A dolarização
é adequada para todos os perfis de investidores ou depende de objetivos e
tolerância ao risco?
A dolarização não é necessariamente adequada para
todos os perfis de investidores, pois depende em grande parte dos objetivos
individuais e da tolerância ao risco. Embora investir na maior bolsa de valores
do mundo atrelada à economia mais estável possa ser uma grande estratégia de
diversificação, a decisão de alocar ativos em dólares deve considerar a capacidade
e os objetivos financeiros do investidor.
Para investidores focados em títulos e que procuram
exposição a mercados robustos, uma alocação em dólares faz sentido, mas a
proporção alocada deve ser calibrada ao perfil de risco do investidor. Os
investidores conservadores podem optar por uma exposição limitada para
salvaguardar o seu capital, enquanto aqueles com maior apetite pelo risco podem
alocar uma parcela maior para explorar retornos potenciais. Em suma, a
dolarização é uma ferramenta poderosa, mas a sua adequação varia de acordo com
o contexto e as necessidades de cada investidor.
- Quais
setores da economia brasileira podem ser mais impactados por uma eventual
desvalorização ou valorização do dólar?
Os sectores positivamente impactados por um dólar
mais forte incluem a agricultura, a mineração, o papel e a celulosa, uma vez
que essas indústrias geram receitas em dólares através das exportações. Um
dólar mais forte aumenta a sua competitividade e rentabilidade no mercado
internacional.
Por outro lado, setores como o automóvel, o
farmacêutico, o petróleo e seus derivados e o retalho são afetados
negativamente por um dólar mais forte. Isso ocorre porque muitos dos produtos
vendidos localmente no Brasil estão atrelados a custos denominados em dólares,
o que os torna mais caros. As empresas que dependem de matérias-primas
importadas também enfrentam uma pressão financeira crescente, o que pode levar
a preços mais elevados ao consumidor e a margens de lucro reduzidas.
- Quais
são as melhores opções para quem deseja investir em ativos dolarizados,
como ETFs, ações estrangeiras ou fundos cambiais?
A escolha depende da capacidade financeira e dos
objetivos do investidor. Para quem tem patrimônio líquido acima de R$ 1 milhão,
o envio de recursos para o exterior pode ser vantajoso, pois o custo da remessa
é compensado pelos retornos potenciais e pelas oportunidades estratégicas
disponíveis nos mercados globais.
Para aqueles com um património líquido mais baixo,
as alocações locais através de ETFs são mais econômicas e práticas. ETFs como
WRLD11 (diversificação global), IVVB11 (índice S&P 500), BNDX11 (renda fixa
global) e USDB11 (renda fixa dos EUA) oferecem aos investidores brasileiros
acesso a ativos internacionais com custos reduzidos. No entanto, os ETFs locais
ainda acarretam riscos regulatórios e geográficos brasileiros, portanto a
abordagem ideal depende do equilíbrio entre conveniência, custo e necessidades
de diversificação.
- Investir
diretamente em empresas americanas é uma boa alternativa ou há outros
meios mais acessíveis para investidores brasileiros?
Investir diretamente em empresas americanas é uma
excelente forma de acessar oportunidades na maior bolsa de valores do mundo,
mas não é a única opção. Para os investidores brasileiros, existem formas mais
acessíveis de alcançar a diversificação global, como os ETFs negociados na B3,
a bolsa de valores do Brasil. Estes instrumentos permitem a exposição aos
mercados globais sem a necessidade de enviar fundos para o estrangeiro, reduzindo
assim as barreiras à entrada.
No entanto, investir através de ETFs locais ainda
acarreta riscos geográficos brasileiros, uma vez que esses ativos estão
vinculados ao ambiente econômico e regulatório local. Em última análise, a
escolha entre investimentos diretos no exterior e ETFs locais depende dos
objetivos do investidor, da capacidade financeira e da tolerância ao risco.
- Quais
erros os investidores devem evitar ao dolarizar parte do patrimônio?
O maior erro na dolarização de ativos é não adotar
uma perspectiva de longo prazo e agir movido pela emoção. Isto pode gerar
arrependimento, principalmente se o investidor decidir repatriar os recursos em
condições desfavoráveis, incorrendo em perdas desnecessárias.
Ao dolarizar ativos, é essencial reconhecer que
estes fundos devem permanecer no estrangeiro durante anos e só serem
recuperados em casos de absoluta necessidade. Os investidores devem mudar a sua
mentalidade, evitando a conversão constante dos seus ativos de volta para
reais, e em vez disso pensar em termos de “dois bolsos” – um em reais para
necessidades locais e outro numa moeda forte como o dólar para diversificação e
estabilidade. Esta abordagem estratégica garante que os benefícios da
dolarização sejam concretizados sem serem prejudicados por flutuações de curto
prazo ou decisões emocionais.
- Você
acredita que outras moedas, como o euro ou o yuan, podem ser alternativas
viáveis para diversificação cambial no portfólio?
Não, investir diretamente em empresas americanas
não é a única opção, pois para obter uma boa diversificação é necessário ter
acesso fácil tanto ao envio quanto à aplicação do patrimônio. A dolarização não
deve ser feita apenas para manter os recursos parados, mas para permitir
investimentos estratégicos que aproveitem as vantagens de uma moeda forte.
Atualmente, para brasileiros, tornou-se muito mais
simples dolarizar e investir em ativos no exterior graças a plataformas como a
XP Internacional, que oferecem acesso a mercados globais e uma ampla gama de
produtos financeiros. Além disso, a dolarização pode trazer benefícios
práticos, como a possibilidade de utilizar o dinheiro ou seus rendimentos
diretamente em viagens internacionais, sem preocupações com conversões
cambiais, dado que o dólar é amplamente aceito no mundo todo. Essa abordagem
une diversificação, segurança e conveniência.
- Quais
fatores econômicos e políticos influenciarão o movimento de dolarização em
2025?
A maior preocupação hoje é o cenário político, que
está diretamente ligado aos desafios fiscais do Brasil. O país enfrenta uma
situação crítica onde a maior parte dos gastos públicos são obrigatórios,
impedindo cortes imediatos e exigindo processos legislativos complexos no
Congresso e no Senado para eventuais ajustes. Isto sublinha a responsabilidade
premente da classe política em abordar eficazmente as questões fiscais.
Apesar das medidas de arrecadação de receitas, como
o restabelecimento das alíquotas do PIS e da Cofins, a nova tributação dos
combustíveis, a tributação da renda estrangeira e os impostos sobre bens
importados, mesmo com consecutivas arrecadações recordes de receitas, os gastos
públicos continuam a superar os níveis observados mesmo durante a pandemia de
COVID-19. É crucial que o governo “faça o seu trabalho de casa”, dando
prioridade aos cortes nas despesas e à eficiência fiscal antes de considerar
novos benefícios ou isenções. Sem fechar a “torneira da despesa”, a situação
fiscal tornar-se-á insustentável, agravando ainda mais os desafios económicos
do país.
- O que
podemos esperar do dólar frente ao real no próximo ano, considerando os
cenários globais e locais?
Na WIT, prevemos um dólar mais forte nos próximos
anos, especialmente em uma administração Trump adotar políticas protecionistas,
como o aumento de impostos sobre bens importados e a redução de impostos para
empresas e cidadãos americanos. Isto provavelmente fortaleceria o dólar em
relação a outras moedas em todo o mundo.
No entanto, o protecionismo poderá introduzir
desafios para a economia dos EUA. Por exemplo, evitar importações mais baratas
(por exemplo, um produto que custa 5 dólares da China) em favor de alternativas
nacionais mais caras (por exemplo, 10 dólares pelo mesmo produto) poderia levar
à inflação nos EUA. Além disso, este aumento de custos teria repercussões a
nível mundial, uma vez que os produtos fabricados nos EUA que dependem de
componentes importados (agora sujeitos a tarifas) se tornariam mais caros para
exportar, amplificando a inflação nas cadeias de abastecimento globais.
- Que
impactos positivos e negativos a dolarização podem ter nos portfólios dos
investidores brasileiros em 2025?
O principal benefício da dolarização da riqueza é
proteger o poder de compra e preservar o capital a longo prazo. Por exemplo,
nos últimos 30 anos desde o Plano Real, o dólar se valorizou
significativamente, passando de R$ 1,00 para cerca de R$ 6,00 (em 02/12). Isto
destaca como a detenção de ativos numa moeda mais forte como o dólar pode
proteger contra a desvalorização do real.
O principal risco está na volatilidade da moeda
brasileira, que pode criar uma falsa percepção de perdas no curto prazo. Por
exemplo, se um investidor comprar R$ 10.000 a R$ 6,00 (gastando R$ 60.000) e a
taxa de câmbio depois cair para R$ 5,40, o valor em reais cairia para R$
54.000, aparentemente uma perda de R$ 6.000 (10%). Porém, o investidor ainda
detém US$ 10 mil, mantendo o valor em dólares. Em vez de se concentrar nas
flutuações de curto prazo, esta situação poderia ser vista como uma
oportunidade para fazer remessas adicionais a um custo mais baixo em dólares,
reforçando uma estratégia de longo prazo.
- Como
a evolução das novas tecnologias, como as moedas digitais de bancos
centrais (CBDCs), pode influenciar a visão sobre o dólar como ativo
seguro?
As Moedas Digitais do Banco Central (CBDCs)
oferecem maior controle e transparência nas transações, proporcionando
segurança e estabilidade ao sistema financeiro. No entanto, é crucial lembrar
que estas moedas digitais permanecem ligadas às economias ou aos países que as
emitem, o que significa que a sua força depende da estabilidade dessas nações.
Embora as CBDC possam representar uma ameaça potencial ao domínio do dólar, a
sua implementação também cria oportunidades para os Estados Unidos consolidarem
a sua liderança global, dada a sua influência económica e capacidade de
inovação tecnológica.
Sendo a maior economia do mundo, os Estados Unidos
já lideram muitos avanços tecnológicos importantes, dando ao dólar uma vantagem
competitiva mesmo num cenário de crescente adoção de CBDC. A integração destas
tecnologias no sistema financeiro global irá provavelmente reforçar a posição
do dólar como referência, solidificando-o ainda mais como moeda principal para
transações internacionais. Assim, os CBDCs podem não só desafiar o dólar, mas
também servir como uma ferramenta para expandir o seu domínio no futuro sistema
financeiro digital.
- Em
um cenário de maior instabilidade, a dolarização pode ser uma estratégia
defensiva ou ofensiva para os investidores em 2025?
A instabilidade nos mercados financeiros aumenta
significativamente a volatilidade, tornando mais difícil avaliar os ativos e
planear economicamente. Sem clareza quanto às perspectivas, as decisões
empresariais e de investimento tornam-se mais arriscadas, exacerbando a
incerteza. Neste contexto, o dólar destaca-se como uma ferramenta de proteção,
impulsionada pela estabilidade política e econômica dos Estados Unidos.
Enquanto países como o Brasil enfrentam mudanças abruptas e incertezas que
afetam as suas moedas, os EUA proporcionam maior previsibilidade e confiança,
reforçando o papel global do dólar.
Com isso, o dólar é amplamente utilizado como porto
seguro durante crises, tanto por investidores quanto por empresas que buscam
salvaguardar seus ativos contra a desvalorização do real. O dólar mitiga os
efeitos da volatilidade local, oferecendo maior segurança nos contratos
internacionais e nas reservas financeiras. A solidez institucional e econômica
dos EUA sustenta diretamente a confiança global no dólar, solidificando o seu
papel como âncora em meio à incerteza, enquanto o Brasil permanece mais vulnerável
a flutuações e desafios internos.
João Gentina - especialista em investimentos no exterior da WIT Invest
WIT - Wealth, Investments & Trust
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