Pamelão, 2022 | Daniel Lannes |
Daniel Lannes nasceu em Niterói em 1981, e vive e
trabalha em São Paulo. O artista é mestre em Linguagens Visuais pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (2012) e Bacharel em Comunicação Social
pela PUC-Rio (2006).
Lannes protagonizou exposições em grandes
instituições nacionais e internacionais como as individuais ‘Pernoite’ na
Galeria Kogan Amaro, São Paulo (2020), ‘A luz do fogo’ na Magic Beans Gallery,
Berlim (2017), ‘Republica’ no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (2011) e
‘Midnight Paintings’ no Centro Cultural São Paulo (2007).
A exposição conta com a produção recente do
artista, marcada por pinturas a óleo que retratam hipóteses históricas do
Brasil através de uma perspectiva subjetiva e transfigurada. Lannes foi
vencedor do Prêmio Marcantonio Vilaça, o mais importante prêmio de Artes
Visuais do país e teve uma tela adquirida para o acervo da Pinacoteca do Estado
de São Paulo neste ano.
Suas obras integram importantes coleções como do
Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
(MAM), Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, entre outros.
‘Jaula’
Lilia Moritz Schwarcz
Jaula, a nova exposição do consagrado artista carioca,
Daniel Lannes, é um convite a um passeio devidamente desviado pelas tintas que
interferem e alteram o documento oficial. Nas pinturas aqui apresentadas,
a história serve de pretexto para novas traduções políticas e sociais,
realizadas com um traço poderoso e apurado senso plásticos e estéticos.
Trata-se, assim, de uma “contrahistória visual” desse país que recriou seu
passado sob o signo da concórdia e da harmonia. Uma monarquia tropical e depois
uma república que escondiam seus alicerces: a permanência do escravismo e
depois da desigualdade. Por isso, os pincéis de Lannes, borram, esfumaçam e
confundem.
Jaula também desestabiliza o retângulo mágico da pintura;
as limitações que a tela branca impõe, seus constrangimentos espaciais e
possibilidades imaginativas. Muitas vezes imensas, as pinturas de Daniel
Lannes se recusam a se confinarem aos espaços a elas originalmente destinados.
Vazam sempre e dessa maneira desconcertam.
Jaula homenageia, ainda, no mesmo movimento que traduz e
atualiza, a janela renascentista, com a retomada dos modelos clássicos, da
visão subjetiva e ao mesmo tempo racional, feitas das linhas da geometria e da
proporção racional presentes nas obras. A figuração aqui engana a jaula, pois deturpa,
decompõe, desalinha.
Jaula é igualmente uma metáfora para pensar no lugar do
Museu, essa instituição das artes que inova, mas também regula; abre-se para o
novo ao mesmo tempo que canoniza e torna rotina.
Jaula é por fim uma referência ao “cubo branco”, uma
crítica sensível ao lado opressivo e ao caráter racista da história e da
crítica de arte brasileiras, bem como ao perfil de monumentalização que ganham
as exposições produzidas no país e que acabam por construir uma história da
arte ainda muito colonial, europeia e masculina.
Nesse sentido, Jaula é a Casa Grande, o trono dos
monarcas e seu dossel, a postura dos dominantes, as próprias amarras e utopias
que conformam esse país. Jaula é nossa limitação cultural, nossa
tentativa de racializar o outro e de entender a branquitude como universal. É
essa democracia brasileira incompleta, que diz incluir quando exclui,
secularmente.
Já o trabalho de Daniel Lannes, como seus pinceis
irreverentes – esteticamente sedutores – entra em todas essas estruturas para
delas sair: desmonta, desorganiza, inverte. O artista relê por dentro essa
história potencial, que se inscreve pela contraposição, por ironia fina,
através de uma arte que domina o traço e as técnicas acadêmicas, mas que dá a
eles um outro destino. Invade a Jaula.
Serviço
Jaula - Daniel Lannes
Visitação
20 de julho a 23 de outubro de 2022
Terça a sexta, 12 às 18 horas
Finais de semana e feriados, 12 às 17 horas
Paço Imperial – Rio de Janeiro
Praça XV de Novembro, 48
Entrada gratuita