Eu usufruo muito do que o feminismo faz e fez por mim e faço por ele muito pouco. Ou quase nada.
Eu me solidarizo pelas causas. Concordo com a
maioria das pautas. Mas não entro no movimento. Não vou à luta. Não faço valer
o lugar que as mulheres que me precederam me colocaram.
Sou uma feminista de araque.
Não sou a favor de extremismos. Tampouco sou a
favor de discursos violentos. E acabo seguindo por um caminho menos polarizado
e até um tanto quanto covarde.
Meu pai diz que quem não escolhe um lado é porque
não tem coragem de assumir de que lado está. Covardia disfarçada de
neutralidade.
Talvez eu não seja uma feminista de araque. Talvez
eu só seja uma covarde. Repleta de vontade de sair por aí exigindo nosso lugar
e sem coragem de gritar.
Talvez eu só tenha uma maneira mais pragmática de
exigir um lugar. Afinal, a comunicação é meu forte e eu criei um espaço de
fala, através da escrita. Eu acredito que cada um tem seu jeito de mudar o
mundo. Mas a minha palavra foi vã em tantos momentos em que eu precisava ter
gritado.
A covardia me coloca em uma posição de neutralidade
onde não há. E eu fico me protegendo sob os muros que a vida me deu como
escudos para violências tão cotidianas.
Estou aterrorizada com o fato de até hoje eu não
ter lutado por nenhuma causa. Por não ter protegido de alguma maneira as
meninas que são violentadas, as mulheres que são agredidas e as feministas que
gritam sozinhas, que não são covardes e que sabem o seu lugar.
Perdoem-me, mas sou uma feminista camuflada,
dissolvida nos pilares de uma sociedade tradicionalmente machista, agressiva,
injusta e maltratada.
Perdoem-me, mulheres, por todas as banalidades que
escrevo e por não estarmos lado a lado nessa luta que está só começando.
Perdoem-me, pois sou uma feminista em construção.
Izabella de Macedo - mediadora de conflitos e
autora do livro Mulheres Normais. É graduada em
Letras e advogada com mestrado em Educação.
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