Empreendedores
estão investindo mais em agregar valor aos produtos - com o lançamento de
marcas próprias, por exemplo -, além de garantir presença nas redes sociais
Apesar do aumento generalizado nos preços dos
alimentos, um artigo não costuma faltar na lista de compras do brasileiro: o
café. Com a pandemia perdendo força, o setor tem registrado uma nova retomada,
segundo avaliação do Sebrae. Além da busca por medidas que agreguem valor aos
produtos – como a criação de uma marca própria e boas embalagens –, outro fator
que tem impulsionado as vendas é a presença digital.
“O produtor de café é muito curioso. Ele quer
aprender como é a torra do café, como melhorar a qualidade do seu produto.
Agora estão também apostando em mídias digitais, como filmar o produto, a
propriedade, a colheita e divulgar nas redes sociais”, revela a gestora
Nacional de Projetos do Segmento de Café do Sebrae Nacional, Carmen Sousa.
Segundo ela, a instituição trabalha
estrategicamente para promover a união de três elementos bases para o segmento:
território, produtos e pessoas e só assim teremos exclusividade, diferenciação,
novas experiências e autenticidade. Nesse sentido, o produtor “precisa ter uma
visão de negócios, agregar valor ao produto e ter sentimento de pertencimento,
de que a propriedade é o negócio dele”, situação que mudou muito, reforça a
gestora. Atualmente, o café é o produto agrícola brasileiro com o maior número
de registro de Indicações Geográficas (IG) – 12, ao todo. Mas 20 ainda estão em
processo de diagnóstico e estruturação para verificação de potencial.
Mercado reaquecido
O novo momento de reaquecimento do setor também
desperta a esperança no empreendedor Thiago Veloso da Motta Santos, dono da
Arbor, empresa que fabrica cafés especiais. A propriedade fica no município de
Patrocínio (MG), maior produtor do mundo de café, segundo adianta Motta.
Colecionando vários prêmios na área de sustentabilidade,
ele também conseguiu desenvolver, com apoio do Sebrae, o projeto para lançar a
marca própria. Agora, o seu produto vai “da semente à xícara”, além de vender
também para microtorrefações. Com o comércio voltando a abrir as portas, bem
como os eventos e as feiras, o cafeicultor já consegue um preço bem competitivo
para o seu produto no mercado, e o pacote de 250 gramas chega a custar R$ 55.
Mesmo comemorando o retorno, pouco a pouco, dos
negócios, Motta relembra o período difícil que enfrentou nos últimos dois anos.
“Foi bastante complicado porque muitas cafeterias, as minhas principais
clientes para o café especial, foram fechadas. Já deu uma melhorada, mas ainda
não está da mesma maneira. Como eu sofri também com as geadas no ano passado,
tive perdas monumentais”, recorda.
O cafeicultor enxerga o posicionamento nas redes
sociais como fundamental e está buscando estratégias para sanar este que
acredita ser um gargalo da empresa. “Cheguei a desenvolver um site para
e-commerce, mas não se consolidou. Vendo pelo Instagram. Há várias opções agora
nesse período pós-pandemia e sinto que tem demanda, tem procura. Tanto de
microtorrefações com marca própria, como cafeterias que trabalham com cafés
especiais e acreditam nisso”, exemplifica. “Hoje, o consumidor reconhece
que café de qualidade custa caro. As cápsulas e saches, métodos alternativos
que permitiram esse incremento da qualidade, foram uma inovação positiva para
toda a cadeia”, complementa.
Dia Nacional do Café
Uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria
de Café (ABIC), conduzida em parceria com a SP Coffee Hub (Hub de fomento à
democratização dos cafés de qualidade), analisou os hábitos de consumo dos
apreciadores de café. Para eles, “o café está relacionado a algo que vai além
do produto, está associado a uma variedade de situações em que o café pode ser
degustado” e que “os sentimentos que permanecem ao provar um ‘excelente café’
são sempre sentimentos de prazer e felicidade”. Segundo os entrevistados, “é
muito difícil atribuir momentos ruins ao ‘tomar café’. A situação pode ser
ruim, mas o café raramente é”.
O Dia Nacional do Café, comemorado nesta
terça-feira (24), foi incluído no calendário brasileiro por iniciativa da ABIC,
em 2005. Apesar de outras datas também fazerem alusão à bebida, a iniciativa da
ABIC tem por objetivo “celebrar o início da colheita, valorizar e homenagear o
produto que é paixão nacional”, informa a própria associação.
Realizado na pandemia, o levantamento da ABIC em
conjunto com a SP Coffee Hub ouviu 5.460 pessoas de 14 municípios brasileiros –
São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Recife (PE), Brasília
(DF), Curitiba (PR), Belém (PA), Uberaba (MG), Petrolina (PE), Feira de Santana
(BA), Novo Hamburgo (RS), Caxias do Sul (RS), Maringá (PR), Blumenau (SC).