A moda, além de ser um conjunto de opiniões e tendências de estilo, não deixa de ser um reflexo da sociedade. A lingerie é um dos segmentos que se encaixa nesse padrão, especialmente quando se pensa no sutiã. Para muito além de uma peça que pode levantar os seios, oferecer sustentação e aumentar a autoestima, a roupa também tem envolvimentos históricos, sociais e políticos.
Desde o uso de panos para cobrir o busto até a
criação do
sutiã com bojo, os detalhes e curiosidades sobre a peça e seus usos podem
oferecer informações sobre o momento da história, assim como a posição e a importância
da mulher na época em questão.
Foto: Sacoleira Chique/Reprodução |
O primeiro "sutiã"
tem milhares de anos
Quando se fala na peça íntima, a imagem que pode
vir à mente é de um
sutiã de renda, com alguma cor básica. O primeiro protótipo de sutiã,
entretanto, é bem diferente do modelo atual.
Pinturas gregas, do primeiro milênio, mostram
mulheres com panos ao redor dos seios. Apesar de não ter sido uma peça de roupa
constante - há épocas de grande uso e momentos em que não aparece tanto -,
acredita-se que o tecido era usado para achatar o busto, facilitando movimentos
ao longo do dia.
Pinturas históricas mais antigas indicam ainda que mulheres escravizadas permaneciam com os seios expostos, mesmo quando o objeto era usado por outras, indicando diferenciação por status.
Foi originado do espartilho
Entretanto, no início do século XX, com a chegada
da Primeira Guerra Mundial, as mulheres brancas começaram a tomar papéis
sociais antes inéditos a elas. A partir de 1914, muitas tiveram que trabalhar
enquanto os homens estavam na guerra.
Dessa forma, o espartilho, além de incômodo,
tornou-se pouco prático, o que levou à invenção de uma nova lingerie. Não
demorou muito para que a americana Mary Polly patenteasse a invenção de uma
peça que cobria os seios, com duas fitas amarradas nos ombros, que seria o
primórdio do sutiã.
Coco Chanel influenciou no uso
Ainda com grande influência do espartilho, os
sutiãs no início da década de 1920 tinham propósito de levantar os seios,
deixando-os maiores e mais avantajados. Como consequência, as peças mais usadas
eram apertadas.
Na época, a criadora de moda Coco Chanel foi uma
das primeiras a revolucionar o uso. A estilista incentivou a produção de sutiãs
que achatavam os seios, deixando o corpo mais próximo do masculino.
A francesa também é conhecida por popularizar o uso
de calças pelas mulheres, além de pensar em roupas e acessórios mais práticos,
que permitissem que a pessoa se mexesse livremente.
Criação dos modelos com bojo
Não demorou muito para que a preferência por bustos
avantajados voltasse a aparecer na moda. Por volta de 1930 e 1940, começaram a
ser produzidos peças com bojos e enchimentos, para intensificar a sustentação
do sutiã e aproximar os seios, dando a impressão de serem maiores.
Na mesma época, tornava-se popular o estilo pin-up
nos Estados Unidos, que incentivava modelos com curvas, em poses sensuais.
Muitas das peças íntimas voltaram a se inspirar fortemente no espartilho e em
roupas que acentuassem os seios. Dessa forma, o modelo de bojo encaixava-se
nesse propósito.
A queima dos sutiãs
A queima dos sutiãs na lata de lixo é um grande marco para o movimento feminista da década de 1960. Entretanto, o dia em questão, conhecido como parte do "Women's Liberation Movement", em setembro de 1968, foi muito além da destruição da peça.
O propósito era colocar fogo em diversos objetos
que representassem a opressão feminina. Revistas de moda, maquiagens e
cosméticos também foram para a lixeira. O protesto ocorreu durante um concurso
de Miss América, que visava eleger a mulher mais bela do país.
Após esse grande movimento, empresas de lingerie
perceberam a importância de priorizar o conforto nas peças íntimas. A partir
daí, sutiãs mais largos e práticos foram ainda mais comercializados pela
indústria.
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