Tratamento da disfagia em idosos é
fator importante para prevenção de doenças
A presbifagia envolve diversas alterações no ato do idoso se alimentar e pode se manifestar de maneiras diferentes, variando de indivíduo para indivíduo. Alguns idosos tem alterações mais leves como sensação de comida presa na garganta, no céu da boca, língua ou bochechas, dor para engolir, aumento da tosse durante a alimentação e outros possuem alterações mais graves como falta de ar ao se alimentar, sonolência excessiva, exacerbação de problemas pulmonares e aumento da quantidade de secreção.
O que pouca gente sabe é que essas mudanças predispõem e muito o idoso a uma pneumonia.
Devido a essas dificuldades, que podem ocorrer no momento da ingesta de líquidos ou da comida sólida o idoso muitas vezes tente a fazer modificações por conta própria, como beber menos ou comer menos ou comer apenas comidas semi líquidas e pastosas podendo desenvolver quadros de desnutrição e /ou desidratação? E a pneumonia? Bem, ao perder peso os idosos acabam perdendo massa magra e os músculos envolvidos na deglutição acabam agindo de forma ineficiente. Ou seja, os músculos que abrem caminho para o alimento ir para o estômago e, ao mesmo tempo fecham o caminho para que nada vá para os pulmões não conseguem fazer bem o seu papel, e parte do conteúdo alimentar acaba chegando as vias aéreas e, às vezes, aos pulmões, causando dificuldades respiratórias graves e pneumonias. Alguns pacientes idosos, já possuem disfagia, que são as mesmas dificuldades de engolir, porém devido a uma doença neurológica, e não pelo envelhecimento em si.
Outro ponto importantíssimo e que poucas pessoas dão atenção é que, durante a vigência de um processo infeccioso esse desempenho muscular também muda. Então, num idoso que já tem alterações do processo de deglutição, a vigência de um processo infeccioso pode ser o suficiente para o predispor à pneumonia por aspiração. Segundo demonstrado no X Congresso de Geriatria e Gerontologia do Rio de Janeiro, a taxa de perda de massa muscular de um idoso em 72 horas de internação ou quando infecta é elevadíssima, podendo representar quase 1kg de massa magra perdida. Agora pensa num idoso, já com algumas alterações, em vigência de processo infeccioso internado há mais de três dias: As chances de ocorrer os distúrbios respiratórios por aspiração de conteúdo alimentar (às vezes até salivar) é enorme! Por isso é tão comum que o idoso faça volta e meia uma pneumonia ou quando internado, ainda que por outro motivo acabe fazendo uma.
Mas por que isso acontece? O grande problema é desconhecimento. Por não imaginarem que o ato de engolir tem relação com as infecções de vias aéreas ou exacerbação de sintomas pulmonares como a DPOC, por acharem que a alteração no processo de deglutição é algo inerente à idade e por desconhecerem que existe um trabalho para melhorar a qualidade da deglutição muitos idosos acabam não procuram o profissional habilitado para cuidar dessa questão ou sequer relatam aos demais profissionais de saúde que poderiam encaminhá-los para o profissional mais indicado, no caso o fonoaudiólogo.
Como isso poderia ser evitado? Acredito que os profissionais da saúde que trabalham com idosos poderiam incluir em suas anamneses e questionários perguntas e ou instrumentos que ajudam a detectar se a alimentação do idoso precisa de uma atenção maior não só no aspecto nutricional, mas da ingestão. Existem bons instrumentos disponíveis e que inclusive são gratuitos. Dessa forma, poderiam questionar e identificar o quadro da maneira mais precoce e caso necessário, seria dado início ao tratamento a fim de garantir a qualidade de vida dos idosos. Infelizmente, a maioria dos idosos chega após quadros infecciosos graves, desnutridos ou desidratados. O último caso que atendi a senhora já estava 20 quilos abaixo do peso e com consequências não só na parte muscular como na parte cognitiva.
Estabelecer o que seria o esperado para as funções orofaciais nessa etapa da vida e identificar as anormalidades é essencial visto que o envelhecimento é uma necessidade na sociedade mundial.
Por quê?, Porque a população vem envelhecendo a passos largos segundo o índice de XXXX e consequentemente, o aparecimento de problemas como as alterações de deglutição em idosos tem se tornado crescente e a tendência é que continue cada vez maior. Inclusive, um estudo publicado pela universidade norte-americana John Hopkins indica que 1 a cada 3 adultos sofrerá com disfagia. Com esse diagnóstico os pesquisadores acreditam que será possível prevenir milhares de mortes de pessoas com essa condição, já que 25% das pessoas que possuem o problema morrem em até dois meses e 50% morrem em até dois anos. Para não falar nos gastos com os tratamentos pelas consequências e /ou recorrência do problema aos cofres públicos e aos planos de saúde. Embora eu consiga tratar e prevenir essas questões todas nos pacientes que eu acompanho, ainda há uma parcela enorme da sociedade que segue sem nem imaginar o tamanho do problema que possuem e apenas tomam medicação para secreções pulmonares ou antibióticos de forma contínua. Outras, nem isso. É consequência demais para um problema permanecer mascarado embaixo apenas da falta de queixa dos velhinhos enquanto eles buscam soluções nos locais e das formas mais equivocadas possíveis. Como dizem por aí: Precisamos falar sobre isso.
Letícia Freixo - Fonoaudióloga formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pós graduada pela FOB-USP e mestre na linha de distúrbios da voz, fala e funções orofaciais também pela FOB-USP, a profissional atua de forma integrada aos profissionais de medicina, fisioterapia e nutrição. Letícia Freixo consagrou-se na fonoaudiologia através do atendimento domiciliar de pacientes idosos e, atualmente, vem se destacando pelo seus resultados nos tratamentos de apneia do sono leve, moderada e grave.