Segundo números do levantamento do
Conselho Nacional de Secretários da Saúde e do Ministério da Saúde, já foram
registradas mais de 160 mil mortes causadas pelo Covid-19 no Brasil. Nesse
contexto, o estresse exacerbado e a decorrência do luto nas pessoas que não
conseguiram se despedir de seus familiares ou entes queridos podem
desencadear transtornos mentais, como os relacionados à ansiedade e
depressão~1,2~, e aumentar os sentimentos de solidão e raiva3.
Como lidar com os momentos difíceis e a intensificação dos problemas
psíquicos e emocionais? Quais os reais impactos da pandemia e como lidar com
o pós-pandemia? |
Abaixo, informações que podem ser
abordadas na conversa:
• Em situações atípicas, como a atual
pandemia, muitas vezes as respostas ao estresse podem incluir aumento
dos sintomas de ansiedade e humor, tais como desamparo, preocupações contínuas
e exacerbadas acerca da própria saúde e com a saúde de pessoas próximas,
alterações no sono ou nos padrões alimentares, dificuldade de concentração,
agitação, culpa, irritabilidade, apatia e desânimo4. Assim, muitas
das consequências previstas da quarentena são fatores de risco essenciais para
problemas de saúde mental. Isso inclui suicídio e autoagressão, abuso de álcool
e substâncias, jogos de azar, e abuso doméstico e infantil5 .
• O estresse também influencia os
processos de tomada de decisão, alterando a avaliação das opções, o
processamento das consequências e a sensibilidade aos retornos e riscos6.
Por isso, as respostas a eventos estressantes podem incluir um aumento nos
comportamentos de risco, como maior uso de álcool, tabaco e outras drogas7,
ou mesmo exposição a situações que aumentam as chances de contágio, como sair
de casa corriqueiramente e de forma desprotegida, ficar em meio a multidões ou
lugares fechados, ou negligenciar hábitos de higiene pessoal.
• O crescimento dos comportamentos de
risco e o isolamento social têm o potencial de promover e agravar a
fisiopatologia, desregulando os principais processos biológicos, como a
inflamação e os sistemas de resposta ao estresse8. Essa
desregulação, há muito tempo, vem sendo diretamente associada ao aumento da
incidência de sintomas de ansiedade e depressão9 .
• Existem alguns quadros de
psicopatologia relacionados ao trauma e aos fatores estressores. A presença
destes transtornos mentais exige uma avaliação diagnóstica criteriosa e atenção
especializada em saúde mental~10, 11~. É o caso do Transtorno de Estresse
Pós-Traumático, caracterizado pelo desenvolvimento de sintomas com duração
superior a um mês, causando sofrimento clinicamente significativo e prejuízo
social, funcional ou em outras áreas; o Transtorno de Estresse Agudo, em
que o indivíduo apresenta diversos sintomas, com duração de três dias a um mês
depois de um acontecimento estressor potencialmente traumático, com sofrimento
clinicamente significativo e prejuízo social, funcional ou em outras áreas; e o
Transtorno de Adaptação caracterizado pela presença de sintomas
emocionais ou comportamentais, ocorrendo dentro de três meses, em resposta a um
estressor identificável.
• Uma das consequências da pandemia é
o grande número de pessoas que sofreram perdas, entre parentes e amigos. Nesse
contexto, a discussão sobre o luto ganha especial relevância. Os rituais
de despedida e o suporte de outras pessoas são importantes no processo de
aceitação e adaptação. Em algumas situações, por características psicológicas
da pessoa que sofreu a perda, da relação que existia com a pessoa que morreu,
ou pelas circunstâncias da morte, esse processo de adaptação pode não ocorrer,
levando a quadros de desadaptação, como o Transtorno de Luto Prolongado ou
o Transtorno de Luto Complexo Persistente~10, 11~, e demandam intervenção
especializada.
REFERÊNCIAS
• Dar KA, Iqbal N,
Mushtaq A. Intolerance of uncertainty, depression, and anxiety: examining the
indirect and moderating effects of worry. Asian J Psychiatr. 2017
Oct;29:129-33. doi: 10.1016/j.ajp.2017.04.017.
• Zhang J, Wu W,
Zhao X, Zhang W. Recommended psychological crisis intervention response to the
2019 novel coronavirus pneumonia outbreak in China: a model of West China
Hospital. Precis Clin Med. 2020 Feb 18;3(1):3-8. doi: 10.1093/pcmedi/pbaa006.
• Xiang YT, Yang Y,
Li W, Zhang L, Zhang Q, Cheung T, et al. Timely mental health care for the 2019
novel coronavirus outbreak is urgently needed. Lancet Psychiatry. 2020 Feb
4;7(3):228-9. doi: 10.1016/S2215-0366(20)30046-8.
• Hall RCW, Hall
RCW, Chapman MJ. The 1995 Kikwit Ebola outbreak: lessons hospitals and
physicians can apply to future viral epidemics. Gen Hosp Psychiatry. 2008
Sept-Oct;30(5):446-52. doi: 10.1016/j.genhosppsych.2008.05.003.
• Mahase E. Covid-19: mental health
consequences of pandemic need urgent research, paper advises. BMJ.
2020;369:1-2. doi: 10.1136/bmj.m1515.
• Brymer M, Jacobs
A, Layne C, Pynoos R, Ruzek J, Steinberg A, et al. Psychological first aid -
field operations guide. 2nd ed. Washington (DC): NCTSN and NCPTSD; 2006.
Available from: https://www.nctsn.org/sites/default/files/resources//pfa_field_operations_guide.pdf.
• Starcke K, Brand
M. Decision making under stress: a selective review. Neurosci Biobehav Rev.
2012 Apr;36(4):1228-48. doi: 10.1016/j.neubiorev.2012.02.003.
• Suvarna B, Suvarna
A, Phillips R, Juster RP, McDermott B, Sarnyai Z. Health risk behaviours and
allostatic load: a systematic review. Neurosci Biobehav Rev. 2020 Jan;108:694-711.
doi: 10.1016/j.neubiorev.2019.12.020.
• Friedman EM,
Hayney MS, Love GD, Urry HL, Rosenkranz MA, Davidson RJ, et al. Social
relationships, sleep quality, and interleukin-6 in aging women. Proc Natl Acad
Sci U S A. 2005 Dec 20;102(51):18757-62. doi: 10.1073/pnas.0509281102.
• Plotsky PM, Owens
MJ, Nemeroff CB. Psychoneuroendocrinology of depression:
hypothalamic-pituitary-adrenal axis. Psychiatr Clin North Am. 1998 Jun
1;21(2):293-307. doi: 10.1016/s0193-953x(05)70006-x.
• American
Psychiatric Association. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de transtornos
mentais. 5a ed. Porto Alegre: Artmed; 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário