A mortalidade infantil é um dos melhores indicadores
das condições de vida e saúde de uma população, sendo que a mortalidade
neonatal permanece responsável por um grande número óbitos no primeiro ano de
vida. Do total de mortes infantis, 5,3 milhões ocorrem nos primeiros cinco anos
de vida, quase metade delas no primeiro mês. O Dia Mundial da Prematuridade é
comemorado internacionalmente em 17 de novembro para promover o reconhecimento
da prematuridade como importante problema de saúde pública.
De acordo com a doutora Flávia do Vale,
coordenadora de Obstetrícia do Hospital Icaraí, geralmente 80% dos partos
prematuros são espontâneos e causados ou por ameaça de parto prematuro, o que
acaba ocorrendo, ou pela ruptura da bolsa. Cerca de 20% dos partos prematuros
são causas iatrogênicas, ou seja, algumas doenças maternas ou fetais em que há
necessidade dos bebês nascerem antes da hora, como hipertensão, insuficiência
placentária e descolamento de placenta, que às vezes é necessário ser
interrompida antes da hora.
“Até hoje, não se sabe o que exatamente causa o
trabalho de parto prematuro. Existem alguns fatores de risco que podem
contribuir para o caso, como gemelaridade, hipertensão arterial, bebês muito
grandes, aumento de líquido, malformação uterina ou ainda casos em que algumas
mulheres já fizeram cirurgia que tira um pedaço do colo do útero. A
prevenção da prematuridade não é uma coisa fácil, depende da causa. As
gestantes fazem a ultrassom morfológica, que é a ultrassom para avaliar a
formação do bebê, e, nesse exame, é incluído um ultrassom transvaginal, em que
é feita a medição do colo do útero, pois sabemos que mulheres que têm o colo do
útero curto, ou menor do que 25 milímetros, são mulheres que têm maior chance
de ter prematuridade", explica.
Os bebês prematuros: nascimento
antes das 37 semanas
Uma gestação normalmente dura 280 dias, que são
aproximadamente 40 semanas. O nono mês da gestação compreende de 37 semanas a
42 semanas. Flávia esclarece que os prematuros são todos aqueles bebês
que resolvem nascer antes das 37 semanas: “O trabalho de parto prematuro, ele
vem com os sintomas de trabalho de parto normal, só que é como ter antes da
hora. Entre 34 e 37 semanas, nem todos os bebês vão para a UTI. Bebês abaixo de
34 semanas e com menos de 2kg, geralmente vão", conta.
Flávia conta que pais de bebês prematuros enfrentam
um grande desafio quando levam os filhos para casa: "Assim que o bebê
nasce, ele vai para a UTI e os pais recebem ajuda frequente de enfermeiras e
médicas, estão sempre sendo assistidos. Logo, a alta da UTI é sempre um novo
desafio, porque eles vão pegar seus bebês e levá-los para casa para poder
cuidar deles sozinhos, sem a presença dos profissionais que estavam no
hospital. São bebês geralmente de baixo peso, mais magrinhos,
menorzinhos", expõe.
Segundo a especialista, esses pais são sempre
especiais, pois enfrentam uma luta maior do que todo mundo. Primeiro ao lidar
com a chegada desse bebê, que resolve vir antes da hora. Posteriormente, o
período de luta desses bebês dentro da UTI, assim como a ida dos bebês para suas
residências. "É sempre importante lembrar que existem inúmeras histórias
de sucesso. Os bebês acima de 1kg sobrevivem praticamente 100% sem nenhuma
sequela. É muito importante mantermos sempre a esperança, porque essa luta, no
final, sempre vale a pena", revela.
Lendas e mitos acerca da
prematuridade
De acordo com Flávia, existem alguns mitos ao redor
dos prematuros. Um deles é que os bebês que nascem de oito meses têm uma chance
melhor do que os bebês que nascem de sete meses." Cada peso que o bebê ganha,
em cada semana gestacional, tem um prognóstico muito melhor, então isso é uma
lenda. Bebês de 1,5kg têm mais chances que bebês de 1kg sempre. Bebês de 32
semanas têm mais chance do que os bebês de 30 semanas. Então quanto mais pesado
e quanto mais idade gestacional do bebê prematuro, maior a chance dele",
salienta.
Outra lenda, segundo a pediatra, é acerca dos bebês
bem pequenos, os que ficam na incubadora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
"No primeiro momento, os papais morrem de medo de encostar, tocar, com
receio, muitas vezes, de pegar os bebês no colo. E esse toque é outra coisa que
é superimportante. Algumas maternidades fazem até a mamãe canguru, quando é
colocado os bebês pele a pele com as mamães para poder passar carinho, amor e
sentir o coração da mamãe. Então passar carinho e amor, tocando nos
bebês, é uma coisa muito importante que deve ser feita”, afirma.
As trigêmeas prematuras
Para Giselle Macedo, de 40 anos, mãe das trigêmeas
Giovanna, Ester e Valentina, ser mãe de filhos prematuros não é fácil,
sendo um misto de sentimento e muito aprendizado.
“A minha gestação, desde o início, já foi uma
grande surpresa, porque, quando eu descobri que seriam trigêmeas, foi mais
tenso, justamente por conta dos riscos da prematuridade, uma grande preocupação
para todo mundo. Eu mantive todas as recomendações necessárias, o repouso
conforme a orientação do obstetra, justamente para manter a gestação o mais
tempo possível, sendo que infelizmente, quando eu estava com 29 semanas, eu apresentei
um sangramento e, por orientação do meu obstetra, decidimos ir pra
emergência do hospital Icaraí ter os bebês", afirma, ressaltando que, ao
chegar no Hospital Icaraí, foi diagnosticado que uma das bebês não estava
recebendo os nutrientes necessários para o desenvolvimento.”
“Eu fazia acompanhamento todos os dias, mas
infelizmente, em um dia pela manhã, quando eu desci para realizar o exame, a
médica diagnosticou que ela estava ainda perdendo peso e que teria que fazer o
parto ali, naquele dia. Eu fiquei desesperada, muito desesperada, mas, graças a
Deus e a toda equipe, o parto foi realizado com êxito. As minhas bebês foram
encaminhadas para a UTI, mas não foram intubadas e ficaram somente para ganhar
peso", esclarece. As trigêmeas foram recebendo alta gradativamente.
A primeira a receber alta foi Ester, que ficou 39 dias. A segunda foi Giovanna,
que ficou 44 dias. Por último, com 59 dias na UT, Valentina foi liberada,
nascendo com 780g e chegando a 680g.
A história da pequena Joana
“Após nove anos de casados, decidimos que já era
hora de engravidar. Fiz todo o acompanhamento de pré-natal e tudo aparentemente
estava bem. A princípio, só aparecia que a nossa bebê estava um pouco pequena,
mas não me assustou devido a eu ser pequena também. Mais ou menos com 30
semanas, eu estava na igreja à noite e senti um desconforto no estômago, mas
acabei ignorando. Durante a madrugada, continuei me sentindo mal e fui
verificar a pressão, que estava dando 17x10. Logo me assustei um pouco e entrei
em contato com meu esposo, que estava trabalhando, e meus pais. Em contato com
meu obstetra, decidimos, então, ir pra emergência do Hospital Icaraí",
relata Susana Vidal, de 29 anos, mãe da Joana.
Ao chegar no Hospital Icaraí, ela passou por exames
- nos quais foi constatado que ela estava apresentando pré-eclâmpsia e a
bebê apresentava sofrimento fetal. “No momento em que a médica falou que
a minha bebê estava sofrendo, eu não pensei duas vezes, eu pensei que aquele
era o momento dela vir ao mundo. E então após os exames, medicações, na mesma
noite, a cirurgia foi marcada e Joana nasceu. Foi um parto tranquilo, graças a
Deus. Joana nasceu com 35cm e um pouco menos que 900 gramas, mas sem
complicações respiratórias. Ela foi direto para o CTI e eu fiquei internada mais
ou menos uma semana, para controle de pressão", relata.
No período de internação, Joana ficou mais ou menos
3 meses no CTI, acompanhada sempre de perto pela mãe. "A equipe foi muito
acolhedora, amorosa e humana. A palavra que resume é humana, uma equipe muito
humana, de profissionais capacitados, tanto a enfermagem quanto, as equipes
médicas, a equipe de fisioterapia e, parte da limpeza, todos com o sentimento
diferenciado, sempre me dando atenção, orientação e me incentivando a pegar a
minha filha, fazer um canguru", diz.