No interior de um país da África Subsaariana, Bomani, um pequeno agricultor, produz milho e alguns vegetais em um solo pobre em nutrientes ou já esgotado por sucessivas colheitas sem a reposição de nutrientes. Bomani emprega seus vizinhos nos períodos de plantio e colheita. A venda acontece em uma cidade próxima a sua pequena propriedade, mas o preço de venda é sempre menor ao preço dos produtos que ele precisa comprar. Essa desconexão é muito comum na maioria dos países desta região.
Bomani faz parte do setor que é o
principal pilar econômico do continente africano, a agricultura. Esse setor tem
grande importância para o futuro econômico da região, pois o setor é
responsável por mais de um quarto do produto interno bruto (PIB) na maioria dos
países. Os produtos agrícolas representam cerca de 20% do comércio
internacional da África e são uma das principais fontes de matérias-primas para
a indústria.
A realidade do Bomani, assim como de
muitos pequenos agricultores da África Subsaariana, é de baixos volumes de
chuvas, solos pobres e décadas de baixo investimento na agricultura. Essa
triste realidade contribuiu para a pobreza desses agricultores, que representam
65% da população. A mudança desta situação está na ajuda de governos africanos,
agências das Nações Unidas e organizações não governamentais para aumentar a
produtividade agrícola, os sistemas de transporte e comercialização e adotar
métodos agrícolas modernos e sustentáveis.
Sem essas ações o continente africano
não alcançará seus objetivos de desenvolvimento e Bomani, assim como a maioria
da população rural, não terá colheitas suficientes. De acordo com o relatório
da ONU sobre o Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo em 2019, a
fome está aumentando na maioria das regiões da África Subsaariana, tornando o
continente a região onde a desnutrição é a mais alta, com quase 20%. O
continente ainda não consegue se alimentar, daí a necessidade de melhorar a
produtividade agrícola.
À medida que uma nova década desponta,
no entanto, Bomani e seu colegas agricultores tem o acesso e o uso de insumos
agrícolas essenciais subutilizados. Bomani sabe que os fertilizantes são um dos
principais insumos para o setor agrícola alcançar produtividades maiores, no
entanto o seu uso permanece abaixo da meta estabelecida na Declaração de Abuja
de 2006, ou seja, o uso de pelo menos 50 kg por hectare. Como parte desta Declaração
sobre Fertilizantes para a Revolução Verde Africana, os líderes africanos se
comprometeram a acelerar o acesso dos agricultores, ajudando Bomani a comprar
fertilizantes a preços acessíveis, bem como aumentar o nível de uso deste
insumo.
A situação de Bomani é a mesma de
muitos agricultores, onde a aplicação média de fertilizantes por hectare na
África Subsaariana é de 17 kg/ha, em comparação com a média mundial de 135
kg/ha. Isto significa que um pequeno aumento na quantidade de fertilizante usado
pode ter resultados significativos. O baixo uso de fertilizantes na África
também se deve à incapacidade do continente de construir uma cadeia de valor de
fertilizantes forte e dinâmica para atender às necessidades do agricultor
Bomani.
Em um estudo feito
na Etiópia descobriu que adicionar cerca de uma colher de fertilizante mineral
a cada planta resultou em um aumento exponencial na produção de milho.
Uma população em rápido crescimento requer
a produção de fertilizantes em grande escala para garantir uma melhor
produtividade. De acordo com a estratégia de industrialização 2016-2025 do
Banco Africano de Desenvolvimento, a missão do Mecanismo Africano de
Financiamento de Fertilizantes é atrair e canalizar fundos para infraestruturas
e projetos relacionados com o setor de fertilizantes.
A atual produção de alimentos que
Bomani e os agricultores da África Subsaarina não são suficientes para suprir
as demandas da população, isso faz com que a África continue sendo um
importador líquido de alimentos. Isso aumenta a vulnerabilidade da África,
especialmente em tempos de crise. Afastar-se de um sistema alimentar
insustentável em que a África gasta quase US $ 64,5 bilhões por ano para
importar alimentos, que poderiam ser produzidos pelo Bomani e os demais
agricultores africanos, é uma meta fundamental.
A preocupação de Bomani, assim como de
muitos agricultores, é garantir a segurança alimentar para uma população em
crescimento. Bomani sabe que o uso apropriado de fertilizantes pode melhorar a
qualidade da saúde do solo, o que por sua vez irá contribuir para a produção de
alimentos de qualidade para garantir a saúde da sua família e da população. Na
verdade, a melhoria da qualidade dos alimentos através do fornecimento de
micronutrientes pode acelerar os esforços para melhorar a situação de
desnutrição de seus filhos. A aplicação de fertilizantes minerais no solo ou
nas folhas das plantas pode aumentar o conteúdo de micronutrientes, que são
essenciais para o crescimento e desenvolvimento humano, o que vai garantir que
os filhos de Bomani tenham maior capacidade de trabalho, mas também menor
dependência do sistema de saúde. O apoio a este setor pode ajudar muito no
combate à desnutrição, um flagelo que afeta milhões de crianças africanas.
Bomani tem consciência que o aumento do
apoio ao setor de fertilizantes pode ser um divisor de águas para sua
propriedade e para a África, acelerando a realização de seus objetivos nas
áreas de segurança alimentar e nutrição. Com o acesso a fertilizantes de
qualidade e baratos, ele poderá transformar sua produção agrícola e melhorar a
sua subsistência. Além disso, Bomani reconhece a necessidade de priorizar sua
capacitação para garantir o uso adequado de insumos agrícolas para alcançar o
potencial aumento da produtividade.
Com objetivo de melhorar a percepção da
população em relação às funções e os benefícios dos fertilizantes, foi
estabelecida no Brasil, em 2016, a iniciativa Nutrientes Para a Vida (NPV). A
NPV possui visão, missão e valores análogos aos da coirmã americana, a Nutrients
For Life. Sua principal missão é destacar e informar a respeito da
relevância dos fertilizantes para o aumento da qualidade e segurança da
produção alimentar, colaborando com melhores quantidades de nutrientes nos
alimentos e, consequentemente, com uma melhor nutrição e saúde humana.
As informações divulgadas pela NPV são
baseadas em dados científicos, tanto que a iniciativa tem a participação de
renomados cientistas e pesquisadores de importantes centros de pesquisa
brasileiro.
Valter Casarin - engenheiro agrônomo, coordenador científico da iniciativa Nutrientes para a Vida
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