Médico geriatra, nutrólogo e cardiologista Juliano Burckhardt faz uma análise da complexa e intrincada rede envolvida na imunidade do organismo no combate ao novo coronavírus
O Brasil tem mais de 100 mil mortes pelo novo coronavírus. Apesar de ser uma
doença associada a idosos, ao analisar o perfil das vítimas é possível
encontrar diversos jovens e até crianças. A mesma diversidade se observa ao
analisar os pacientes que se recuperaram, há casos, inclusive, de pessoas com
mais 100 anos. Surge a questão sobre como uma pessoa com mais de 90 anos se
recupera da doença enquanto outra de 20 não resiste. Não existe uma única
resposta, mas o nutrólogo, geriatra e cardiologista Juliano Buckhardt, que é
integrante da American Heart Association - International Membership e Membro
Titular da International Colleges for Advancement of Nutrology, detalha um
pouco do complexo sistema de defesa do organismo e suas variáveis. “Atividade
física, obesidade, alimentação, quantidade de vitaminas e minerais no corpo e
microbiota do intestino são parte dos fatores”, explica o médico.
Ele destaca que o novo coronavírus ainda é um inimigo desconhecido e, portanto,
a cada dia há novas surpresas e descobertas, “estamos lidando com um inimigo
oculto, a comunidade científica tem se dedicado a pesquisar, não é uma tarefa
fácil por ser um inimigo totalmente desconhecido e com características únicas”,
destaca Burckhardt. Inicialmente eram grupo de risco os idosos e havia a crença
de que o vírus se adaptaria melhor a ambientes frios, teses que caíram por
terra. No Brasil, o Nordeste e o Norte apresentam números elevados, mesmo sendo
regiões de clima quente durante todo o ano. Outro ponto, de acordo com o
médico, foi a mudança da faixa etária: “notou-se principalmente no Brasil que a
população mais afetada tem entre 50 e 59 anos, além de casos e óbitos entre
jovens e crianças, enquanto que a OMS considera idoso quem tem acima de 60, foi
um comportamento atípico de um vírus até então associado a pessoas mais
velhas”.
O integrante de American Heart Association e da International Colleges for
Advancement of Nutrology fala sobre algumas pesquisas realizadas nestes meses
de pandemia ao redor do mundo. Uma delas foi realizado na Alemanha, “os
pesquisadores descobriram que pacientes de diversas idades com baixa vitamina D
desenvolveram formas mais graves da Covid-19. Por outro lado, aqueles com níveis
satisfatórios tiveram sintomas mais brandos, enquanto que quem tinha níveis
elevados chegou a ficar assintomático”.
Outro estudo mencionado foi realizado nos estados Unidos sobre a relação entre
obesidade e casos graves e óbitos. “Um estudo de recente publicado no
periódico científico The Lancet afirmou que o obeso tem quatro vezes mais
chances de desenvolver a forma grave da Covid-19 que alguém dentro do peso
saudável”, afirma o médico. Ele explica que um estudo da Universidade
norte-americana John Hopkins primeiro analisou idosos, vistos como mais
suscetíveis em função das comorbidades associadas à idade. Até que surgiram
diferenças significativas entre obesos e não obesos, a análise foi então
ampliada para obesos não idosos e se constatou que quem está acima do peso
ideal, em qualquer idade, tem mais chances de desenvolver a forma grave da
Covid-19 que um idoso com peso normal, “chamou atenção que obesos jovens tinham
um prognóstico tão ruim ou pior que os idosos não obesos”, explica Burckhardt.
O peso é frequentemente resultado do estilo de vida. O médico elenca a prática
de atividades físicas entre fatores relevantes. “Exercícios aumentam a irisina,
hormônio que que faz uma proteção natural contra o coronavírus”, afirma. Sem
contar hábitos alimentares, microbiota intestinal, quantidade de vitaminas D e
C e de Zinco no organismo, “o Zinco é um mineral que ninguém fala a respeito,
mas ele dificulta a replicação do vírus, foi comprovado que quem tinha níveis
maiores de zinco teve melhores respostas à doença”. O Dr. Juliano Burckhardt
alerta, no entanto, que estes aspetos não poder ser considerados uma vacina ou
a cura para a Covid-19, “são apenas estratégias que usamos para minimizar os
riscos”, alerta.
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