A inadimplência da pessoa jurídica
está em patamar recorde e os juros elevados só pioram a situação. Mas há formas
de sair do vermelho, que vão desde a renegociação das dívidas até a busca por
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Com a inadimplência das empresas
chegando a um nível jamais registrado, acende-se um sinal de alerta vermelho
para quem tem o próprio negócio. A inflação e os juros elevados têm levado
muitas empresas ao endividamento. Os agentes financeiros também têm estreitado
a concessão de empréstimos e as condições de renegociação de dívidas estão cada
vez mais desfavoráveis.
A falta de receita gerada pela
queda na circulação de pessoas, que ficaram retidas em suas casas, traz hoje um
cenário em que 6,5 milhões de empresas estão inadimplentes. Dados do Banco
Central apontam que a taxa de inadimplência entre pessoas jurídicas - que
representa, em geral, pagamentos com mais de 90 dias de atraso - retomou o
patamar histórico de 2,4% registrado em maio de 2020.
Somado a isso, a taxa básica de
juros, a Selic, pulou de 2% em março de 2021 - o menor patamar histórico – para
os atuais 13,75%, após contínuas altas praticadas pelo BC.
Milton Luiz de Melo Santos,
diretor presidente da ACCredito, avalia que os altos índices da inadimplência
se deram por causa da maior concessão de crédito para o setor nos últimos anos.
“As pessoas tiveram acesso aos auxílios emergenciais do Governo e as empresas
pequenas e médias ganharam a linha de crédito do Pronampe. Com isso, tivemos
mais pessoas contraindo dívidas relacionadas ao consumo de bens e serviços após
a retomada das atividades e as empresas aproveitaram para ficar mais
alavancadas para financiar projetos de expansão ou para atender à alta
demanda”, explica.
Os segmentos menos prejudicados
com toda essa avalanche de notícias econômicas ruins foram o de farmácia e
alimentação, segundo Santos, por conta da necessidade essencial da pandemia.
“Já o comércio de roupas, calçados, móveis, automóveis e autopeças são os que
mais sentiram o baque e ainda não se recuperaram.”
Rafael Ciampone, economista da
Boa Vista, ressalta que no crédito, a concessão de capital de giro cresceu
muito na pandemia, devido à necessidade das empresas de se manterem, e agora
está baixando. “No entanto, isso puxou a inadimplência para cima. Em maio de
2020, a taxa de inadimplência das empresas que era de 2,4%, caiu para 1,5% no
ano seguinte e agora retorna aos 2,4%. O problema agora é que os bancos estão
mais rigorosos na concessão de crédito, devido à abrupta escalada da Selic,
além de praticarem juros altos. Geralmente, isso sempre inviabiliza ou
dificulta a renegociação pelas empresas”, ressalta.
EXISTE LUZ
NO FIM DO TÚNEL?
A pergunta mais frequente que
se faz é: estou inadimplente com minha empresa e como faço para sair dessa
situação? Basicamente, segundo os especialistas, fica difícil reverter essa
situação se as taxas de juros e a inflação continuarem em alta.
Enquanto isso não acontece, o
jeito é partir para as renegociações com os credores até que a inflação chegue
ao menos a um patamar mais condizente com a meta do Banco Central. “O
empresário tem que criar um plano de ação. Isso pode envolver reestruturação,
planejamento e até cortes, de custos ou de pessoas. E então renegociar as
dívidas com os credores”, diz Ciampone.
No entanto, quanto mais
endividada está uma empresa, menor a chance de conseguir aprovação de novos
créditos. Por isso, é importante reduzir o endividamento preservando o fluxo de
caixa da empresa.
O especialista em investimentos
e líder do Mercado de Capitais do Grupo Crowe Macro, Ricardo Rodil, dá algumas
alternativas para as empresas, sejam elas de pequeno, médio ou grande porte,
que precisam de fluxo de caixa para fazer o negócio girar.
“Não basta tentar pagar a
dívida, é preciso ter dinheiro para continuar com o negócio. E esse dinheiro
pode vir de terceiros, de bancos ou de fornecedores. É muito comum micro e
pequenas empresas contarem com a ajuda de algum familiar para injetar dinheiro
no pequeno negócio. Lojas de roupas e pequenos mercados, por exemplo, são casos
em que não há necessidade de um valor tão alto para manter o negócio e a
família pode contribuir com um empréstimo. Para dívidas maiores, outra opção é
tentar incluir novos sócios para injetar capital na empresa. E essa pessoa não
precisa ser sócio para sempre, pode sair em algum momento e também pode até ser
um fundo de investimento”, destaca Rodil.
Dependendo do porte da empresa,
há outro recurso chamado de securitização, que é um processo de proteção de uma
dívida e que garante ao credor o pagamento antecipado. É usada por empresas
como forma de captar recursos e por investidores na busca por melhor
rentabilidade.
As securitizadoras são as
empresas não financeiras que ficam responsáveis por adquirir os direitos
creditórios e, assim, transformá-los em títulos. Sendo assim, a dívida é
transferida, vendida, na forma de títulos, para vários investidores.
GRANDES
EMPRESAS
Já para grandes empresas, acima
de R$ 30 milhões de faturamento, Rodil cita soluções mais complexas, como
abertura de IPOs e até a BEE4. O IPO (Initial Public Offering ou Oferta Pública
Inicial) é o processo pelo qual uma empresa abre seu capital pela primeira vez,
por meio de ações que são negociadas na Bolsa de Valores.
Já a BEE4, citada por Rodil, é
uma oportunidade de adquirir ações de empresas com grande potencial de
crescimento e retorno. No entanto, é um ambiente de negociação de ações de
empresas com faturamento anual entre R$ 10 milhões e R$ 300 milhões.
Em último caso, a recuperação
extrajudicial é uma maneira de a empresa se reerguer financeiramente e evitar a
sua falência. Nesse sentido, é um tipo de acordo realizado entre credor e
devedor fora do ambiente judicial.
Já na recuperação judicial, não há concordância ou participação prévia de credores. Neste caso, segundo a advogada Laís Guimarães, especialista em advocacia empresarial, “o objetivo é buscar o erguimento da empresa mediante a aprovação de um plano de recuperação judicial”.
Cibele Gandolpho
https://dcomercio.com.br/publicacao/s/veja-alternativas-para-tirar-a-sua-empresa-do-endividamento