Patrícia Santos, especialista em gerenciamento da raiva
Sabemos que a raiva tem uma reputação negativa
quando comparada a outras emoções e a causa pode estar nas crenças, bem como na
manifestação óbvia de seus resultados quase sempre destrutivos, como agressão e
violência. De fato, muitos acreditam que estaríamos melhores se a raiva não
existisse. O que precisa ser entendido, no entanto, é que todas as emoções são
apropriadas em determinadas circunstâncias, quando experimentadas em um nível
ideal.
A raiva não é apenas uma reação agressiva,
muitas vezes o seu papel principal é, na verdade, fornecer informações que
permitam interagir melhor com o mundo e com nós mesmos. Até a raiva pode ter
qualidades valiosas e, quando identificada ainda na intensidade leve à
moderada, pode ajudar a melhorar a nossa vida e o mundo ao nosso redor. Listei
aqui, portanto, dez bons motivos para sentirmos raiva e percebermos como ela
pode ser benéfica, quando administrada de forma apropriada. São eles:
1. Ela promove a sobrevivência
Para que possamos nos defender de um inimigo,
de um perigo, nos proteger contra uma agressão. Nesses momentos, a raiva é
ativada automaticamente e, de forma muito positiva e na medida certa, pode nos
levar a reagir e a agir com rapidez e força para nos proteger.
2. Conscientiza sobre a injustiça
Muitas vezes, sentimos raiva quando nos negam
direitos ou quando somos confrontados com insultos, desrespeito, injustiça ou
exploração. Esse tipo de raiva pode trazer mudanças positivas na sociedade e
aumentar o custo social do mau comportamento.
3. Auxilia a satisfazer suas necessidades
Os indivíduos que experimentam e demonstram sua
raiva adequadamente estão em uma posição melhor para satisfazer suas
necessidades e controlar seu destino, muito diferente daqueles que acabam
suprimindo sua raiva. A raiva está relacionada a uma profunda necessidade de
controle e protege o que é nosso. Ajuda- a sentir-se responsável, ao invés de
impotente.
4. Energiza e motiva a resolver problemas
Nas situações do dia a dia, a raiva serve como
uma força positiva para motivar a defender o que acreditamos e encontrar, de
forma criativa, soluções para os desafios e problemas do cotidiano. Se as
coisas não estão do jeito que deveriam estar e precisam mudar, a raiva
impulsiona a fazer algo e motiva a encontrar soluções rapidamente.
5. Ajuda a conquistar metas
A raiva impulsiona a buscar os objetivos e as recompensas
desejadas. Quando não conseguimos o que queremos, a raiva é desencadeada e
indica que nos afastamos de nossas metas. A raiva tenta eliminar o que impede
de realizar nossos desejos, mas, isso é algo que energiza e nos leva a agir
para alcançar nossos objetivos, trabalhando em direção aos ideais.
Surpreendentemente, injeta otimismo.
6. Protege valores e crenças
A raiva serve como um indicador e regulador
social e pessoal de valor, que é ativado quando nossos valores não estão em
harmonia com aquela situação que enfrentamos. Dessa forma, nos conscientiza de
nossas crenças profundas e do que defendemos. Também motiva a corrigir as
discrepâncias e a tomar medidas para mudar a situação (ou crenças) para alinhar
a realidade que enfrentamos com nossos valores.
7. É uma excelente ferramenta de
negociação
A raiva leva a responder aos conflitos e
negociações em benefício próprio. Isso faz com que outras pessoas repensem suas
posições contra aquilo que estamos defendendo no momento.
8. Proteção para sentimentos dolorosos
Semelhante aos mecanismos de defesa, ela também
serve para proteger de uma dor, de uma situação, de um sentimento como, por
exemplo, ter sido rejeitado, abandonado, não amado; coisas que são consideradas
quase que insuportáveis.
9. Coloca limites
A raiva ajuda você a descobrir seus limites e
comunicá-los.
10. Autoconhecimento
A raiva fornece insights sobre si mesmo, quando
há um aprofundamento para entender a sua fonte. Também é um eficaz indicador
sobre falhas e deficiências. Se analisada de forma construtiva, as atitudes
durante as fortes emoções e períodos de irritabilidade, podem levar a
resultados positivos, melhorando a inteligência emocional.
Portanto, da próxima vez que você sentir que
está ficando com raiva, pergunte-se o que ela pode estar lhe mostrando e faça o
movimento sem violência para tentar contornar a situação.
Patrícia Santos
- Consultora, escritora e palestrante,
docente em cursos de pós-graduação em diversas instituições pelo país. É especialista
em Anger Management (Gerenciamento da Raiva), pela National Anger
Management Association - NAMA de Nova Iorque, EUA, onde também é fellow. É
coautora do livro "Raiva, quem não tem?". A obra é um verdadeiro crossfit
emocional que não só discorre sobre o tema, mas também ensina o leitor a medir,
encarar, transformar e a seguir em frente.
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