Como bem me apontou outro dia um amigo,
o governo Temer é o menos ruim dos três que o petismo proporcionou ao Brasil.
Convém, mesmo, reconhecer os fatos: Temer é produto de duas chapas eleitorais
petistas e, no curto espaço que lhe coube, exibe resultados que não podem ser
depreciados. Para recordar: emenda constitucional que estabeleceu limite aos
gastos públicos; reforma trabalhista e fim da sinecura sindical; afastamento de
milhares de militantes a serviço de causas partidárias nos órgãos de Estado,
governo e administração; inflação abaixo do centro da meta; investimento de R$
1 bilhão no sistema prisional; reforma do ensino médio; redução de cinco pontos
percentuais na taxa de juros; extinção de oito ministérios; e se alguém chegar
com um espelhinho no nariz de dona Economia perceberá que ela, lentamente,
volta a respirar.
Mas nem só por isso 2017 foi um ano
melhor do que os precedentes. Aumentou muito o número de brasileiros
conscientes de que não se pode brincar com o gasto público e de que é
necessário tirar de campo, nas próximas eleições, bem identificados picaretas
aproveitadores do erário. A Lava Jato preserva seu vigor, com reconhecimento
nacional. Réu em seis processos, Lula colheu sua primeira condenação. Vem aí
uma reforma da Previdência. Criou-se necessária rejeição social às regalias de
certas categorias funcionais e aumentou a intolerância em relação aos
corporativismos do setor público e privado. É o primeiro passo para que essas
coisas mudem. Ampliou-se a consciência de que precisamos reformar nossas
instituições. Ou seja, tornamo-nos mais esclarecidos sobre temas essenciais e
isso, sob o ponto de vista político e administrativo, é promissor para o
horizonte de 2019-2022.
Então, o novelo em que se enrolou Michel
Temer não vai estragar meu ano. A propósito, a Câmara não o julgou e, menos
ainda, o inocentou porque essas não eram atribuições suas. Aquele plenário tinha diante de si a tarefa
constitucional de decidir sobre a conveniência de o STF processá-lo neste
momento. E decidiu que, de momento, ele fica onde está. De momento. A fila anda
e a Justiça o espera, mas o Brasil precisa de estabilidade e das reformas em
negociação.
A saída dele serviria ao PT, a seus
coligados, a seus movimentos ditos sociais, a seus fazedores de cabeça na
Educação, a seus sindicatos e respectivos “exércitos”. Ou seja, daria a alguns
uma alegria que estragaria meu ano e meu humor. Se a maior parte dos detentores
de mandato até aqui investigados, de todos os pelos, só amargará acertos nos
próximos anos, que também Temer entre nessa lista. Por enquanto, que fique
quieto na sua cadeirinha e tenha modos. Por enquanto.
Observo, nas redes sociais, súbita
atividade dos militantes de esquerda em defesa da ética na política. Essa
mobilização não me convence nem comove. Aliás, faz lembrar o antagonismo entre
os Manos e os Bala na Cara. É disputa pelo mercado do crime organizado. No ano
que vem, fora todos eles!
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.