Você já deve ter lido alguma explicação sobre o mundo V.U.C.A. Se não,
vamos navegar por esse acrônimo que visa explicar as impermanências da nossa
sociedade contemporânea, ou como diria Zygmunt Bauman, da modernidade líquida.
O mundo da velocidade, do instante, da imagem, da complexidade, do ambíguo, do
incerto.
O termo V.U.C.A. nasceu do acrônimo das palavras em
inglês Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity (em português:
volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, respectivamente).
Volatilidade – Trata-se do volume e
da agilidade com que as mudanças ocorrem no mundo. Isso torna muito mais
difícil a capacidade de as organizações acompanharem o mercado e é preciso agir
rapidamente diante de tais circunstâncias.
Incerteza – Já a incerteza se trata da incapacidade de
prever resultados futuros, mesmo quando as análises são baseadas em dados
presentes. A imprevisibilidade é o principal elemento que dificulta a aplicação
de novas soluções. Profissões de hoje, não existirão no futuro e novas
surgirão. Quais serão, alguém tem apostas? Futuro incerto.
Complexidade – Aqui, conectividade e
interdependência são fatores que dificultam a capacidade de agir. A natureza
interconectada e interdependente dificulta prever o resultado das decisões de
negócios em ambientes complexos.
Ambiguidade – Já a ambiguidade se
resume à falta de clareza e concretude, o que dificulta a capacidade de
encontrar a relação entre causa e efeito ao analisar determinado acontecimento.
Ou seja: é a interpretação dúbia dos fatos que prejudica a capacidade de
encontrar uma solução para determinado fenômeno. Se todos podem ter razão, como
tomar decisões?
E como profissional já parou para pensar quais habilidades emocionais
são necessárias para não pirar diante dessa avalanche de mudanças tão
aceleradas? É preciso desenvolver visão e clareza para não sucumbir as tais
mudanças voláteis, para não se enveredar por caminhos que nos levem ao
sofrimento como os transtornos de ansiedade, síndrome de burnout, ou alguma
falta de saúde mental que leva a infelicidade na vida e no trabalho.
Como afirmou o futurologista Ian Pearson, no futuro dominado pela tecnologia, internet 5G, automação e
inteligência artificial, é fundamental desenvolvermos a inteligência emocional
– as soft skills e as happiness skills – para manter serenidade,
sabedoria, lucidez e continuar trabalhando com motivação intrínseca, numa vida
com sentido.
A Ciência da Felicidade tem ganhado cada vez mais investimentos para
pesquisa em Universidades como Harvard, Yale e Pensilvânia, essa última onde
nasceu a Psicologia Positiva em 1986, fundada pelos psicólogos e pesquisadores
Marting Seligman e Mihaly Csikszentmihalyi.
Desde então, os estudos sobre o que gera felicidade no ser humano
cresceram vertiginosamente, demonstrando que a ciência pode ser grande aliada
na discussão do assunto. Dentro dessa perspectiva, a Dra. Barbara
Fredrickson, pesquisadora do laboratório de Emoções Positivas e Psicologia da
Universidade da Carolina do Norte – EUA, escreveu o livro chamado Positivity,
que aborda as 10 emoções positivas, identificadas pelos participantes como as mais poderosas em suas
vidas. Ela afirma que se cultivarmos essas emoções traremos mais positividade
e, por consequência, maior bem-estar em nossas vidas.
Uma dessas emoções é a serenidade, e para desenvolvê-la em nosso cotidiano,
é primordial lançarmos mãos das técnicas e práticas da meditação, uma delas, ou
a mais conhecida no mundo corporativo é o Mindfulness,
um programa que ensina a prática da atenção plena, de como manter um estado
mental focado no agora, na experiência do presente, e não na ansiedade do
futuro ou no paradigma do medo diante dessa VOLATILIDADE.
Para INCERTEZA, é preciso
desenvolver uma das Sete Happiness Skills, defendida pelo
Neurocientista Richard Davidson, no seu livro Neurociência da felicidade. A
neurociência já atestou que o bem-estar humano pode ser elevado com o
treinamento. Portanto, podemos treinar e desenvolver a Resiliência, que é a
capacidade de recuperação diante das adversidades. Com uma mente flexível
aprendemos que as lições não são para nos derrubar, mas para nos fazer mais
fortes, mais corajosos, despertando nossa POTÊNCIA.
Ser resiliente é o esforço de ser você mesmo, com seus erros e acertos,
com sua vulnerabilidade, tendo a coragem de ir atrás dos seus sonhos e
desafios. Seja autêntico, siga sua intuição, entregue ao mundo a sua melhor
intenção. Numa sociedade que não aceita as falhas ou os erros, ser
flexível e resiliente fará toda a diferença na sua tomada de decisão.
Agora chegou a vez de abordar o C de COMPLEXIDADE. Quando estudei
Ciências Holísticas e Economia para Transição, num certificado de 8 meses na
Escola Schumacher Brasil, tivemos um módulo sobre Complexidade. Nada simples
entender as conexões do vir a ser, do comportamento emergente de muitos
sistemas, da complexidade das redes, da teoria do caos, da autorregulação do
planeta, etc. Lembro de ficar encantada com a expressão Vir a Ser, da
observação da natureza para entender os movimentos dos pássaros no evento
denominado Murmuration* como símbolo da
complexidade.
Pois bem, para compreender a Complexidade é preciso desenvolver uma
mentalidade holística e não linear, pois assim também são os princípios da
natureza. A natureza é colaborativa, integrada, interdependente, conectada em
ecossistemas vivos. O ambiente complexo exige perspectiva que vai além de
identificar as ameaças e as oportunidades a serem avaliadas. Em outras
palavras, liderar através da complexidade significa pensar de maneira não
linear. Não é o controle que impera, mas o sentir que estimula a intuição, a
criatividade, a solução de problemas por meio da inteligência colaborativa.
Para o C de Complexidade, que tal desenvolver as habilidades da
colaboração, da compaixão, da co-criação com a cabeça aberta, coração aberto e
vontade aberta que são os princípios da Teoria U do Otto Scharmer do MIT. A capacidade de julgar menos, de acolher mais, de
desenvolver uma escuta e comunicação empática, pode gerar ideias inovadoras e
soluções para problemas que estão até hoje assolando nossa sociedade.
Quais habilidades são importantes em um contexto de AMBIGUIDADES? É preciso continuar
falando de empatia, pois essa é a moeda do futuro. Nem só de software, nem de
hardware viverá nossa humanidade, mas de Heartware, como um dia ouvi o Felipe Teobaldo argumentar em uma palestra na Universidade
Anhembi. Meus alunos ficaram extasiados com o poder de
argumentação do Teo sobre a empatia.
Na Schumacher College, aprendemos a alinhar mãos, mente e coração. E
isso traz inteireza, clareza, sentido, autenticidade do ser. Revelar o
propósito de vida e de carreira é fundamental para encontrar nosso encaixe e
fazer a diferença no mundo. Mas tudo só tem sentido, quando vivemos de forma
empática, quando compartilhamos a felicidade, quando construímos a realidade
com menos competição, comparação e julgamentos.
O engajamento nas organizações virá de um modelo de liderança capaz de
trazer um novo olhar para os mesmos modelos, ou até criar novos modelos
baseados no protagonismo/ autonomia, no sentido de pertencimento, do estímulo
da competência e no desenvolvimento do propósito do colaborador alinhado com os
valores e propósitos da organização. Mas esse é o tema para o próximo texto.
E aí como você está se preparando para o futuro do trabalho diante do
contexto social-tecnológico-econômico tão V.U.C.A?
* Enquanto voam, os estorninhos em um murmúrio parecem estar conectados.
Eles torcem, viram e mudam de direção a qualquer momento. Como centenas ou
mesmo milhares de pássaros coordenam movimentos tão complicados durante o vôo?
Assista o vídeo no link acima na palavra murmuration (é sensacional!)
Chirles de
Cliveira