar em uma gaiola, sendo que somos os únicos que podemos nos libertar dela”, reforça Flora.

Para a especialista, a habilidade de perdoar prevê uma saúde positiva tanto mental quanto física. O ato do perdão protege contra os efeitos negativos do estresse e faz bem tanto à saúde de quem é perdoado como, principalmente, de quem perdoa.

O Ph.D Frederick Luskin, um dos maiores estudiosos sobre o perdão e diretor do Forgiveness Projects, da Universidade de Stanford, concluiu uma extensa pesquisa sobre o treinamento e a medição da terapia do perdão. Sua pesquisa demonstra que esse ato tão importante leva a um aumento da vitalidade física, esperança, otimismo e habilidades de resolução de conflitos.

“Minha pesquisa mostrou que aprender a perdoar ajuda as pessoas a magoar menos. As pessoas que aprendem a perdoar relatam menos sintomas de estresse, como dores nas costas, tensão muscular, tonturas, dores de cabeça e dores de estômago. Além disso, descrevem melhorias no apetite, no padrão de sono, na energia e no bem-estar geral”, afirma Luskin.

Porém, ele adverte que perdoar não é fácil, mas é uma competência que pode e deve ser treinada pelas pessoas que desejam ser feliz. “Perdão não significa que você precisa se reconciliar com alguém que o tratou mal. Se você foi vítima de abuso, agressão ou está em um relacionamento difícil, pode perdoar o ofensor e, como parte dessa escolha, tomar a decisão de encerrar ou limitar o contato com ele. O perdão é principalmente para a sua paz de espírito”, esclarece Frederick Luskin.


Os 9 passos do Perdão

Se o perdão é tão bom e positivo para o ser humano, por que poucos optam por perdoar quando as pessoas as machucam? A resposta pode estar na cultura atual que valoriza mais a expressão da raiva e do ressentimento do que a paz do perdão. Além disso, a maioria das pessoas está confusa sobre o que é e o que não é perdão. As tradições religiosas, geralmente, reforçam a importância do perdão, mas não oferecem as etapas práticas de como fazer.

Em seu livro ‘O Poder do Perdão’, Luskin apresenta um processo, desenvolvido por ele, composto por nove passos que ajudam a pessoa a transformar o ato de perdoar em uma prática habitual e recuperar o controle de sua vida. São eles:

  1. Entenda exatamente como você se sente a respeito do que aconteceu e seja capaz de articular isso, falando a respeito com pessoas de sua confiança.
  2. Assuma com você o compromisso de superar. O perdão é para você, e mais ninguém.
  3. Perceba que perdão não significa, necessariamente, reconciliação.
  4. Adote a perspectiva certa: a principal fonte de sua mágoa é o sofrimento emocional e físico que você está passando agora e não a pessoa ou evento que a causou.
  5. Pratique técnicas de controle de estresse sempre que começar a se sentir irritado ou zangado.
  6. Não espere de outras pessoas aquilo que elas não têm para dar a você.
  7. Estabeleça objetivos positivos e descubra outras maneiras de atingi-los que não seja por meio da experiência que feriu você.
  8. Lembre-se de que uma vida bem vivida é a melhor vingança. Ao focar em suas feridas, você está dando poder à pessoa que o feriu. Aprecie o que se tem ao invés de concentrar-se naquilo que não tem.
  9. Dê um novo significado ao seu passado e inspire-se sempre em sua escolha de perdoar.

 

 


Flora Victoria - mestre em Psicologia Positiva Aplicada pela University of Pennsylvania. Foi considerada a Embaixadora da Felicidade no Brasil por Martin Seligman. É autora de importantes obras como Semeando Felicidade (2017) e Florescimento na Prática (2019) e prepara o seu mais novo livro, editado pela Harper Collins, que será lançado no início de 2020. Possui graduações acadêmicas e especializações nas áreas de Governança Corporativa, pela Harvard Business School; MBA, pela FGV; Marketing, pela ESPM e Tecnologia, pela USCS.


10 bons motivos para você sentir raiva

 Patrícia Santos, especialista em gerenciamento da raiva


Sabemos que a raiva tem uma reputação negativa quando comparada a outras emoções e a causa pode estar nas crenças, bem como na manifestação óbvia de seus resultados quase sempre destrutivos, como agressão e violência. De fato, muitos acreditam que estaríamos melhores se a raiva não existisse. O que precisa ser entendido, no entanto, é que todas as emoções são apropriadas em determinadas circunstâncias, quando experimentadas em um nível ideal.

A raiva não é apenas uma reação agressiva, muitas vezes o seu papel principal é, na verdade, fornecer informações que permitam interagir melhor com o mundo e com nós mesmos. Até a raiva pode ter qualidades valiosas e, quando identificada ainda na intensidade leve à moderada, pode ajudar a melhorar a nossa vida e o mundo ao nosso redor. Listei aqui, portanto, dez bons motivos para sentirmos raiva e percebermos como ela pode ser benéfica, quando administrada de forma apropriada. São eles:


1. Ela promove a sobrevivência

Para que possamos nos defender de um inimigo, de um perigo, nos proteger contra uma agressão. Nesses momentos, a raiva é ativada automaticamente e, de forma muito positiva e na medida certa, pode nos levar a reagir e a agir com rapidez e força para nos proteger.


2. Conscientiza sobre a injustiça

Muitas vezes, sentimos raiva quando nos negam direitos ou quando somos confrontados com insultos, desrespeito, injustiça ou exploração. Esse tipo de raiva pode trazer mudanças positivas na sociedade e aumentar o custo social do mau comportamento.


3. Auxilia a satisfazer suas necessidades

Os indivíduos que experimentam e demonstram sua raiva adequadamente estão em uma posição melhor para satisfazer suas necessidades e controlar seu destino, muito diferente daqueles que acabam suprimindo sua raiva. A raiva está relacionada a uma profunda necessidade de controle e protege o que é nosso. Ajuda- a sentir-se responsável, ao invés de impotente.


4. Energiza e motiva a resolver problemas

Nas situações do dia a dia, a raiva serve como uma força positiva para motivar a defender o que acreditamos e encontrar, de forma criativa, soluções para os desafios e problemas do cotidiano. Se as coisas não estão do jeito que deveriam estar e precisam mudar, a raiva impulsiona a fazer algo e motiva a encontrar soluções rapidamente.


5. Ajuda a conquistar metas

A raiva impulsiona a buscar os objetivos e as recompensas desejadas. Quando não conseguimos o que queremos, a raiva é desencadeada e indica que nos afastamos de nossas metas. A raiva tenta eliminar o que impede de realizar nossos desejos, mas, isso é algo que energiza e nos leva a agir para alcançar nossos objetivos, trabalhando em direção aos ideais. Surpreendentemente, injeta otimismo.


6. Protege valores e crenças

A raiva serve como um indicador e regulador social e pessoal de valor, que é ativado quando nossos valores não estão em harmonia com aquela situação que enfrentamos. Dessa forma, nos conscientiza de nossas crenças profundas e do que defendemos. Também motiva a corrigir as discrepâncias e a tomar medidas para mudar a situação (ou crenças) para alinhar a realidade que enfrentamos com nossos valores.


7. É uma excelente ferramenta de negociação

A raiva leva a responder aos conflitos e negociações em benefício próprio. Isso faz com que outras pessoas repensem suas posições contra aquilo que estamos defendendo no momento.


8. Proteção para sentimentos dolorosos

Semelhante aos mecanismos de defesa, ela também serve para proteger de uma dor, de uma situação, de um sentimento como, por exemplo, ter sido rejeitado, abandonado, não amado; coisas que são consideradas quase que insuportáveis.


9. Coloca limites

A raiva ajuda você a descobrir seus limites e comunicá-los.


10. Autoconhecimento

A raiva fornece insights sobre si mesmo, quando há um aprofundamento para entender a sua fonte. Também é um eficaz indicador sobre falhas e deficiências. Se analisada de forma construtiva, as atitudes durante as fortes emoções e períodos de irritabilidade, podem levar a resultados positivos, melhorando a inteligência emocional.

Portanto, da próxima vez que você sentir que está ficando com raiva, pergunte-se o que ela pode estar lhe mostrando e faça o movimento sem violência para tentar contornar a situação.

 



Patrícia Santos - Consultora, escritora e palestrante, docente em cursos de pós-graduação em diversas instituições pelo país. É especialista em Anger Management (Gerenciamento da Raiva), pela National Anger Management Association - NAMA de Nova Iorque, EUA, onde também é fellow. É coautora do livro "Raiva, quem não tem?". A obra é um verdadeiro crossfit emocional que não só discorre sobre o tema, mas também ensina o leitor a medir, encarar, transformar e a seguir em frente.

 

Automutilação é um sintoma que não pode ser ignorado

Os pais precisam ficar atentos e buscar tratamento


A automutilação costuma ser um sintoma de transtornos emocionais graves, como depressão, transtornos de personalidade e alimentar. Na maioria das vezes, quem comete automutilação não tem intenção de cometer suicídio, e sim de sentir a dor física ao invés da emocional, para se punir ou esperando se sentir melhor.

Geralmente, os sintomas vêm acompanhados de pensamentos agressivos que podem ser notados por quem está a sua volta, mas como os primeiros sinais, comumente, aparecem durante a adolescência, os pais podem deixar passar.

“Infelizmente, apesar dos locais que geralmente são acometidos pela automutilação serem acessíveis, a pessoa transtornada os cobre e tenta esconder, demonstrando que precisa de ajuda de outras formas, então deve-se ficar atento”, explica Madalena Feliciano, hipnoterapeuta.

A principal forma de tratamento é a psicoterapia, mas existem outras opções, como a hipnose. Todo o tratamento é terapêutico, transformando a dor que o leva a cometer a automutilação em algo diferente, que causa bem-estar.

“Cortar o problema pela raiz é a melhor opção, ressignificando traumas, acabando com o comportamento ansioso e fazendo com que o cliente pare de se sentir aliviado com a dor”, finaliza.

 



Madalena Feliciano - Gestora de Carreira e Hipnoterapeuta

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Segundo pesquisa do DataFolha, 74% dos jovens estão mais tristes e ansiosos durante a pandemia

 

Psicóloga Ana Gabriela Andriani explica que o prolongamento do isolamento social afeta diretamente a saúde mental dos jovens e adolescentes

 

A terceira fase da pesquisa “Educação não Presencial na Perspectiva dos Estudantes e suas Famílias” realizada pelo DataFolha aponta que de junho para julho 74% dos jovens estão mais tristes, ansiosos ou irritados. 

Segundos a psicóloga Ana Gabriela Andriani, doutora pela UNICAMP-SP, “o isolamento social afetou drasticamente a saúde mental dos jovens. A falta de convívio com os amigos, fez com que eles migrassem mais ainda para o mundo virtual e isso acabou afetando até pessoas mais equilibradas”. 

O estudo foi feito com cerca de 1.056 crianças e jovens que estudam em escolas públicas. Ainda segundo o DataFolha, os 74% fazem jus a seguinte porcentagem: de junho para julho, os irritados passaram de 45% para 48% e os tristes de 58% para 67%.

“Alunos da rede pública não recebem a mesma qualidade de ensino que os de rede privada. Logo, essa falta de auxílio nos estudos, juntando com a falta de liberdade, causa maior irritabilidade e chateação. Por isso o índice está tão alto”, destaca a psicóloga.

Além disso, a pesquisa ainda mostra que 51% dos jovens não se sentem motivados e isso resulta em 67% deles que não conseguem manter uma rotina. “É importante lembrar que adolescentes são mais frágeis emocionalmente e essa quarentena está trazendo fadiga mental para muitas pessoas”, comenta Ana Gabriela Andriani. 

Vale lembrar também que, grande parte da tristeza que os jovens estão sentindo se dá pela falta de perspectiva no futuro e pelas frustrações que eles carregam.

Porém, vale destacar que essa condição psicológica não é exclusiva de jovens da rede pública. “Atendo pacientes que estudam em colégios particulares que estão com as mesmas dificuldades. É preciso que essas pessoas procurem um bom profissional que os ajudarão a entender essa tristeza e sair dessa condição”, finaliza a psicóloga. 

 



Dra. Ana Gabriela Andriani - graduada em Psicologia pela PUC-SP e Mestre e Doutora pela UNICAMP, além disso é pós-graduada em Terapia de Casal/Família pelo The Family Institute, Northwestern University - Evanston, IL (USA). Ela também tem especialização em Psicoterapia Dinâmica Breve pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas/USP e aprimoramento Clínico em Fenomenologia Existencial na Clínica Psicológica da PUC-SP. 

https://anagabrielaandriani.com.br/

 

Por que há idosos que se curam da Covid-19 enquanto jovens morrem?

Médico geriatra, nutrólogo e cardiologista Juliano Burckhardt faz uma análise da complexa e intrincada rede envolvida na imunidade do organismo no combate ao novo coronavírus



O Brasil tem mais de 100 mil mortes pelo novo coronavírus. Apesar de ser uma doença associada a idosos, ao analisar o perfil das vítimas é possível encontrar diversos jovens e até crianças. A mesma diversidade se observa ao analisar os pacientes que se recuperaram, há casos, inclusive, de pessoas com mais 100 anos. Surge a questão sobre como uma pessoa com mais de 90 anos se recupera da doença enquanto outra de 20 não resiste. Não existe uma única resposta, mas o nutrólogo, geriatra e cardiologista Juliano Buckhardt, que é integrante da American Heart Association - International Membership e Membro Titular da International Colleges for Advancement of Nutrology, detalha um pouco do complexo sistema de defesa do organismo e suas variáveis. “Atividade física, obesidade, alimentação, quantidade de vitaminas e minerais no corpo e microbiota do intestino são parte dos fatores”, explica o médico.

Ele destaca que o novo coronavírus ainda é um inimigo desconhecido e, portanto, a cada dia há novas surpresas e descobertas, “estamos lidando com um inimigo oculto, a comunidade científica tem se dedicado a pesquisar, não é uma tarefa fácil por ser um inimigo totalmente desconhecido e com características únicas”, destaca Burckhardt. Inicialmente eram grupo de risco os idosos e havia a crença de que o vírus se adaptaria melhor a ambientes frios, teses que caíram por terra. No Brasil, o Nordeste e o Norte apresentam números elevados, mesmo sendo regiões de clima quente durante todo o ano. Outro ponto, de acordo com o médico, foi a mudança da faixa etária: “notou-se principalmente no Brasil que a população mais afetada tem entre 50 e 59 anos, além de casos e óbitos entre jovens e crianças, enquanto que a OMS considera idoso quem tem acima de 60, foi um comportamento atípico de um vírus até então associado a pessoas mais velhas”.

O integrante de American Heart Association e da International Colleges for Advancement of Nutrology fala sobre algumas pesquisas realizadas nestes meses de pandemia ao redor do mundo. Uma delas foi realizado na Alemanha, “os pesquisadores descobriram que pacientes de diversas idades com baixa vitamina D desenvolveram formas mais graves da Covid-19. Por outro lado, aqueles com níveis satisfatórios tiveram sintomas mais brandos, enquanto que quem tinha níveis elevados chegou a ficar assintomático”.


Outro estudo mencionado foi realizado nos estados Unidos sobre a relação entre obesidade e casos graves e óbitos.  “Um estudo de recente publicado no periódico científico The Lancet  afirmou que o obeso tem quatro vezes mais chances de desenvolver a forma grave da Covid-19 que alguém dentro do peso saudável”, afirma o médico. Ele explica que um estudo da Universidade norte-americana John Hopkins primeiro analisou idosos, vistos como mais suscetíveis em função das comorbidades associadas à idade. Até que surgiram diferenças significativas entre obesos e não obesos, a análise foi então ampliada para obesos não idosos e se constatou que quem está acima do peso ideal, em qualquer idade, tem mais chances de desenvolver a forma grave da Covid-19 que um idoso com peso normal, “chamou atenção que obesos jovens tinham um prognóstico tão ruim ou pior que os idosos não obesos”, explica Burckhardt.

O peso é frequentemente resultado do estilo de vida. O médico elenca a prática de atividades físicas entre fatores relevantes. “Exercícios aumentam a irisina, hormônio que que faz uma proteção natural contra o coronavírus”, afirma. Sem contar hábitos alimentares, microbiota intestinal, quantidade de vitaminas D e C e de Zinco no organismo, “o Zinco é um mineral que ninguém fala a respeito, mas ele dificulta a replicação do vírus, foi comprovado que quem tinha níveis maiores de zinco teve melhores respostas à doença”. O Dr. Juliano Burckhardt alerta, no entanto, que estes aspetos não poder ser considerados uma vacina ou a cura para a Covid-19, “são apenas estratégias que usamos para minimizar os riscos”, alerta.


Infância roubada: como reconhecer uma criança que está sofrendo abuso sexual e quais os danos psíquicos causados?


Estupro e pedofilia são crimes que demonstram fragilidades sociais no quesito proteção à infância e adolescência contra a violência sexual no mundo. Neste contexto, o caso da menina de 10 anos que sofria abuso sexual do tio, desde os seus seis anos de idade, engravidando no estado do Espírito Santo, provocou discussões e revolta em todo o país nos últimos dias. A notícia chocou gerando indignação, decepção, raiva e evidenciou uma violência contra crianças e jovens que, consequentemente, perdem o direito a uma vivência infantil saudável e equilibrada. 

Infelizmente estatísticas mostram o crescimento da cultura do estupro, onde 42% dos casos registrados em todo o Brasil ocorrem dentro das casas das vítimas e apenas 16% dos abusadores são desconhecidos das crianças e/ou jovens abusados. Além disso, 66% das vítimas são atacadas inicialmente entre os quatro e seis anos de idade. Estes dados demonstram a importância da escuta, do cuidado e do acolhimento dessas crianças e jovens - no sentido de evitar que possam ser marcados por traços de crueldade e perversidade que, certamente, provocam mudanças severas em sua percepção de valores e na forma como possam lidar com suas dores e com o mundo a sua volta, possibilitando ainda o transporte do trauma sofrido para a vida adulta. 

A infância é um período da vida em que se dá o fortalecimento da personalidade, do caráter e dos valores do indivíduo. Uma etapa caracterizada por aprendizados, zelo familiar, brinquedos, descobertas e o despertar de sentimentos e emoções confusas e incompreendidas. Um universo marcado por grandes alterações se for abalado por abuso. Um crime silencioso que anula o sorriso e rouba a meninice, alimentando em muitas vítimas a sensação de culpa, inferioridade, fobias e dor. 

Diante destes aspectos, a violência sexual acarreta vivências traumáticas irreparáveis em suas vítimas. A começar pela grande dificuldade em manifestar verbalmente todo o sofrimento. Nestes casos, a melhor maneira de reconhecimento dos sinais do abuso é buscar estar atento aos vestígios apresentados. Pois, diferentemente do que se pensa, as crianças dão pistas de que algo está fora da normalidade. Podem passar a apresentar distúrbios do sono (terrores noturnos), episódios de anorexia ou bulimia, baixa autoestima, queda no rendimento escolar ou dificuldade de aprendizado e concentração, isolamento social, fobias, agressividade, crises de choro constantes e inesperadas,  bem como episódios de enurese (urinar na cama) mesmo que após superado anteriormente, inquietação fora do normal, comportamentos hipersexualizados precocemente e até déficit de linguagem. 

Crianças e adolescentes expostos a situações de violência sexual podem exteriorizar desordens psíquicas, como: depressão, pensamentos suicidas, ansiedade generalizada, bloqueio sexual e o uso abusivo de drogas. Acarretando, inclusive, prejuízos evidentes na maturidade de suas relações interpessoais e afetivas. Além disso, a percepção da realidade e a sua capacidade de confiança em adultos poderá apresentar sinais de fragilidade. Os reflexos do abuso sexual no desenvolvimento biopsicossocial da criança e do adolescente devem ser levados em conta por toda a sociedade, a fim de promover intervenções psicológicas urgentes ao favorecimento da superação dos traumas sofridos. 

Porém, existem algumas ações que podem contribuir para a prevenção do abuso e da exploração sexual dos indefesos. São elas: o exercício na eliminação, por parte dos responsáveis, do medo de conversar com as crianças sobre suas partes íntimas. Identificar e saber nomear o que é íntimo é fundamental para que a criança possa conseguir verbalizar quando algo fora do comum acontecer. Outro ponto importante é poder ensinar para a criança quais os limites do seu corpo, mostrando que não se pode permitir que toquem suas partes íntimas e que tocar partes íntimas de outra pessoa, conhecida ou não, também não é permitido. Além disso, incentivar a comunicação e o diálogo - provocando e promovendo um ambiente de segurança e confiança - podem ser grandes estímulos para que a criança não se intimide ao contar qualquer coisa para seus responsáveis ou para quem ofereça a ela proteção e resguardo. Contudo, se faz necessário, alimentar a autoestima, pois quando o indivíduo se conhece, se percebe e se ama, mantendo uma relação saudável com seu corpo, facilmente conseguirá negar situações desagradáveis e desconfortáveis para si. O medo de não ser aceito não fará parte de seu cotidiano e sua personalidade ganhará força e autonomia para se posicionar diante de atitudes que possam vir a violar seus limites e sua individualidade. 

A identificação dos abusos nem sempre é uma tarefa fácil, mas esteja atento a todos os indícios. As mudanças comportamentais acendem o botão vermelho e apontam a irritação, as dores de cabeça constantes, rebeldias, raivas, depressão, problemas escolares introspecções, dentre outras alterações, como alertas evidentes de que algo está errado. Pode ser um pedido de socorro inconsciente, expondo uma infância marcada por traços de crueldade. 

Portanto, toda forma de maus tratos possuí uma dinâmica de perversões ilimitadas, que se manifesta como um horror contínuo para suas vítimas. O abuso sexual praticado contra crianças e adolescentes é, sem dúvida, um fenômeno que envolve muitas variáveis e complexidades, onde o dano psíquico está relacionado a fatores como: idade do início do abuso; duração do abuso; diferença de idade entre abusado e abusador; o grau de violência; grau de parentesco entre eles e o grau de segredo intrínseco no ato violento. Mas independente de tudo isso, uma coisa é certa: o impacto emocional e social será devastador na vida da vítima de abuso sexual na infância e/ou adolescência.  

A mistura de sentimentos e dúvidas marcará as funções intelectuais, criativas e mentais dessa criança para sempre. Um composto de culpa, dor e desamparo fortalecido por uma infância roubada e destruída, como no caso da menina de 10 anos do Espírito Santo que, amparada pela lei, conseguiu o direito de interromper a gravidez fruto da violência sofrida por pelo menos quatro anos seguidos. Por todo o exposto, o acompanhamento e amparo psicológico, médico e social se faz extremamente necessário na tentativa de resgatar a autoestima, a confiança e a capacidade de sonhar de uma criança ceifada pela crueldade sórdida de um adulto perverso e desumano.

 

 

 

Dra. Andréa Ladislau * Doutora em Psicanálise * Membro da Academia Fluminense de Letras - cadeira de numero 15 de Ciências Sociais * Administradora Hospitalar e Gestão em Saúde * Pós Graduada em Psicopedagogia e Inclusão Social * Professora na Graduação em Psicanálise * Embaixadora e Diplomata In The World Academy of Human Sciences US Ambassador In Niterói * Membro do Conselho de Comissão de Ética e Acompanhamento Profissional do Instituto Miesperanza  * Professora Associada no Instituto Universitário de Pesquisa em Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo. * Professora Associada do Departamento de Psicanálise du Saint Peter and Saint Paul Lutheran Institute au Canada, situado em souhaites.


Perdoem-me, mulheres, mas sou uma feminista de araque

Eu usufruo muito do que o feminismo faz e fez por mim e faço por ele muito pouco. Ou quase nada.

Eu me solidarizo pelas causas. Concordo com a maioria das pautas. Mas não entro no movimento. Não vou à luta. Não faço valer o lugar que as mulheres que me precederam me colocaram.

Sou uma feminista de araque.

Não sou a favor de extremismos. Tampouco sou a favor de discursos violentos. E acabo seguindo por um caminho menos polarizado e até um tanto quanto covarde.

Meu pai diz que quem não escolhe um lado é porque não tem coragem de assumir de que lado está. Covardia disfarçada de neutralidade.

Talvez eu não seja uma feminista de araque. Talvez eu só seja uma covarde. Repleta de vontade de sair por aí exigindo nosso lugar e sem coragem de gritar.

Talvez eu só tenha uma maneira mais pragmática de exigir um lugar. Afinal, a comunicação é meu forte e eu criei um espaço de fala, através da escrita. Eu acredito que cada um tem seu jeito de mudar o mundo. Mas a minha palavra foi vã em tantos momentos em que eu precisava ter gritado.

A covardia me coloca em uma posição de neutralidade onde não há. E eu fico me protegendo sob os muros que a vida me deu como escudos para violências tão cotidianas.

Estou aterrorizada com o fato de até hoje eu não ter lutado por nenhuma causa. Por não ter protegido de alguma maneira as meninas que são violentadas, as mulheres que são agredidas e as feministas que gritam sozinhas, que não são covardes e que sabem o seu lugar.

Perdoem-me, mas sou uma feminista camuflada, dissolvida nos pilares de uma sociedade tradicionalmente machista, agressiva, injusta e maltratada.

Perdoem-me, mulheres, por todas as banalidades que escrevo e por não estarmos lado a lado nessa luta que está só começando.

Perdoem-me, pois sou uma feminista em construção.

 



Izabella de Macedo - mediadora de conflitos e autora do livro Mulheres Normais. É graduada em Letras e advogada com mestrado em Educação.


Pesquisa Saúde da Mente & Pandemia aponta que 53% dos brasileiros têm mais alteração de humor no isolamento

 

Conduzido pela NOZ Pesquisa e Inteligência em parceria com o Instituto Bem do Estar, o mapeamento "Saúde da Mente & Pandemia" - realizado em maio de 2020 com 1.515 participantes - investigou o impacto do isolamento social no cotidiano do brasileiro. O levantamento avaliou questões como hábitos e rotinas; sentimentos e reações físicas; alimentação; e o impacto na libido de casados e solteiros. Para 49% dos casados (ou em união estável), a libido diminuiu; entre os solteiros, 21% afirmaram que o desejo sexual aumentou.


Para os especialistas da área de saúde mental, um dos principais indícios de transtornos mentais é a necessidade que o indivíduo tem de se isolar. Ironicamente, diante da hecatombe causada pelo novo coronavírus – na qual o isolamento social é essencial para reduzir as chances de contaminação e disseminação da Covid-19 – a prática pode potencializar os transtornos de ansiedade e depressão. Para entender o real impacto da pandemia no emocional dos brasileiros, o Instituto Bem do Estar e NOZ Pesquisa e Inteligência conduziram o mapeamento Saúde da Mente & Pandemia. Realizado com 1.515 brasileiros de todas as regiões, idades e classes sociais, o levantamento avaliou questões como hábitos e rotinas; sentimentos e reações físicas; e impacto na alimentação e na libido de casados e solteiros. A pesquisa integra o projeto Sociedade de Vidro e contará com outros módulos focados em investigar a saúde da mente de moradores de periferias, de jovens e novo ambiente de trabalho.

Segundo Juliana Vanin, fundadora da NOZ Pesquisa e Inteligência e uma das coordenadoras da pesquisa Saúde da Mente & Pandemia, entre os destaques do mapeamento estão as análises propositivas que a diversidade de dados traz. “A pesquisa traz muitas informações sobre os sentimentos e as reações físicas, mas também mapeamos mudanças nos hábitos e rotinas provocadas pela pandemia, como por exemplo, o nível de isolamento, aumento de horas dedicadas ao home office e atividades físicas. Isso nos permite traçar as relações entre as alterações nos sentimentos e as reações físicas ligadas à ansiedade e à depressão com as novas rotinas e hábitos. Essas análises serão úteis para planejarmos como lidar com a saúde da mente nesse novo contexto em que vivemos”, afirma Juliana.

Na percepção de Isabel Marçal, cofundadora do Instituto Bem do Estar, o diferencial da pesquisa está em proporcionar pelo menos cinco minutos de reflexão aos participantes sobre os próprios sentimentos e reações físicas diante da maior crise da contemporaneidade. “Queremos impulsionar o debate, a troca de experiências e a escuta de novas visões e percepções sobre a saúde da mente. E, o primeiro passo é entender como estão nossos sentimentos e quais as reações físicas são provocadas em nosso corpo por questões emocionais. A pesquisa proporcionou, por meio do olhar para si mesmo, que levantássemos estes dados de 1.515 pessoas, além de outros – citados por Juliana Vanin, com possibilidade de diversos cruzamentos. A partir dos dados levantados e compilados de forma consistente, precisa e plural, poderemos, com a ajuda de especialistas convidados, observar as tendências e realizar uma análise propositiva do atual cenário brasileiro da saúde da mente”, avalia Isabel.

A análise de Milena Fanucchi, cofundadora do Instituto Bem do Estar, a pandemia veio para ‘iluminar’ diversos problemas da nossa sociedade, entre eles, os transtornos relacionados à saúde da mente, como depressão e ansiedade. “Se antes, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já previa que, em 2020, a depressão seria a maior causa de afastamentos no trabalho – e até 2030 a doença mais incapacitante do mundo –, imagina agora? A pesquisa mostra o aumento de diversos sintomas relacionados tanto a depressão quanto a ansiedade, o que é preocupante. Por isso, é de extrema urgência informar a população sobre os cuidados com a nossa saúde da mente, para assim prevenir, principalmente, a depressão e a ansiedade", pondera.


PRINCIPAIS CONCLUSÕES DA PESQUISA

 ||| HÁBITOS E ROTINA DURANTE O ISOLAMENTO

  • Entre os entrevistados, 42% saem de casa menos de uma vez por semana; 35% de uma a duas vezes; 10% de três a quatro vezes; 9% cinco a mais. 51% reduziram a prática de atividade física, sendo que 33% afirmam estar praticando muito menos. Há registro, para 49%, no aumento de atividades que dão prazer: ler, ouvir música, pintar, entre outros.
  • Sobre a realização de atividades ligadas à mente e à rede de apoio, 28% dos entrevistados apontam que estão praticando meditação; 13% ioga; 58% e 53% afirmam que estão realizando encontros virtuais com amigos e familiares, respectivamente.
  • Sobre o exercício da religiosidade ou espiritualidade, 29% afirmam que mantêm mais do que antes do isolamento; 32% reportam que mantêm, mas nada mudou; 9% apontam que mantêm, mas menos do que no período anterior; para 13% muito pouco ou nada; e 14% não pratica por não ser uma pessoa religiosa/espiritualista.
  • Sobre o atendimento terapêutico, 10% das pessoas que em algum momento fizeram terapia, afirmaram que pararam durante a pandemia. “Esse dado é relevante, porque apresenta uma tendência de que esse número aumente por conta da crise financeira, embora o contexto de isolamento aumente a necessidade de terapia”, afirma Isabel Marçal, cofundadora do Instituto Bem do Estar. Entre os brasileiros que estão fazendo terapia, 85% deixaram de ir ao consultório e estão fazendo na modalidade online; 10% começaram ou aumentaram a frequência durante o isolamento – embora 14% tenham reduzido a frequência.

 ||| SENTIMENTOS E REAÇÕES FÍSICAS

  • 65% dos entrevistados estão se sentindo mais emotivos; desses, 25% reportam estar “muito mais” emotivos ou sensíveis. Em cada quatro pessoas, uma está muito mais emotiva.
  • O sentimento de medo é para 71% maior, sendo que 23% sentem que estão com muito mais medo; 70% estão se sentindo excessivamente preocupadas, enquanto 43% dos entrevistados estão menos esperançosos. Em contrapartida, 29% estão com mais esperanças que no período anterior à pandemia. Mais da metade dos respondentes, 53%, afirmou ter mais alterações de humor durante o isolamento.
  • Sobre as reações físicas, 49% dos casados – ou em união estável – afirmam estar com menos libido; entre os solteiros, esse percentual é de 34%. Do total de respondentes, 14% afirmaram que o desejo sexual aumentou – entre os solteiros, esse índice é de 21% e 8% entre os casados. A insônia parece afetar os mais jovens: o percentual de entrevistados que afirmam estar com o problema é crescente nessa faixa etária, sendo 60% entre os que têm menos de 30 anos; 52% entre os com 31 e 50 anos; e 43% entre os com mais de 51 anos.
  • Na análise do cruzamento entre sentimentos e reações físicas, de acordo com o grau de escolaridade e renda, a pesquisa mostra que enquanto 8% dos entrevistados com ensino fundamental ou médio afirmam nunca terem se sentido inseguros, entre os com pós-graduação, esse índice é de 3%. Entretanto, para 31% dos brasileiros com ensino fundamental ou médio há grande aumento do sentimento de insegurança; entre os com pós-graduação, esse percentual é de 19%. Para 80% dos que perderam o emprego durante a pandemia há mais insegurança, destes 33% reportam estarem muito mais inseguros. Entre os que tiveram dispensa temporária (suspensão do contrato), 81% se sentem mais inseguros, entre estes 26% muito mais inseguros. Para os que estão trabalhando e não sofreram alterações na rotina, 58% se sentem mais inseguros. 
  • A comparação da prática de atividade física e do aumento de sentimentos vinculados à depressão e à ansiedade mostra que 61% dos entrevistados que reduziram a atividade física têm se sentido mais desanimados diante do isolamento social – entre os que conseguiram aumentar muito a frequência de exercícios, esse número cai para 38%. O mesmo ocorre com sintomas físicos: os 37% brasileiros que diminuíram a frequência têm sentido mais dores de cabeça; entre os que aumentaram a atividade física, somente 20% reportam aumento das dores. O distanciamento social tem um impacto claro na alimentação. Para 48% das pessoas que se sentem mais desanimadas e 44% das que se sentem mais agitadas – e com mudanças repentinas de humor – os hábitos alimentares pioraram.

  

||| METODOLOGIA DA PESQUISA | Conduzida pela NOZ Pesquisa e Inteligência – em parceria com o Instituto Bem do Estar –, o mapeamento Saúde da Mente & Pandemia é uma pesquisa quantitativa online com questionário de autopreenchimento voluntário. Sem fins comerciais, foi realizada entre os dias 7 e 31 de maio de 2020 e contou com participação voluntária de 1.515 respondentes. Os dados permitiram mapear os sentimentos, sensações e mudanças de hábitos e rotinas durante o isolamento social. O perfil da amostra é composto por 21% homens, 71% mulheres e 7% não informado; 75% moradores do Estado de São Paulo e 25% distribuídos por todas as regiões do Brasil e com faixas etárias e renda mensal individual diversas. 

As próximas etapas da pesquisa, que acontecerão entre agosto e novembro; estão previstas a ampliação no número de respondentes e do perfil da amostra (particularidades e desafios das periferias, juventudes e novo ambiente de trabalho). Ao final do levantamento haverá cinco mapeamentos públicos: o primeiro em agosto com a análise desta primeira etapa; os seguintes referentes aos três recortes de perfis (novembro de 2020) e, em janeiro de 2021, o mapeamento final com a comparação dos dados levantados e uma análise propositiva do impacto do isolamento social na saúde da mente. 

O estudo “Saúde da Mente & Isolamento Social” integra um grande projeto do Instituto Bem do Estar, Sociedade de Vidro – um olhar contínuo sobre a sociedade brasileira e as fragilidades emocionais. O projeto conterá estudos para que o máximo de dados sejam levantados e compilados de forma consistente e precisa, além de iniciativas de reflexão e conscientização. 

 

 


INSTITUTO BEM DO ESTAR

www.bemdoestar.org

 

NOZ PESQUISA E INTELIGÊNCIA

www.noz-pesquisaeinteligencia.com


Parecer quanto a possibilidade de abertura dos diferentes espaços das áreas comuns dos condomínios

No dia 7/08/2.020 a quarentena foi prorrogada até 23 de agosto 2.020 através da 10ª atualização do Plano São Paulo.

Desta forma, as considerações abaixo levam em conta a atual fase na Cidade de São Paulo em 20/08/2.020, que é a amarela conforme dados do Estado de São Paulo obtidos através do site https://www.saopaulo.sp.gov.br/planosp/, e interpretam a nota técnica do Centro de Contingência do Corona vírus, ANEXO I e II do Decreto nº 65.044, de 3 de julho de 2020, levam em conta os decretos acima descritos e demais posturas municipais, bem como considera as medidas de retomada das atividades com a gradual abertura dos setores econômicos seguindo critérios com base no risco ocupacional e protocolos que observam o comportamento da curva de contágio conforme nota técnica do Centro de Contingência do Corona vírus.

Levando em conta que os decretos consideram a manutenção da gradual abertura dos setores econômicos, seguindo critérios de risco ocupacional e protocolos previamente acordados com os respectivos representantes e não mencionam em qualquer momento os condomínios, assim a interpretação seguem parâmetros de analogia e similitude.

  1. Academias

Em análise analógica a situação fática vivida nos condomínios considerando os decretos supra citados, e em especial ao anexo II do Decreto 65.044 de 3 de Julho de 2.020, verificamos no item C que as academias de esportes e de ginástica podem atender ao público presencialmente em modelo reduzido com capacidade de 30% do local, evitando assim a proximidade entre pessoas, impondo ainda a adoção de horário reduzido de atendimento presencial ao público, limitado a 6 horas por dia.

Ainda em âmbito Municipal as orientações para as academias comerciais podem ser aplicadas por analogia nos condomínios. PORTARIA DA PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO 724, DE 10 DE JULHO DE 2020:

“ Utilizar apenas 50% dos aparelhos de cárdio, ou seja, deixar o espaçamento de um equipamento sem uso para o outro;

- É expressamente proibida qualquer forma de treinamento que envolva contato, em pé ou no solo, enquanto não forem liberadas pelas autoridades do Governo Estadual;”

Desta forma, os condomínios podem aplicar por similitude a mesma redução de capacidade de atendimento de pessoas e horários, ou considerar outras possibilidades que atendam o condomínio, desde que tais parâmetros sejam justificáveis e de preferência sejam ratificados ou aprovados em assembleia.

  1. Salões de festas, churrasqueiras e demais espaços com as mesmas características

Quanto ao item d) do anexo II do Decreto 65.044 de 3 de julho de 2.020, que menciona os eventos, convenções, eventos de cultura e entretenimento, e outros - Por analogia podemos considerar para o âmbito condominial o uso de espaços coletivos dentro das áreas comuns.  E considerando os protocolos apresentados pelo setor, sendo permitindo a retomada do atendimento presencial ao público em horário reduzido de 6 horas, com a capacidade limitada a 40%, com obrigação de controle de acesso. O setor deverá adotar protocolos geral e setoriais específicos. 

Assim, para o âmbito condominial sugere-se aplicar por similitude a mesma redução de capacidade e horários, ou considerar outras possibilidades que atendam o condomínio, desde que tais parâmetros sejam justificáveis e de preferência sejam ratificados ou aprovados em assembleia.

  1. Brinquedoteca

Em função do plano de abertura gradual dos setores econômicos no Estado de São Paulo, não existe mais respaldo legal que autorize a manutenção do fechamento de áreas comuns.

Assim, para o âmbito condominial sugere-se aplicar por similitude a outras atividades descritas no Decreto Estadual e Portaria Municipal a mesma redução de capacidade e horários para o funcionamento dos locais, ou considerar outras possibilidades que atendam o condomínio, desde que tais parâmetros sejam justificáveis e de preferência sejam ratificados ou aprovados em assembleia.

  1. Bares Internos

Em função do plano de abertura gradual dos setores econômicos no Estado de São Paulo, não existe mais respaldo legal que autorize o fechamento de áreas comuns.

Quanto ao item b) do anexo II do Decreto 65.044 de 3 de julho de 2.020, que menciona os bares, restaurantes e similares, conforme abaixo disposto. Por analogia podemos considerar para o âmbito condominial o uso de espaços coletivos dentro das áreas comuns.  E considerando os protocolos apresentados pelo setor, sendo permitindo a retomada do atendimento presencial ao público em horário reduzido de 6 horas, com a capacidade limitada a 40%, até às 17:00 horas. O setor deverá adotar protocolos geral e setoriais específicos. 

Assim, para o âmbito condominial sugere-se aplicar por similitude a mesma redução de capacidade e horários, ou considerar outras possibilidades que atendam o condomínio, desde que tais parâmetros sejam justificáveis e de preferência sejam ratificados ou aprovados em assembleia.

PORTARIA DA PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO 724, DE 10 DE JULHO DE 2020:

“b) Consumo local (bares, restaurantes e similares) - O conceito “ao ar livre” fora escolhido para assegurar a existência de ventilação natural no local de alimentação, em que os comensais não utilizam máscaras de proteção. No entanto, caso existam áreas de alimentação arejadas, ainda que cobertas, é possível recomendar que o consumo local se dê nesses locais. Dessa forma, desde que a área possua ventilação adequada, na Fase Amarela, é possível recomendar a possibilidade de consumo local ao ar livre ou em áreas arejadas, com rigorosa observância das demais indicações a respeito de capacidade restrita e adoção dos protocolos padrão e setoriais específicos. Ademais, entendemos que a liberação de consumo local em tais ambientes na Fase Amarela deve estar condicionada ao horário limite de 17h. Assim, é possível garantir a oferta de alimentação a trabalhadores, durante a jornada laboral, mas sem incentivar o consumo local em bares, restaurantes e similares com fins de lazer e entretenimento, com potencial para gerar aglomerações e, portanto, ampliar o risco de contágio entre consumidores/comensais.”

  1. Quadra de Tênis

Em função do plano de abertura gradual dos setores econômicos no Estado de São Paulo, não existe mais respaldo legal que autorize a manutenção do fechamento de áreas comuns.

Assim, para o âmbito condominial sugere-se aplicar por similitude a outras atividades descritas no Decreto Estadual e Portaria Municipal a mesma redução de capacidade e horários para o funcionamento dos locais, ou considerar outras possibilidades que atendam o condomínio, desde que tais parâmetros sejam justificáveis e de preferência sejam ratificados ou aprovados em assembleia.

Especificamente quanto a utilização das quadras, em âmbito Municipal conforme PORTARIA DA PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO 724, DE 10 DE JULHO DE 2020:

Em quadras:

- Não será permitido acompanhantes no local, e tampouco atletas fora do horário dos seus jogos;

- Não será permitido contato físico, nem entre atletas, nem com professores;

- As aulas deverão ser individuais;

- O recolhimento das bolas deverá ser feita por uma única pessoa, seja ela professor, funcionário, ou aluno responsável.

  1. Áreas da piscina

Em função do plano de abertura gradual dos setores econômicos no Estado de São Paulo, não existe mais respaldo legal que autorize a manutenção do fechamento de áreas comuns.

Assim, para o âmbito condominial sugere-se aplicar por similitude a outras atividades descritas no Decreto Estadual e Portaria Municipal a mesma redução de capacidade e horários para o funcionamento dos locais, ou considerar outras possibilidades que atendam o condomínio, desde que tais parâmetros sejam justificáveis e de preferência sejam ratificados ou aprovados em assembleia.

Especificamente quanto as piscinas, em âmbito Municipal conforme PORTARIA DA PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO 724, DE 10 DE JULHO DE 2020:

Em piscinas:

- Dividir a piscina em salas de aula com separação por raias, de acordo com o nível de aprendizagem da turma. Para reduzir o número de alunos na piscina, recomenda-se diminuir a duração das aulas;

  1. Demais áreas

Em função do plano de abertura gradual dos setores econômicos no Estado de São Paulo, não existe mais respaldo legal que autorize a manutenção do fechamento de áreas comuns.

Assim, para o âmbito condominial sugere-se aplicar por similitude a outras atividades descritas no Decreto Estadual e Portaria Municipal a mesma redução de capacidade e horários para o funcionamento dos locais, ou considerar outras possibilidades que atendam o condomínio, desde que tais parâmetros sejam justificáveis e de preferência sejam ratificados ou aprovados em assembleia.

Protocolos de saúde e uso de máscaras

Devem ser observados para todas as áreas comuns  os protocolos da organização mundial de saúde, secretarias municipais, estaduais e ministério da saúde quanto ao distanciamento social e medidas de saúde, tais como a disponibilização de álcool em gel 70% para higienização das mãos, recursos para higienização das solas do sapato, como um borrifador com álcool 70% ou água sanitária e ainda o uso obrigatório de máscaras nas áreas comuns ( LEI Nº 14.019, DE 2 DE JULHO DE 2020)

Conclusão:

 Da mesma forma que os serviços e setores econômicos descritos no ANEXO I e II do Decreto nº 65.044, de 3 de julho de 2020 em vigência no Estado de São Paulo e PORTARIA DA PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO 724, DE 10 DE JULHO DE 2020, podem funcionar com  capacidade e horários reduzidos, os condomínios  por analogia podem se fazer valer da mesma proporção e autorizar a realização de serviços dentro de unidades e áreas comuns, sejam obras, reformas ou outros. Ou ainda, criar critérios justificáveis que devem passar por aprovação do conselho e/ou assembleia de condôminos.

Ressaltamos que a manutenção do fechamento de áreas comuns não encontra mais respaldo legal no presente momento considerando os decretos em vigência que tratam da abertura gradual de setores e serviços. O que deve ser deliberado e discutido pela massa condominial é a forma de abertura das áreas considerando questões de saúde e segurança aos seus usuários.

 A manutenção do fechamento de áreas comuns, independente do momento vivido em função da Covid-19, somente poderá ser sustentado no ambiente condominial com embasamento legal através de:

  1. Leis que mencionem especificamente o condomínio;

      b) Leis que mencionem quanto ao funcionamento de espaços privados de uso   coletivo ou,

     c) Através interpretação por analogia dos decretos em vigência.

 E agora, considerando a fase amarela na Cidade de São Paulo, não existe impedimento legal para o funcionamento de academias, áreas comuns ou realização de obras, apenas a possibilidade de se deliberar quanto as restrições de horários e limites de pessoas por espaço. 

 

Rodrigo Karpat - especialista em direito imobiliário e questões condominiais. Coordenador de Direito Condominial na Comissão Especial de Direito Imobiliário da OAB-SP e Membro da Comissão Especial de Direito Imobiliário da OAB Nacional. 

 

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