Pesquisar no Blog

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Síndrome Alcoólica Fetal: nem um copo é seguro



Ser mulher é só para quem pode. Traz inúmeros desafios. Ser mãe igualmente. Ser mulher e mãe, ainda por cima no Brasil, país que as desrespeita incessantemente, vai além: requer força, resiliência e atenção o tempo todo.

Não é exagero. Veja esse dado: de acordo com pesquisa do Datafolha realizada em janeiro deste ano, metade das mães brasileiras é solo. Responsabilidades e tudo mais em dobro.


O quadro se agrava quando elas saem em busca do pão de cada dia para os filhos. Levantamento de 2022 da Condurú Consultoria aponta que 70% das trabalhadoras que são mães têm dificuldades para se colocar ou recolocar no mercado.


Sem amparo, a gestação e a maternidade podem se tornar aventura amarga. Amargor por vezes descontando na bebida.


O consumo pesado de álcool, ou seja, quatro ou mais doses, aumentou 4,25% entre as brasileiras nos últimos dez anos – é o que aponta o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), com dados do DATASUS 2021.


Mesmo grávidas, há aquelas que não param de beber, seja porque não conseguem, porque não querem ou porque não são devidamente orientadas.

Durante o pré-natal, acompanhamento indispensável para que sejam prevenidas e detectadas patologias maternas e fetais de maneira precoce, é comum que as gestantes recebam dos médicos uma recomendação clássica: “evite beber”.


“Evitar” é um verbo inexato, faço o alerta. Já escutei de diversas mulheres que o consumo de álcool na gravedez não deve ser frequente, mas que uma tacinha de vinho ou um copinho de cerveja, uma ou duas vezes ao longo de nove meses, não matará ninguém.


É verdade, não matará. No entanto, pode ocasionar o desenvolvimento da Síndrome Alcoólica Fetal (SAF). A bebida ingerida pela mãe atravessa a proteção da placenta e diminui a quantidade de oxigênio que o embrião recebe.


O desenvolvimento cerebral e a formação óssea do bebê são, portanto, prejudicados. Ao nascer e à medida que envelhece, ele pode apresentar anomalias faciais, como fissura palpebral; restrição de crescimento, como baixo peso; alterações de neurodesenvolvimento do sistema nervoso central, como microcefalia; anormalidades comportamentais, como dificuldade de linguagem; e anomalias congênitas, como problemas cardíacos.


A SAF “clássica” é manifestação mais severa dentro do espectro de desordens fetais alcoólicas, ou Fetal Alcohol Spectrum Disorders (FASD). Ainda que não se enquadrem no diagnóstico completo da síndrome - que é complexo e não conta com um exame laboratorial específico, dependendo majoritariamente da confirmação da mãe quanto ao consumo alcoólico -, crianças com FASD enfrentam uma série de tribulações na infância. Mais comuns do que as mudanças físicas são as comportamentais, de atrasos de memória, fala e audição a dificuldades na aprendizagem e no relacionamento interpessoal.


Pesquisas da Academia Americana de Pediatria indicam que esses meninos e meninas têm vida dura. Quando crescem, tendem a apresentar problemas de saúde mental e de comportamento, como o desrespeito às leis, dependência física e emocional de terceiros e consumo drogas.


No mundo, para cada indivíduo com a SAF completa, estima-se que existam ao menos 10 com outras desordens, isto é, de 1% a 3% da população.


Os dados no Brasil não são sólidos, em virtude da subnotificação da doença, da complexidade do diagnóstico e do aumento da ingestão de bebidas alcoólicas entre as mulheres. Contudo, o Ministério da Saúde já chegou a estimar um caso para cada 1.000 nascidos vivos aqui. Não é pouca coisa.


Embora seja possível garantir qualidade de vida às pessoas afetadas, as desordens fetais alcoólicas não têm cura. Daí a necessidade de investir em informação para evitar novos casos.


Nada de repetir frases automáticas: os profissionais devem ser o mais claros possível, enfatizando que não há nível seguro de consumo durante a gestação e que o álcool pode mudar para sempre a vida do bebê e da família inteira.


Instituições como a Sociedade Brasileira de Clínica Médica, a Sociedade Brasileira de Pediatria, o Instituto Olinto Marques de Paulo (Iomp), a Associação Médica Brasileira e Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia vêm trabalhando - permanentemente - para conscientizar a todos os médicos, aos profissionais de saúde e às futuras mães.


A mídia também tem aberto espaço para o tema ainda pouco discutido fora dos 9 de setembro, data em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) destaca o Dia de Prevenção da Síndrome Alcoólica Fetal.


Já a indústria de bebidas tem de ser instada a adotar advertências sanitárias e embalagens padronizadas sobre os riscos da ingestão de álcool na gravidez - a exemplo do que faz a do tabaco, por obrigatoriedade disposta no artigo 11 da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT). O lucro das empresas não pode atropelar o acesso à boa informação e a proteção às vidas que estão por vir.

Além disso, é tempo de nos perguntarmos o que tem levado mulheres grávidas a beberem cada vez mais  e investigar as raízes do problema. Um país saudável, como o que queremos ser, é aquele que cuida dos filhos sem esquecer as mães.

 

Antonio Carlos Lopes - presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica


Sedentarismo entre jovens aumenta riscos de doenças cardiovasculares nos adultos

Dr. Rizzieri Gomes, cardiologista focado na mudança do estilo de vida (MEV) de seus pacientes, alerta para os efeitos a longo prazo no organismo 



Uma pesquisa interna do Hospital do Servidor Público (HSPE) em São Paulo, conduzida pela médica do esporte Silvana Vertematti, mostrou um aumento de adolescentes que não praticam atividades físicas. Dos pacientes atendidos no local, entre 12 e 18 anos, 86% são considerados sedentários. Esse número pode ser uma explicação para o que já levantou o Ministério da Saúde: entre 2012 e 2022, a porcentagem de jovens de 10 a 19 anos diagnosticados com sobrepeso, obesidade ou obesidade grave aumentou de 21% para 31%.

Segundo o Dr. Rizzieri Gomes, cardiologista, focado na mudança do estilo de vida (MEV) de seus pacientes, “fazer exercício não é algo meramente estético, é sobre saúde, especialmente para o preparo do corpo para o envelhecimento, uma vez que doenças cardiovasculares são a principal causa de mortes no mundo”, aponta o médico, referindo-se ao dado da Organização Panamericana da Saúde, que afirma que mais pessoas morrem anualmente por essas enfermidades do que por qualquer outra causa, estimando que 17,9 milhões de pessoas morreram por esse motivo em 2016, representando 31% de todas as mortes em nível global.

“Ultimamente a gente tem percebido um aumento em pacientes mais jovens de doenças cardiovasculares, como a hipertensão. Hoje, a faixa mais prevalente de novos hipertensos é entre trinta e quarenta anos; antigamente, isso era visto em pessoas sexagenárias”, analisa o Dr. Rizzieri. “Atualmente, há uma precocidade de doenças cardiovasculares, o aumento do risco de obesidade e, consequentemente, de diabetes ou hipertensão arterial precoce, dois dos fatores de risco principais para as piores doenças cardiovasculares, que são infarto e AVC”, alerta.

O especialista vê com bons olhos as campanhas de conscientização focadas nos jovens. “É importante ter esse senso crítico sobre a questão e incentivar a adoção de hábitos mais saudáveis e a prática de atividades físicas, pois esse comportamento juvenil adolescente terá como resultado mais pacientes adultos doentes, mais dependentes de tratamento medicamentoso e mais dependentes de atendimento hospitalar.

Algumas sugestões do Dr. Rizzieri para os pais estimularem os jovens a praticar atividades físicas são:

- Sugerir uma atividade que seja prazerosa para eles. Nem todos os adolescentes gostam de esportes tradicionais, por isso é importante encontrar alguma atividade que o jovem aprecie e sinta-se bem fazendo.

-Estabelecer metas realistas. Ter objetivos alcançáveis pode ajudar a manter os adolescentes motivados e realizados, enquanto os irrealistas podem fazê-los desistir logo no começo.

- Fazer da atividade física uma rotina. Incorporar os exercícios no dia a dia do adolescente, seja caminhando até a escola ou fazendo uma caminhada após o jantar.

- Estimular pelo exemplo. Os adolescentes são mais propensos a se envolver em atividades físicas se enxergarem nos adultos um modelo positivo.Incentivar a participação em esportes de alguma comunidade à qual o jovem pertença, como a escola, condomínio ou vizinhança; 

- Participar de uma equipe ou clube pode proporcionar um senso de pertencimento e incentivar a prática regular de exercícios.

- Fornecer equipamento adequado. Além de diminuir o risco de lesões e machucados, ter o equipamento certo pode fazer uma grande diferença na disposição do adolescente para se exercitar.

- Elogiar o esforço, não apenas o resultado. Reconhecer o comprometimento do adolescente com a atividade física pode ajudar a consolidar autoestima e incentivar a continuar se exercitando.

- Tornar a atividade física divertida. Jogos, competições amigáveis e atividades ao ar livre podem tornar o exercício mais divertido e atraente.

- Incentivar a prática com amigos. Os adolescentes são mais propensos a se exercitar se puderem fazê-lo com o seu grupo de amizades.

- Ensinar sobre os benefícios do exercício para a saúde mental e física. Compreender os benefícios do exercício pode motivar os adolescentes a se manterem ativos.
 


Dr Rizzieri Gomes - médico cardiologista, focado na mudança do estilo de vida (MEV) de seus pacientes, como ele mesmo define: tratar de saúde em vez de doenças. Foi o responsável pela implantação do protocolo de dor torácica no Hospital Check Up, de Manaus e por transformar a maneira como o infarto agudo do miocárdio é tratado na cidade, reduzindo a mortalidade por infarto agudo.
https://linktr.ee/dr.rizzieri

 

Para assistir: 4 séries médicas que abordam a endometriose

Especialista fala da importância da informação para o diagnóstico precoce e indica produções de sucesso que mostram mulheres enfrentando a condição



A endometriose afeta 8 milhões de mulheres no Brasil e 200 milhões no mundo todo, porém ainda é pouco falada fora dos consultórios médicos. A condição, que pode levar anos para ser descoberta, pode comprometer a qualidade de vida das mulheres, inclusive profissionalmente. “A informação é fundamental para que mais mulheres saibam identificar os sinais da doença e busquem ajuda médica. Só assim conseguiremos diagnósticos precoces, um fator que impacta muito o tratamento e a qualidade de vida da mulher”, destaca o Dr. Patrick Bellelis, ginecologista especialista em endometriose.

 

Pensando nisso, Bellelis indica uma lista com quatro episódios de séries de TV famosas que abordam essa temática e ajudam a ampliar a discussão e a conscientização em torno dela:


 

1 - Grey’s Anatomy: temporada 18, episódio 10 (Star+)


O episódio da 18ª temporada da principal série médica em exibição nas telas traz a paciente Francesca de volta ao hospital, com dores nas costas. Ela decidiu agendar uma consulta com um ginecologista e em pouco tempo a médica responsável deduziu que as dores eram um sintoma de endometriose. Durante o episódio, a condição é abordada de forma bem natural, mostrando como uma paciente com endometriose precisa ser ouvida e compreendida durante uma consulta.


 

2 - The Good Doctor: temporada 2, episódio 3 (Globoplay)


Em uma história mais delicada, o Dr. Melendez realiza uma cirurgia para tratar a endometriose de uma paciente e recuperar sua fertilidade. A condição da mulher, contudo, é mais grave do que o normal, o que leva a equipe médica a realizar uma histerectomia para salvar a sua vida.


 

3 - House: temporada 5, episódio 14 (Globoplay e Amazon Prime Video)


O episódio número 100 da série traz a história de uma médica que havia abandonado a carreira para viver melhor e sem estresse, porém, ela começa a passar mal durante um compromisso, com dores abdominais e na área dos rins. Seus lábios também ficam azuis. Após uma consulta com a equipe do Dr. House, ele identifica que se trata de um caso de endometriose ectópica.


4 - Sob Pressão: temporada 5, episódio 3 (Globoplay) 


Quem assiste a série ‘Sob Pressão’, da rede Globo, pôde acompanhar o drama de uma paciente que chega ao hospital com muitas dores e tem receio de falar sobre o desconforto que sente nas relações sexuais. Um dos maiores medos de Raíssa é não poder ter filhos e isso prejudicar a relação com o marido.

 

Clínica Bellelis - Ginecologia

Patrick Bellelis – ginecologista. Doutor em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP); graduado em medicina pela Faculdade de Medicina do ABC; especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Laparoscopia e Histeroscopia pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); além de ser especialista em Endoscopia Ginecológica e Endometriose pelo Hospital das Clínicas da USP. Possui ampla experiência na área de Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva, atuando principalmente nos seguintes temas: endometriose, mioma, patologias intrauterinas e infertilidade.


Varizes e Safena: entenda esta relação e a importância do check-up vascular

Dra. Helen Pessoni, especialista em saúde vascular, esclarece a influência das veias safenas no sistema circulatório, enfatizando que a ocorrência de problemas nesses vasos sanguíneos pode ocasionar o surgimento de varizes.

 

As varizes são um problema vascular comum que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Uma questão frequentemente associada a elas é o estado das veias safenas, que desempenham um papel crucial no sistema circulatório. 

Essas veias dilatadas e tortuosas, que geralmente se desenvolvem nas pernas, podem causar desconforto, dor e inchaço, afetando significativamente a qualidade de vida e a própria saúde. Mas afinal, qual a relação entre esse problema vascular e as safenas?

A Dra. Helen Pessoni, cirurgiã vascular e especialista em varizes, explica que as veias safenas são um conjunto de vasos profundos e superficiais que transportam o sangue das pernas de volta ao coração. Por desempenharem um papel crucial no sistema circulatório, ter problemas com essas veias pode contribuir para o desenvolvimento de varizes.

Mas esta questão pode ir além. "A relação entre varizes e veias safenas é complexa. Quando as veias safenas não funcionam adequadamente, o sangue pode se acumular nas veias superficiais, aumentando o risco de varizes. Portanto, é vital que as pessoas com varizes considerem um check-up vascular de forma regular para avaliar o estado de suas veias safenas”, diz a Dra. Pessoni. 

O check-up vascular é uma ferramenta valiosa para detectar problemas nas veias e garantir uma circulação saudável. Através de exames não invasivos, como o ultrassom, os especialistas podem avaliar a condição das veias e identificar qualquer anomalia, principalmente nas safenas, podendo evitar problemas futuros além das varizes, como:

  • Trombose venosa profunda, que é a formação de coágulos sanguíneos nas veias profundas das pernas;
  • Insuficiência venosa crônica, causando inchaço, dor e problemas de circulação nas pernas;
  • Angina, que é uma dor no peito causada pela falta de suprimento sanguíneo adequado para o músculo cardíaco;
  • Infarto do miocárdio, devido à obstrução desses vasos, podendo aumentar o risco de um ataque cardíaco, que ocorre quando o fluxo sanguíneo para uma parte do coração é bloqueado;
  • Doença arterial coronariana, resultando em diversos problemas cardíacos, incluindo angina, infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca.

A especialista também enfatiza a importância de não negligenciar os sintomas das varizes, como dor, sensação de peso nas pernas, coceira e inchaço. "A detecção precoce e o tratamento adequado das varizes podem prevenir complicações mais graves, como as explicadas anteriormente", complementa. 

Portanto, é crucial que qualquer indivíduo que apresente varizes ou esteja preocupado com a saúde vascular busque a orientação de um especialista. Essa avaliação assegura um papel vital na prevenção de diagnósticos futuros, garantindo uma melhor qualidade de vida e bem-estar. 


Helen Pessoni - médica membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV) e especialista em cirurgia vascular e endovascular pela Associação Médica Brasileira (AMB).

 

Outubro Rosa: advogado elucida os direitos trabalhistas das mulheres diagnosticadas com câncer de mama

André Leonardo Couto, da ALC Advogados, comenta que o saque do FGTS, PIS/PASEP e auxílio-doença podem ser solicitados; se houver dispensa após tratamento, a justiça pode ser acionada


O mês de outubro é conhecido nacionalmente como Outubro Rosa, campanha que tem como objetivo conscientizar a população a respeito da prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama. No entanto, na esfera trabalhista nem todas as mulheres sabem quais são os direitos que têm ao serem diagnosticadas com a doença. Por isso, André Leonardo Couto, da ALC Advogados, com mais de 25 anos de experiência na área jurídica, elucida alguns pontos importantes.

De acordo com André Leonardo Couto, ao tomar conhecimento da situação, as trabalhadoras devem, primeiramente, conversar com seus médicos sobre o tratamento. Desta maneira, para que seja possível verificar se e como ocorrerá o afastamento, além do período necessário. “Depois da avaliação, a mulher precisa requerer o atestado médico específico para o benefício, seja ele com período de até 15 dias para apresentar à empresa, ou atestado, acima desse período, direcionado ao encaminhamento do auxílio-doença, saques de FGTS e PIS/PASEP. Lembrando que no caso do afastamento do trabalho por até 15 dias, a trabalhadora apenas precisa apresentar o atestado médico no RH. Com isso, o pagamento desses dias será de responsabilidade do empregador e ela não terá prejuízo de salário”, explica.

Já para ter o direito ao saque FGTS e PIS/PASEP, conforme a Lei 8.036/1990 e a Resolução 1/1996 do Conselho Diretor do Fundo de Participação, o advogado lembra que é preciso seguir algumas regras. “As trabalhadoras que possuam carteira de trabalho assinada podem sacar esses dois benefícios integramente após perícia médica, que comprove a necessidade do tratamento. Já o dinheiro estará disponível em até cinco dias úteis. Esses benefícios servirão para auxiliar a profissional nesse momento complicado, ou seja, onde os custos são muito altos nos cuidados da saúde. Lembro que o saque do FGTS e do abono salarial podem ser feitos na Caixa Econômica Federal, nos casos do FGTS e do PIS e no Banco do Brasil, nos casos do PASEP. É bem prático”, diz.


Auxílio-doença

Questionado sobre a impossibilidade de trabalhar por causa do tratamento, André Leonardo Couto adiciona que elas podem requerer o auxílio-doença. “Se chegar a esse ponto, a mulher tem direito a receber o auxílio concedido pelo INSS - Lei 8.213/1991. Mas para isso, a portadora deve comparecer ao Posto da Previdência Social mais próximo de sua residência para marcar a perícia médica. É muito importante levar a Carteira de Trabalho ou os documentos que comprovem a sua contribuição ao INSS. Lembrando que também deve ser levada a declaração ou exame médico que descreva o estado clínico da mulher para reafirmar o caso da doença”, comenta o especialista jurídico.


Aposentadoria por invalidez

Já nos casos de total incapacidade ou falta de força física, o advogado diz que é possível solicitar aposentadoria por invalidez. “Ela é concedida ao paciente com essa enfermidade, desde que sua incapacidade para o trabalho seja considerada definitiva pela perícia médica do INSS. Tem direito ao benefício o segurado que não esteja em processo de reabilitação para o exercício de atividade que te garanta a subsistência, independentemente de estar recebendo ou não o auxílio-doença. O portador terá direito ao benefício, desde que esteja na qualidade de segurado no Regime Geral de Previdência Social (INSS)”, salienta.


Isenções

Além dos direitos previstos, o advogado comenta que mulher com câncer de mama, poderá ter a isenção de imposto de renda e IPVA. “A isenção para pessoas com doenças graves está prevista no artigo 6º da Lei 7.713/1988. Além do IR, as pessoas com a doença, que residem no Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo, também podem solicitar a isenção do IPVA”, salienta o especialista.


Justiça

Caso a trabalhadora seja dispensada após o tratamento, o advogado adiciona que ela poderá acionar a justiça. “Se acontecer, poderá procurar um advogado para entrar com danos morais. Já nos deparamos com duas decisões recentes, sendo de uma loja de autopeças de Sinop (MT), que teve de arcar com indenização por dano moral à ex-empregada demitida logo após retornar de tratamento. Esse caso foi julgado pela Primeira Turma do TRT da 23ª Região (MT). Já a outra situação foi de uma atendente que foi reintegrada em Corumbá (MS) e a juíza reconheceu a dispensa como discriminatória”, conclui André Leonardo Couto.

 

ALC Advogados
Instagram @alcescritorio
www.instagram.com/alcescritorio
https://andrecoutoadv.com.br/


Jovens também precisar se preocupar com o câncer de mama

Mulheres abaixo dos 40 anos chamam atenção nas últimas pesquisas. Especialista comenta sobre esse grupo


Levantamento inédito do Grupo Fleury, aponta uma enorme incidência de câncer de mama em mulheres jovens. De acordo com o estudo, 37% das diagnosticadas com a doença têm menos de 50 anos e 10% são mulheres abaixo de 40 anos. Índices parecidos aos divulgados por outras instituições nacionais como da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), a qual mostra que desde 2020 a incidência da doença passou de 2% para 5% em mulheres com menos de 35 anos. Neste Outubro Rosa, mês que alerta para o câncer de mama, é bom que as mais jovens também estejam atentas.  

A mastologista Rafaela Cecílio Sahium, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, explica que independente da idade, os sintomas da doença são os mesmos. “Contudo, na mulher jovem geralmente o câncer de mama se apresenta de forma mais avançada, uma vez que a biologia molecular e as características do tumor são mais agressivas. Os principais sintomas são nódulo palpável (80%), inchaço de toda mama ou parte da mama mesmo sem sentir nódulo, espessamento ou retração da pele ou do mamilo, saída de secreção sanguinolenta ou em água de rocha, edema cutâneo, irritação ou abaulamento de uma parte da mama, linfonodos aumentados e inversão do mamilo”. 

No geral, a especialista ressalta que o rastreamento do câncer de mama inicia aos 40 anos com a mamografia, mas para alguns grupos de risco ele pode começar antes. “Engloba as mulheres portadores de mutação genética, histórico familiar de parente de 1º grau com câncer de mama, histórico pessoal de câncer de mama antes dos 40 anos, histórico de radiação da parede torácica e abdominal antes dos 30 anos, mamas densas, histórico de lesões atípicas diagnosticadas antes dos 40 anos, entre outros”. 

A médica salienta ainda que o tratamento também se diferencia de acordo com a idade da paciente, mas que fatores como a agressividade biológica tumoral, a toxicidade a longo prazo e as preferências da paciente são analisadas na hora de definir a forma de se tratar a doença. “O tratamento do câncer de mama é multidisciplinar e compreende cirurgia, terapia sistêmica adjuvante ou neoadjuvante, radioterapia, imunoterapia. A terapia requer eficácia máxima com efeitos indesejáveis mínimos para garantir uma boa qualidade de vida aos pacientes. Nas pacientes jovens, as questões psico-sociais tais como preservação da fertilização, planejamento familiar, reintegração profissional e investigação genética devem ser levadas em consideração”.

 

Prevenção


Rafaela Sahium cita ainda as formas de se prevenir a doença. “Existem muitas evidências que mostram a influência do estilo de vida e dos fatores ambientais no desenvolvimento do câncer da glândula mamária como alimentação rica em gorduras, consumo de álcool, falta de exercício físico e cuja eliminação (prevenção primária) pode contribuir para a diminuição da morbilidade e mortalidade. Além disso, há ainda a prevenção secundária, que compreende o exame de diagnóstico (mamografia, ultrassonografia, ressonância magnética, autoexame das mamas) que auxilia na detecção precoce de tumores ou lesões predisponentes a tumores”, explica. 

Algumas mulheres optam por fazer a mastectomia, que é a retirada do seio, como forma de prevenção ao câncer, mas a mastologista ressalta que isso requer exames detalhados. “Antes de tomar uma decisão desta, a mulher deve realizar um aconselhamento genético, ou seja, passar por um processo pelo qual se fornece informação a respeito de uma condição genética que possa afetar este indivíduo e/ou seus descendentes. A retirada das mamas não depende apenas do histórico familiar, pois às vezes a mulher tem uma história familiar muito rica e o teste genético é negativo, e a literatura não recomenda. Então a depender do teste genético na presença de uma variante patogênica de alta penetrância, se analisa a mastectomia redutora de risco. A principal indicação de mastectomia profilática é quando a mulher é portadora da mutação de genes de alta penetrância para câncer de mama e que não tiveram a doença, pois isso diminui a taxa de mortalidade”.

 

Eles procuram o médico pela falta de libido, mas ela é apenas um dos sinais...

Diagnóstico de hipogonadismo vai além da dosagem de testosterona

        Endócrino alerta para a obesidade como uma das causas

 

“A falta de libido é um dos principais sintomas que faz os homens procurarem o médico, porém, o hipogonadismo, que é a falta da testosterona, pode vir acompanhado de outros sintomas como perda de cabelo, diminuição da barba, falta de energia, de disposição, o homem fica deprimido e desanimado. Pode haver uma mudança corporal, com maior acúmulo de gordura na barriga e perda de massa muscular. As alterações do sono e as metabólicas, como hipertensão e colesterol, também podem estar entre os sinais da deficiência hormonal”, alerta Dr. Felipe Henning Gaia Duarte, endocrinologista presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP).

Ele explica ainda que a obesidade pode provocar uma série de alterações hormonais e inflamatórias que podem acabar produção do testosterona, portanto, o hipogonadismo acaba sendo uma situação muito comum, dada a alta prevalência da obesidade (basta ver estatísticas do Atlas Mundial de Obesidade 2023, clique aqui). 

 

A dosagem do nível de testosterona do sangue é o exame principal para que se possa avaliar se, de fato, os sintomas estão relacionados a baixa deste hormônio, mas há observações importantes. “Não é tão simples assim avaliar o nível da testosterona. Temos que analisar em conjunto com os valores da proteína SHBG. Esta proteína carrega a testosterona no sangue, portanto alterações no seu valor vão impactar na dosagem da testosterona total. Obesidade e diabetes descontrolado, por exemplo, podem alterar os níveis de SHBG. Além disto, é necessário avaliar outros hormônios, pois alterações nestes também podem levar a redução dos valores de testosterona”, explica Dr. Felipe.

 

Os sintomas da falta de hormônio masculino são muito parecidos com os sintomas relacionados ao estresse do cotidiano, por isso a necessidade dos exames para diagnóstico completo.

 

Como dosar a testosterona?

“É importante seguir algumas recomendações, pois a testosterona sofre influência até de alimentos e do horário do dia em que ela é coletada. A dosagem deve ser realizada entre as 6 e 9 horas da manhã, em razão do ritmo circadiano. O paciente deve estar em jejum, pois a ingesta de carboidratos e gorduras pode reduzir os níveis deste hormônio. Também deve-se lembrar de orientar o paciente para suspender biotina (caso ele use), cerca 3 dias antes do exame, pois a biotina, que tem sido usada com frequência para crescimento de unhas e cabelo, interfere na análise laboratorial”, complementa Dr. Leonardo Parr, endocrinologista da SBEM-SP.  



SBEM-SP - Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia do Estado de São Paulo
http://www.sbemsp.org.br
https://www.instagram.com/sbemsp/
https://www.youtube.com/c/SBEMSP
bit.ly/PODCASTSBEMSP
www.conectasbemsp.com.br
https://twitter.com/SBEMSP
https://www.facebook.com/sbem.saopaulo/


Entenda a importância do diagnóstico correto para tratamento de diversas condições

Neurocientista Fabiano de Abreu Agrela explica que o diagnóstico é uma chave para uma vida melhor

 

Boa parte das pessoas convive diariamente com transtornos psiquiátricos ou doenças, e muitas buscam uma vida mais plena e saudável, mas como alcançá-la? O pós PHD em neurociência Fabiano de Abreu Agrela destaca um ponto crucial nessa jornada: o diagnóstico correto. A importância de compreender as condições que afetam nossa saúde mental e emocional como ponto de partida para desbloquear nosso potencial e buscar melhorias significativas.

De acordo com Fabiano, a neurociência revela que a tomada de decisões e o processamento cognitivo estão intrinsecamente ligados às regiões frontais do cérebro, incluindo o córtex pré-frontal orbital, "Essas áreas desempenham um papel fundamental na avaliação de riscos, planejamento e busca de objetivos de longo prazo. Quando somos conscientes de uma condição, como ansiedade, TDAH ou a superdotação, podemos aprimorar a ativação dessas áreas cerebrais por meio de treinamento cognitivo e terapia específica", afirma o especialista.

Abreu enfatiza que após o diagnóstico preciso de uma condição, o paciente toma consciência de possíveis impactos e tratamentos, trabalhando na ativação da região frontal do cérebro relacionada à tomada de decisões. Essa região desempenha um papel essencial na busca por melhores tratamentos e na promoção de uma vida mais equilibrada. "Quando você está ciente do que está acontecendo em seu corpo e mente, essa conscientização o capacita a aceitar a situação e buscar melhorias. Quando compreendidos e gerenciados adequadamente, esses transtornos podem levar a melhorias notáveis na vida pessoal e profissional", acrescenta o profissional.

Ele destaca que os avanços na neurociência também revelam que a plasticidade cerebral, a capacidade do cérebro de se adaptar e mudar ao longo do tempo, permite a melhoria das funções executivas, como a tomada de decisões, mesmo em idades adultas. Isso significa que, com intervenções apropriadas após o diagnóstico, e treinamento cognitivo direcionado, as pessoas podem aprimorar sua capacidade de tomar decisões informadas, independentemente da idade.

Fabiano enfatiza que o acompanhamento profissional, como o de um psicólogo ou neurologista, desempenha um papel fundamental nesse processo, "O processo de conscientização e diagnóstico não se limita a condições específicas. Precisamos compreender nossas próprias características e necessidades, e isso é um passo valioso para todos, independentemente de possuírem ou não um diagnóstico médico. A verdade é que todos nós precisamos conhecer nossas limitações", finaliza o neurocientista.

 

Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues MRSB - Pós PhD em Neurociências eleito membro da Sigma Xi, membro da Society for Neuroscience nos Estados Unidos , membro da Royal Society of Biology no Reino Unido e da APA - American Philosophical Association também nos Estados Unidos. Mestre em Psicologia, Licenciado em Biologia e História; também Tecnólogo em Antropologia e filosofia com várias formações nacionais e internacionais em Neurociências e Neuropsicologia. Membro das sociedades de alto QI Mensa, Intertel, ISPE High IQ Society e Triple Nine Society. Autor de mais de 200 artigos científicos e 15 livros.

Outubro Rosa: entenda o que há disponível na prevenção e diagnóstico precoce do câncer de mama

 Mamografia, ultrassom das mamas, mapeamento genético e cirurgia de redução de risco: afinal, que exames e procedimentos detectam precocemente o câncer de mama e quais realmente previnem a mulher de desenvolver a doença? Mastologista esclarece as dúvidas 

 

Mulheres que têm familiares próximos com câncer de mama fazem parte do grupo de alto risco para a doença e podem tomar medidas preventivas que reduzem em até 80% a probabilidade de desenvolverem a patologia. O mapeamento genético também é eficaz para a adoção de reposição hormonal, quando necessária. Já a mamografia e o ultrassom mamário são imprescindíveis para detecção precoce da doença, que aumenta as chances de cura 

 

Outubro Rosa é o mês da prevenção contra o câncer de mama e, nos próximos dias, aumentarão os procedimentos de mamografia e ultrassom mamário, exames importantíssimos para as mulheres, já que detectam o câncer de mama no começo e, com o diagnóstico, é possível realizar o tratamento com grande chance de cura. "Mas é importante lembrar que esses dois exames não previnem a mulher de desenvolver o câncer de mama. Eles foram criados justamente para que nós, mastologistas, possamos ajudar as pacientes a descobrir se elas sofrem da doença e, assim, buscar tratamento o mais rápido possível", explica a mastologista Mariana Rosario, do corpo clínico do hospital Albert Einstein e com formação em Mastologia pelo Instituto Europeu de Oncologia, em Milão, na Itália.

Segundo ela, em se tratando de câncer de mama, porém, há uma modalidade de exame que permite que ações sejam tomadas para que a paciente aumente em até 80% a chance de não desenvolver a doença: trata-se do mapeamento genético (cujo nome pode variar de um laboratório para o outro), indicado para mulheres com histórico pessoal ou familiar de câncer de mama hereditário. “Quando uma mulher tem familiares próximas, como mãe e irmãs, com a doença, pode realizar o mapeamento e saber se carrega os genes que a farão desenvolver também o mesmo problema”, diz a mastologista Mariana Rosario.

 

Segundo a médica, se a mulher carrega esses genes, ela pode optar pela cirurgia de redução de risco, que é a remoção de 80% a 90% das mamas, para que se elimine a possibilidade de desenvolvimento do câncer no mesmo percentual. “As mamas são removidas e reconstruídas e a paciente passa a fazer acompanhamento, porque o risco se reduz a 20% ou 10%. É uma atitude que pode salvar a vida dessa mulher”, enfatiza a médica. 

Os testes genéticos costumam mapear mais de 20 tipos de marcadores, sendo o mais conhecido deles o BRCA (dos tipos 1 e 2). “Quem carrega esse gene tem alta probabilidade de desenvolver o câncer de mama. É preciso, porém, que a parente com câncer também seja testada, então, se ela já faleceu, o teste é invalidado”, alerta a médica. 

Os mesmos testes também podem ser utilizados no mapeamento do câncer de ovário.

 

 Reposição hormonal 

Realizar o mapeamento genético é importante também para as mulheres que precisam de reposição hormonal mas têm casos de câncer de mama na família. “Até bem pouco tempo atrás, a reposição era completamente desaconselhada, porque o estradiol pode aumentar o risco do desenvolvimento do câncer de mama. Porém, se a mulher não carrega esse gene, podemos optar pela terapia de reposição hormonal”, diz a médica. 

Ela explica que, neste caso, apenas os hormônios bioidênticos são indicados. “Além de serem os mais parecidos com os que temos naturalmente no organismo, eles são implantados conforme a dose que as mulheres precisam, de forma individualizada”, diz a médica.

A terapia de reposição hormonal é de extrema utilidade em alguns momentos da vida, especialmente na menopausa, quando os níveis hormonais caem e muitas mulheres desenvolvem problemas de saúde como a Síndrome Metabólica, aumentando o risco cardíaco. Elas também podem ter insônia, depressão e outros problemas que vão além dos mais comuns, relatados por quem passa por uma transição leve do período fértil para o não-fértil.

 

Dra. Mariana Rosario – Ginecologista, Obstetra e Mastologista. CRM- SP: 127087. RQE Masto: 42874. RQE GO: 71979.


A exploração da Amazônia e o povo ignorado que protege a floresta

A polêmica dentro do próprio governo federal sobre a exploração da foz do Amazonas é uma boa oportunidade para o Brasil discutir a Amazônia de forma mais ampla e profunda. O país precisa entender, definitivamente, como e por que essa região tão cobiçada foi deixada à margem do desenvolvimento, prejudicando significativamente a população que a habita e, a partir disso, apontar caminhos para mudar essa situação.

Convém olhar com cuidado os dados que mostram a magnitude da Amazônia, esse gigante da região norte que abriga sete estados: Amazonas, Acre, Amapá, Pará, Tocantins, Rondônia e Roraima. Sua área é de 3,88 milhões de km², o correspondente a 45,65% do território nacional, e equivalente ao território ocupado por 27 países da Europa, que somam 486,7 milhões de habitantes. Uma diferença abissal em relação à população amazônica, de apenas 17,83 milhões de pessoas (Censo 2022), ou seja, somente 8,78% da população brasileira.

Além disso, ali está concentrada a maior parte das terras indígenas brasileiras, que ocupam de 23% a 26% do território amazônico e abrigam 846 mil indígenas (Censo 2022), o correspondente a 51% dessa população no Brasil. É verdade que a população indígena, nos últimos 12 anos, vem crescendo à taxa de 5,21% ao ano, média muito maior que a média nacional (0,5% ao ano), mas representa apenas 4,75% da população amazônica.

Há outra peculiaridade importante: da área total da Amazônia temos que pouco mais de sua metade (51%) responde por áreas de uso restrito da, sendo 10,54% de áreas integralmente protegidas; 14,31% de áreas de uso sustentável, e 26,07% de terras indígenas.

Esse dado remete à preservação da floresta, questão discutida mundialmente há algumas décadas. Neste ponto, é preciso destacar que, passados 523 anos do descobrimento do Brasil, a Amazônia ainda possui de 83% a 85% de sua floresta em pé.

Combater o desmatamento é medida impositiva. Manter a floresta em pé atende a necessidades ambientais pela questão climática – a mais discutida -, mas também alerta para a preservação da fauna e da flora. Maior banco genético do planeta, a Amazônia possui biodiversidade incomparável, com mais de 33.000 espécies de plantas superiores e 10.000 espécies de plantas portadoras de princípios ativos. Na imensidão da floresta crescem 2.500 tipos de árvores de grande porte, quantidade análoga a um terço de toda a madeira tropical do mundo. A fauna, igualmente rica, abriga mais de 5.000 espécies de animais catalogados.

Há, ainda, o apelo das necessidades econômicas. Na floresta amazônica concentra-se mais de um quinto da disponibilidade de água doce do planeta, volume alimentado pelo Sistema Aquífero Grande Amazônia (SAGA), o maior do mundo. O índice pluviométrico é alto e os rios voadores levam chuva para as regiões centro-oeste, sudeste e sul, contribuindo para o sucesso do agronegócio, setor responsável por 26% do Produto Interno Bruto brasileiro. Além disso, assegura a geração de energia hídrica, barata e confiável, que abastece as indústrias instaladas no sul e sudeste e os lares nas duas regiões mais desenvolvidas do país.

Tudo isso vem sendo mantido graças à consciência ambiental do povo simples da Amazônia, à custa de enormes sacrifícios dessa população. A região tem IDH muito inferior à media nacional, assim como a escolaridade e a remuneração médias. A infraestrutura tem nível de abandono; os serviços de saúde são precaríssimos. E a expectativa de vida do amazonense ao nascer é de cinco anos a menos que a dos brasileiros de outras regiões.

A despeito de seu esforço, a população da Amazônia sofre há décadas com o descaso do governo federal, cujas ações cuidaram unicamente de impor restrições econômicas por meio de leis, decretos, portarias e atos normativos sempre limitantes e espasmódicos. Quase nada foi pensado ou executado com foco nos 18,8 milhões de habitantes da região.

A única ação efetiva dos governos brasileiros em favor da Amazônia aconteceu há mais de 50 anos com a criação da Zona Franca de Manaus/Polo Industrial de Manaus, ainda que limitada à capital do estado. Após a Constituição Federal de 1988, nada foi acrescentado ao desenvolvimento da região. Pelo contrário, os governos – à exceção de Luiz

Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff – sempre tentaram estrangular a ZFM, editando continuamente leis e atos, depois derrubados pelo Supremo Tribunal Federal.

Tanto tempo de menosprezo oficial explica o nível crítico das desigualdades regionais e sociais que castigam o povo da Amazônia. Para reverter essa situação, algumas medidas se impõem. É preciso investimento estatal – diretamente da União ou por meio de suas estatais - de forma contínua e obedecendo a planos plurianuais. Também é fundamental investimento em infraestrutura básica – saneamento, portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e metrôs – e em educação, mediante a implantação de programas de escola em tempo integral, com professores mais qualificados, comprometidos e, obviamente, mais bem remunerados. Além disso, é fundamental a priorização das renúncias fiscais (gastos tributários) em favor dos beneficiários das regiões norte e nordeste, os mais empobrecidos do país.

Falta no Brasil a consciência de que, para assegurar a floresta em pé, o caminho mais seguro é garantir ao homem da Amazônia condições de emprego e renda, bom índice de desenvolvimento humano, escolaridade e expectativa de vida, compatíveis com a média nacional.

A questão é que nos últimos 20 ou 30 anos os principais atos dos governos ignoraram essa necessidade. Um exemplo: a Petrobras, maior estatal nacional, vendeu seus ativos em Urucu-Coari-Amazonas, onde produzia de 45.000 a 50.000 barris/dia e cerca de 6 milhões de m³ de gás natural/dia, produção que com poucos investimentos poderia alcançar 12 milhões de m³ de gás natural/dia. Posteriormente, o grupo privado vencedor da licitação desistiu do negócio em razão de passivos com o Fisco e com empresas estatais e privadas. Com isso, o polo voltou para a Petrobras que já manifestou não ter mais interesse em prospectar e produzir petróleo (óleo cru) em depósitos shallow por ser atualmente empresa especializada e vocacionada para a exploração offshore em águas profundas.

A Petrobras ainda alienou a refinaria de petróleo de Manaus (Reman) e o gasoduto que transportava de 5,5 a 6,0 milhões de m³ de gás natural/dia de Urucu para Coari/Manaus, equipamento que, com modestos investimentos, poderia duplicar o volume transportado.

Como se não bastasse, a renúncia fiscal da União, da ordem de 4,5% a 5% do PIB (R$450 a 500 bilhões/ano), é predominantemente dirigida (mais de 65%) para beneficiários das regiões sudeste e sul, justamente as mais desenvolvidas, contrariando o que determina a Constituição Federal (artigos 43, 151 e 155 e parágrafos 6º e 7º do art. 165). Ademais, o Orçamento da União, que cobra muito de tributo mas pouco ou nada investe, tem praticamente ignorado a Amazônia, privilegiando as regiões mais desenvolvidas, e novamente contrariando a Constituição (parágrafos 6º e 7º do art. 165).

Enquanto isso, a rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho) está intransitável por falta de manutenção adequada, sem perspectiva de recomposição por falta de licença ambiental, deixando a população privada do mais importante acesso terrestre para o resto do país.

Agora, o governo cogita a implantação de mais ações restritivas, sem nenhuma discussão a respeito das consequências graves e injustas para o povo amazônico. A principal, sem dúvida, é a exploração de petróleo na foz do Amazonas, sem estudo prévio das mitigações possíveis e já praticadas no mundo.

Resta aos sete estados da região norte, responsáveis na prática pela manutenção do maior patrimônio nacional, a floresta amazônica, elaborarem um documento conjunto, um plano de metas decenal ou vintenal construído após estudos e aperfeiçoamentos, com identificação de recursos para sua implementação, submetendo-o ao governo central e ao Congresso Nacional.

Enquanto isso não é viabilizado, é possível implementar iniciativas para dar início ao plano de redução do processo de empobrecimento do povo amazônico. É preciso aproveitar o momento histórico, após John Biden, presidente dos Estados Unidos, país líder mundial com PIB de US$ 23 trilhões/ano – 14 a 15 vezes maior que o PIB brasileiro -, reconhecer a responsabilidade dos países ricos e conclamar seus colegas líderes do G7 ou G10 a avançarem na mesma direção, assegurando ao governo brasileiro contribuições financeiras em programas decenais voltados à conservação da floresta amazônica.

Evidentemente, não se trata de mera generosidade estrangeira, mas de reconhecimento da importância da floresta para a humanidade. O mundo parece, enfim, estar tomando consciência de que o meio ambiente não tem fronteiras e de que vivemos todos na mesma casa, o planeta Terra.

A ocasião é propícia para suscitar ampla discussão sobre os créditos de carbono e seus mercados, e de reconhecer que estão instaladas no Polo Industrial de Manaus (PIM) empresas globalizadas, muitas delas líderes mundiais em seus segmentos – como Coca-Cola, Honda, Samsung, LG Eletronics, Gillette, Yamaha e outras – que podem ser parceiras em programas privados com o respaldo dos governos de suas matrizes e da população mundial em defesa da Amazônia.

São multinacionais que podem emprestar suas marcas, pontos de venda e credibilidade mundial para angariar recursos destinados a custear a preservação da floresta amazônica mediante a cobrança de alguns centavos de dólar a mais no preço de varejo de cada unidade de seus produtos, numa ampla campanha global em que o consumidor se sinta partícipe do esforço global pela defesa dessa imensa reserva natural que já foi chamada de “pulmão do mundo”.

A conta é simples. Apenas um centavo de dólar cobrado a mais, como contribuição, em cada uma das 684 bilhões de unidades de refrigerantes que a Coca-Cola vende anualmente no mundo inteiro, significará, ao final, US$ 6,84 bilhões por ano para aplicação na preservação da Amazônia. Fácil imaginar como esses recursos se multiplicarão se a mesma campanha envolver produtos como água mineral, aparelhos de barbear, celulares, televisores e motocicletas, dentre tantos outros comercializados mundialmente pelas indústrias multinacionais com plantas em Manaus. “Save the Amazon forest” seria um apelo internacional com ampla adesão.

Há outras possibilidades plausíveis na esteira do que propôs Joe Biden. Um grande acordo entre as nações poderia estabelecer às empresas emissoras de poluentes a compra compulsória de créditos de carbono em Bolsas de Valores, a fim de resguardar a liquidez aos proprietários de áreas de florestas nativas intactas na Amazônia.

É preciso convencer governos e organismos internacionais para que realizem na Amazônia seus grandes eventos anuais, trazendo recursos e despertando mais atenção para a região.

No campo comercial, governos dos países da América do Norte, Comunidade Europeia e Japão, dentre outros, poderiam conceder tarifas preferenciais na importação de produtos da Amazônia, como pescados, frutas (in natura ou sucos), insumos para a indústria de cosméticos, etc, tudo com selos ambiental e de inspeção sanitária, observando-se as exigências internacionais.

O primeiro passo é essencial para vencer a inércia e transformar o discurso ambientalista em ações concretas para manter a floresta em pé, com o envolvimento dos países ricos e com a atenção voltada para quem mais protege a floresta: o povo amazônico. 



Samuel Hanan - engenheiro com especialização nas áreas de macroeconomia, administração de empresas e finanças, empresário, e foi vice-governador do Amazonas (1999-2002). Autor dos livros “Brasil, um país à deriva” e “Caminhos para um país sem rumo”.
https://samuelhanan.com.br


O futuro dos negócios é sustentável, tecnológico e social

Transformando vidas e impulsionando negócios, o ESG é considerado por 99% dos investidores, e essa startup está usando a tecnologia para gerar impacto social 


 

A adoção de práticas de ESG (Environmental, Social and Governance) está se tornando cada vez mais relevante para as empresas em todo o mundo. Uma pesquisa global conduzida pela EY revela que a impressionante marca de 99% dos investidores considera ativamente as divulgações ESG como um fator crucial em suas estratégias de investimento. Adicionalmente, as empresas que abraçam de maneira proativa essas práticas sustentáveis e sociais não apenas trilham um caminho ético, mas também têm exibido consistentemente um desempenho financeiro superior em relação aos seus pares de mercado.

 

O ESG engloba três áreas fundamentais. Em primeiro lugar, o aspecto ambiental refere-se à gestão responsável dos recursos naturais, a redução das emissões de carbono, a adoção de energias renováveis e a preservação dos ecossistemas. Isso corrobora com o compromisso que diversas empresas brasileiras assumiram para atingir as metas propostas pela agenda 2030 da ONU.

 

Em segundo lugar, o aspecto social abrange a promoção da diversidade e inclusão, a valorização dos direitos humanos, a segurança dos trabalhadores e a contribuição para as comunidades locais. Por fim, o aspecto de governança diz respeito à transparência, à ética corporativa, à responsabilidade fiscal e à qualidade da gestão.

 

Ainda assim, apenas 47% das empresas participantes da pesquisa Panorama ESG Brasil se consideram referência em ESG. A Tech do Bem, startup que busca conectar pessoas, empresas e instituições, vem para mudar isso, através da tecnologia, está usando os hackathons, evento que reúne pessoas para desenvolver programas e softwares, para educar jovens e trazer benefícios sociais ao mesmo tempo. "Um dos nossos principais focos tem sido desenvolver soluções tecnológicas para projetos sociais que promovem a inclusão, diversidade, igualdade de oportunidades e maior acesso à educação e informação. Damos prioridade para projetos sociais e instituições que beneficiam comunidades periféricas e grupos de pessoas desfavorecidas”, explica Mariana Kobayashi, co-fundadora do projeto.


 

Usando o ESG para melhorar vidas

 

Para isso, estão criando parcerias e eventos em locais de fomento ao impacto social e à educação. "Por exemplo, nosso principal parceiro, os Caçadores de Bons Exemplos, vêm nos ajudando a organizar o Hackathon do Bem, nosso evento carro-chefe que contou com a sua primeira edição em Brasília, no Impact Hub, uma rede global de negócios sociais. A segunda edição do evento ocorreu em Recife, na Cesar School, pioneira em metodologias de ensino inovadoras. Dessa forma, aliamos tecnologia e ESG, o que deve mover as empresas nas próximas décadas. Hoje em dia, as empresas estão sendo observadas de perto por muitas pessoas, e seguir os princípios do ESG mostra que são mais sólidas, se preocupam com seus custos para a sociedade e meio ambiente, têm uma boa reputação e são mais capazes de enfrentar incertezas e dificuldades", mostra Raphael Santos Marques, co-fundador da Tech do Bem. 

 

Fora o aspecto social, a vertente ambiental também é uma prática necessária para o ESG. “Ainda em 2023, vamos apoiar o Hub Periférico, aceleradora dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS) nas favelas e periferias de Pernambuco, na realização do seu Hackathon Tech4Climate. O evento conta com o apoio da Embaixada Britânica e abordará temas envolvendo sustentabilidade e meio ambiente”, destaca Mariana.


 

Entender o ESG é o primeiro passo para construir um futuro sustentável com a ajuda da tecnologia

 

Além de promover o ESG em suas práticas, a Tech do Bem também ajuda outras empresas a construírem um futuro mais justo. “Com nossa experiência adquirida nos Hackathons do Bem e no contato com diversos projetos sociais de diferentes localidades brasileiras, realidades e setores de atuação, podemos fornecer orientações estratégicas para a implementação de práticas sustentáveis, programas sociais e políticas adequadas de conscientização dos funcionários. Atuamos como parceiros na identificação de oportunidades e consequente desenvolvimento de metodologias ágeis e serviços alinhados aos princípios do ESG, além de fortalecer a reputação, o desempenho financeiro e a transformação digital das empresas”, revela Santos Marques.

 

Na prática, o ESG envolve a adoção de políticas e práticas que levam em consideração os aspectos ambientais, sociais e de governança. "Para atingir essas práticas, podemos nos basear nos ODS da ONU para estruturar nossas ações e projetos por meio dos seguintes passos: Você deve antes de mais nada entender os 17 ODS, suas 169 metas e quais delas tem sinergias com suas atividades. Em seguida defina prioridades que fazem mais sentido para seu negócio, colaboradores e público-alvo. Trace objetivos palpáveis para cada uma dessas metas identificadas. Defina métricas e indicadores para medir o avanço das metas e status dos projetos. Inclua esses indicadores e projetos nos processos da empresa, para que isso se torne perene e sustentável. E finalmente, mas não menos importante, comunique interna e externamente seus resultados e progressos", indica Kobayashi.

 

Os princípios de ESG são uma maneira de colocar as instituições nos trilhos das construções de uma realidade mais igualitária e acolhedora, para isso é necessário equilíbrio e união. "Gostaríamos de ressaltar a importância da colaboração e do diálogo entre as empresas, governos, sociedade civil e demais partes interessadas para impulsionar uma mudança positiva. O ESG não é apenas uma responsabilidade das empresas, mas sim uma responsabilidade compartilhada por todos os atores envolvidos. Ao unir esforços, compartilhar conhecimentos, e utilizar a tecnologia a nosso favor, podemos enfrentar os desafios socioambientais de forma mais eficaz e construir um futuro sustentável para as gerações futuras", finaliza Kobayashi.

 

Tech do Bem - startup que utiliza a tecnologia como uma ferramenta para promover o bem social.

 

Posts mais acessados