58% dos entrevistados estão "confortáveis" com o trabalho
remoto. O estudo também apontou queda de 49% no volume total de estrangeiros
transferidos para trabalhar no Brasil, o que é resultado direto da covid-19
A pesquisa “Mobility 2020” é realizada anualmente
com profissionais de Recursos Humanos, em parceria, pela empresa brasileira
Global Line, especializada em treinamento e consultoria que atua nas áreas de
diferenças culturais, trabalho em equipe, diversidade, neurocoaching e
autoconhecimento, e pela norte-americana Worldwide ERC, que ocupa uma posição
central na indústria de talento e da mobilidade de profissionais entre
diferentes regiões do mundo. Neste ano, o estudo foi realizado entre os meses
de agosto e outubro, coletando respostas de 145 empresas multinacionais que
atuam no Brasil. As empresas que responderam a pesquisa são predominantemente
de grande porte, sendo que 69% delas possui mais de 10.000 funcionários e 70%
faturam mais de US$ 1 bilhão por ano. A maioria delas (61%) tem sede fora do
Brasil.
“Esta é uma pesquisa amostral e não um censo e,
portanto, situações específicas ou pequenos subgrupos podem não estar
adequadamente representados. Porém, com base em nossa experiência, entendemos
que a amostra das empresas respondentes é ampla e diversa o suficiente para
caracterizar de forma precisa o mercado como um todo”, explica Andrea Fuks,
diretora da Global Line. A pesquisa, que está em sua nona edição, é dividida em
duas partes. Na primeira, o foco é nas melhores práticas de Global Mobility. Em
2020, a segunda parte foi ouvir os profissionais de Recursos Humanos sobre a
experiência com o Home Office em tempos de pandemia.
Antes da pandemia, o Home Office era um modelo de
trabalho pouco utilizado pelas empresas consultadas – apenas um em cada sete
profissionais praticava o trabalho remoto - e a sua aplicação provocou grandes
desafios de adaptação para os profissionais, sobretudo em relação ao equilíbrio
entre as atividades profissionais e pessoais em um mesmo ambiente – a
residência da pessoa. Mas os dados obtidos mostram que estes desafios foram
respondidos com o desenvolvimento de novas atitudes e habilidades, que
permitiram superar as dificuldades e, hoje, a grande maioria dos profissionais
se sente confortável com o modelo de trabalho remoto.
De acordo com a pesquisa, até março de 2019,
somente 25% das empresas consideravam o trabalho remoto como uma alternativa
integrada à sua estrutura e cultura. Antes da pandemia, apenas 26% enxergavam o
Home Office como uma prática estratégica e real. Para 24% dos entrevistados,
seria uma iniciativa aceitável para alguns cargos e posições (profissionais de
vendas, por exemplo). 23% apontaram o trabalho remoto apenas como um saída para
situações específicas, 14% admitiram que é um assunto presente nas reuniões de
RH mas que nunca saiu do papel e 12% afirmaram que ele nunca foi considerado.
A pesquisa também questionou as empresas sobre as
principais dificuldades enfrentadas pelo trabalho remoto. Os resultados
mostraram que o grande desafio é coordenar e separar atividades domésticas e
profissionais no mesmo espaço – foi o que responderam 44%. 42% colocaram a
conexão caseira de internet como um problema. Para 40%, ruídos e interrupções
caseiras são outro problema. 38% admitiram dificuldades para controlar seus horários
de começar e encerrar o trabalho. 7% reclamaram das vídeos-conferências em
outros idiomas, enquanto 2% têm dúvidas sobre o que vestir nestas reuniões
virtuais.
O estudo detectou aprendizados interessantes dos
profissionais que praticaram o Home Office, como adaptabilidade e paciência
(18%), equilíbrio de vida pessoa/profissional (16%), organização e disciplina
(16%), gestão do tempo (11%), abertura ao novo e criatividade (10%), empatia
(6%), valorização dos relacionamentos (6%) e manter foco (6%). Ou seja: o
trabalho remoto e o isolamento social também estimularam o desenvolvimento de
novas atitudes em relação à adaptação e também o aprofundamento de habilidades
específicas de organização e gestão, que são fatores bastante positivos gerados
por esta situação inusitada.
Graças a esses aprendizados, algumas atividades que
pareciam muito difíceis a princípio, acabaram e mostrando mais fáceis.
Exemplos: comunicação de trabalho em equipe (25%), trabalhar em casa (19%),
gestão do tempo pessoal/profissional (18%), não sair de casa (9%), manter o
foco (8%), adaptação (8%) e isolamento (5%).
No balanço geral, apesar de ter demandado muita
energia, o trabalho remoto vem gerando sentimentos majoritariamente positivos:
Produtivo (52%), Protegido (47%), Cansado (45%), Focado (35%), Conectado (30%),
Solitário (17%), Solidário (14%) e Receoso (13%). Entre os profissionais
entrevistados, 58% afirmaram estar “muito confortáveis” com o trabalho remoto,
contra 36% de pessoas “confortáveis” e apenas 6% “desconfortáveis”. Sobre a
dificuldade de trabalhar com equipe remota, 91% classificaram essa atividade de
“muito parecido com o normal”, “muito fácil”, ou “fácil”. Apenas 9% responderam
“difícil”.
Apesar desses números, a pesquisa mostra que ainda
existem arestas para serem aparadas. Perguntados sobre os desafios de trabalhar
remotamente, os profissionais ouvidos afirmaram: socializar (68%), desenvolver
confiança (33%), comunicar (28%), dar feedback (22%), manter a meta comum
(22%), liderar (15%) e fazer amigos (14%). São desafios importantes ainda não
resolvidos para a construção de equipes fortes e com boa performance.
Além disso, os profissionais apontam, para as
empresas, diversos pontos de melhoria que devem ser considerados na
continuidade do trabalho remoto: segurança de dados (79%), comunicação
efetiva (74%), maior foco em uma cultura humanizada e colaborativa (70%),
manter o engajamento dos trabalhadores (65%), receber/acolher os novos
colaboradores (53%), repensar práticas organizacionais (52%), avaliação de
performance (51%) e investir em ferramentas /treinamentos para o
desenvolvimento humano (49%). Como se vê, uma das tendências mostradas nesses
números é que a incorporação do modelo de trabalho remoto demandará maior foco
das empresas no desenvolvimento de habilidades interpessoais, como comunicação
e colaboração.
PROFISSIONAIS EXPATRIADOS
A população de transferidos cobertos pela pesquisa
foi de 4.890 profissionais. Entre 2019 e 2020, houve uma significativa queda
(16%) da população de profissionais transferidos. Essa queda foi gerada, em
grande parte, pela forte redução no volume de estrangeiros transferidos para o
Brasil, que caiu 49%. Esses números são um reflexo da pandemia, que reduziu a
atratividade do Brasil como destino, tanto por questões de saúde quanto de expectativas
econômicas. Também houve uma redução importante, de 37%, na quantidade de
profissionais brasileiros enviados para trabalhar em empresas brasileiras fora
do Brasil.
Entre os profissionais que foram transferidos para
outro país, a maior parte (92%) mudou-se por um período superior a um ano.
Transferências de curto prazo (de três a 12 meses) responderam por 79%;
transferências definitivas, 69%; viagens de negócios estendidas, 34%; trainee
ou estagiário internacional, 30%; rotação de posições, 20%; transferência
temporária, 19%; pós-graduação ou graduação (5%).
As equipes de mobilidade geralmente fazem parte da
área de remuneração e benefícios. 60% dos entrevistados trabalham nessa área.
Eles percebem sua contribuição à empresa de forma diversa, ligada tanto ao
negócio quanto diretamente aos indivíduos que atendem. Para a maioria dos
entrevistados (34%), sua principal contribuição à empresa é o “Apoio ao
negócio”.
Worldwide ERC
Global Line