Pesquisar no Blog

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Dificuldade em aprender rimas na pré-escola pode ser sinal de dislexia

Você acha engraçado quando seu filho fala errado? Ele costuma inverter as sílabas das palavras, como salada por sadala? E quanto às rimas, ele tem dificuldade para aprendê-las? ‘Um dois, feijão com arroz’, por exemplo? Estas podem ser algumas manifestações iniciais da dislexia, um Transtorno Específico da Aprendizagem, cuja origem é neurobiológica e afeta cerca de 7% da população em geral.

De acordo com a neuropediatra Dra. Andrea Weinmann, a dislexia se caracteriza pela dificuldade em reconhecer as palavras, ler e escrever. “A condição não está relacionada à inteligência, pois são crianças com as funções intelectuais normais. Também não está relacionada à falta de oportunidades ou ao ensino inadequado”.

“A dislexia está ligada a um déficit fonológico, ou seja, ela não desenvolve a consciência de que a linguagem é formada por palavras, as palavras por sílabas, as sílabas por fonemas e que os fonemas são as letras do alfabeto que representam os fonemas. Para que a leitura e a escrita ocorram, é necessário que todo esse processo seja entendido de uma forma automática”, explica a neuropediatra.


Dislexia, cérebro e genética
 
Vários estudos de imagem ao longo dos anos revelaram que pessoas com dislexia apresentam ativações anormais de estruturas cerebrais envolvidas no processamento da linguagem. Além disso, pesquisas genéticas já identificaram mutações genéticas envolvidas na dislexia, presentes em vários membros de uma mesma família. Há ainda os fatores ambientais, como nível socioeconômico dos pais, estimulação ao letramento, entre outros, que podem levar à condição.  


Atraso na fala é sinal de alerta
 
O diagnóstico da dislexia só é feito depois dos 6 anos, idade em que a criança começa a ser alfabetizada. Entretanto, na idade pré-escolar, algumas manifestações podem sugerir um quadro de dislexia. “Em alguns casos, a criança pode apresentar atraso no desenvolvimento da fala, ter um comportamento mais desatento ou disperso, pode ter mais dificuldade em aprender músicas ou rimas simples, por exemplo”, cita a neuropediatra.

A dislexia também pode afetar a pronuncia de palavras mais complexas. A criança pode omitir ou inverter os sons das palavras. “Alguns pais, por desconhecimento, podem achar engraçado quando a criança diz uma palavra errada. Claro que na aquisição da linguagem isso vai acontecer. Porém, é preciso dar o modelo correto da palavra. Se mesmo assim, os erros de pronúncia se repetirem ou a fala estiver atrasada ou defasada, o ideal é consultar um especialista”, comenta Dra. Andrea.

Já na fase escolar, os sinais ficam mais evidentes e a escola certamente irá transmitir aos pais informações importantes. “Além da dificuldade de ler e escrever, são alunos com níveis mais altos de distração, costumam confundir as direções, esquerda com direita, podem ter mais dificuldade para copiar tarefas de livros ou do quadro. Também podem apresentar um vocabulário mais empobrecido, usando frases curtas ou ainda muito longas e vagas”, diz a especialista.
 

Dislexia e Comorbidades
 
Na última versão do DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, todos os transtornos de aprendizagem foram classificados dentro do diagnóstico geral do Transtorno Específico de Aprendizagem, incluindo dislexia, discalculia, disgrafia, disortografia, entre outros.

Isso porque em cerca de metade dos casos, a criança pode apresentar mais de um transtorno. Outro diagnóstico muito prevalente nessa população é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Estima-se que de 25 a 40% das crianças apresentam os dois diagnósticos, ou seja, de TDAH e de dislexia, concomitantemente.  


Diagnóstico e Tratamento 
 
O diagnóstico é feito pelo neuropediatra, em parceria com uma equipe de profissionais, como um neuropsicólogo, um geneticista, entre outros. Quanto ao tratamento, é importante dizer que a dislexia não tem cura. Mas, a intervenção precoce é fundamental para ajudar a criança no processo da aprendizagem.

“Essas crianças podem e conseguem aprender, mas para isso é preciso adaptar os materiais, o método de avaliação e de ensino, assim como é preciso que os pais façam treinamentos específicos e estejam engajados no processo de aprendizagem para contribuir para o sucesso na vida acadêmica da criança e do adolescente”, conclui Dra. Andrea.

“Socorro, meu filho não lê!”


 O hábito da leitura, ou melhor, a falta dele, é um dos assuntos que mais afligem pais e mães de crianças em idade escolar. Preocupados, os adultos muitas vezes pressionam seus filhos ou cobram da escola alguma medida milagrosa que contamine o aluno com o “vírus leitor.” Os resultados produzidos por ambas as medidas costumam ser bastante insatisfatórios.

Mas, afinal, haveria algo de prático que os pais poderiam fazer para que seus filhos desenvolvam o gosto pela palavra escrita? Sim! Seguem algumas dicas preparadas especialmente pelo professor de Leitura Crítica do Colégio Stockler:


Dica #1: Não critique os títulos preferidos por seus filhos.

Deixe de lado a lista de obras cobradas pelos vestibulares e lembre-se que um dos fatores que determinam a construção de qualquer hábito é justamente o quanto de prazer extrai-se daquela atividade. Em vez de criticar as preferências literárias do jovem, experimente aproximar-se do universo dele perguntando o que o atrai naquela obra ou naquele autor.


Dica #2: Não faça do acervo da sua casa um depósito de livros.

Abra mão do compromisso de montar aquela estante bonita, cheia de autores consagrados cujas obras você jurou para si mesmo que lerá algum dia mas que, muito provavelmente, ficarão lá juntando pó. Nada contra a alta literatura, aquela que nos desafia e provoca. Muito pelo contrário! Mas se a sua intenção é incentivar o hábito de leitura em seu filho, de nada adianta criar um depósito de livros que jamais serão abertos ou comentados pela família.


Dica #3: Leia mais por prazer e dê o exemplo.

Apoiados em um sem número de pretextos, das demandas do trabalho aos compromissos familiares, os adultos também deixam os livros para amanhã. Sabemos que as crianças aprendem muito pelo exemplo. Ver os pais imersos na leitura de algo que, de fato, os interessa, é essencial para que elas valorizem o contato com a palavra escrita.

Dica #4: Torne a ida à livraria ou ao sebo um passeio em família.
A visita à livraria convida a criança e o jovem a degustarem os títulos expostos. Quem nunca foi seduzido por uma capa bonita? Saborear a obra antes de comprá-la, ter que escolher entre dois livros bacanas e deixar o outro para depois (olha aí a desculpa para visitar, novamente, a livraria!), puxar conversa com outras crianças que estejam espiando a mesma estante, pedir dicas à equipe de vendedores (eles costumam ser muito bem preparados e dispostos a ajudar!) são apenas alguns dos motivos para ir com os filhos a uma livraria. 


Dica #5: Incentive seu filho a compartilhar livros com os amigos.

Além de permitir a descoberta de afinidades, trocar livros leva ao desenvolvimento de inúmeras habilidades como a capacidade de expressar opiniões, de discordar com respeito e até de lidar com a frustração de o outro não se entusiasmar pela nossa indicação. Para os mais velhos, trocar livros pode render ótimos papos, além de abrir portas para a discussão de temas tão importantes quanto delicados, como amizade, sexualidade e inseguranças sobre a vida adulta.

“Em comum, todas essas estratégias tem a valorização da leitura de fruição. Sabemos que a análise teórica costuma ser o foco das aulas de Literatura na escola. Contudo, se o jovem não conseguir estabelecer um vínculo pessoal com o texto, seja ele um dos livros do Harry Potter ou Sagarana, é improvável que aquela experiência seja significativa para ele,” explica Castro. “No Colégio Stockler, por exemplo, criamos o Clube do Livro para que alunos de todas as séries do Ensino Médio pudessem ler, juntos, títulos de sua escolha. Nosso objetivo é que a análise e a discussão fiquem por conta deles e não do professor.” 






FonteVicente Castro, doutor em Literatura pela USP, professor de Leitura Crítica do Colégio Stockler


A ilegalidade da educação domiciliar no Brasil


No último dia 12 de setembro, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que o ensino domiciliar não pode ser considerado um meio lícito que garanta o acesso à educação no Brasil. Na decisão, a maioria dos ministros consideraram que, para que a opção fosse válida, teria de estar prevista em lei.

Embora a decisão seja definitiva, a discussão sobre o tema trouxe algumas reflexões sobre essa forma de educar que extrapolam o aspecto legal. Um desses pontos está relacionado à socialização da criança. Críticos desse modelo educacional argumentaram que ela limita o convívio da criança com outros de sua idade ou até mesmo de faixas etárias diferentes. Seria a privação de um convívio social mais amplo e mais rico em experiências. Em poucas palavras, representaria o risco de criar a criança numa espécie de bolha.

Para os defensores do chamado “homeschooling”, porém, essa socialização poderia ser facilmente trabalhada em outros grupos de convivência, como em clubes e em outros momentos que não a educação formal.

O responsável pela educação foi outro item de reflexão. Afinal, nem sempre o pai, a mãe ou a pessoa que se prontifica em fazer essa educação domiciliar tem a preparação, o olhar acadêmico ou o conhecimento teórico e mesmo prático para enxergar as melhores perspectivas, a melhor forma de trabalhar com aquela criança ou aquele jovem, de modo a desenvolver todas as suas potencialidades. 

Por não ser profissional da área, em muitos casos, o responsável por essa educação simplesmente faz pela intuição, sem estudo, o que pode prejudicar o desenvolvimento do educando, limitando as experiências necessárias para seu enriquecimento e formação.

Nesse sentido, deve-se ainda destacar que, muito além dos aspectos legais, a nossa cultura é bem diferente da norte-americana, onde o “homeschooling” é amplamente difundido. Por lá, existe a cultura de criação do filho para mundo. Os jovens saem de casa para fazer faculdade e muitos já trabalham enquanto moram com os pais, passam grande parte dessa fase longe. Aqui, ainda temos o hábito de dar mais acolhimento, o jovem fica por mais tempo debaixo da asa dos pais, o que pode representar um ponto negativo para a educação domiciliar.

Há, contudo, quem use o mesmo quesito como favorável para a educação domiciliar, no sentido de que esse acolhimento justamente permitiria a personalização da educação, de acordo com as necessidades da criança e com os valores da própria família. Os responsáveis pelo educando também conseguiriam ficar muito mais atentos ao desenvolvimento das habilidades de suas crianças, em razão desse acompanhamento bem próximo, totalmente individualizado.

Nesse ponto, porém, também faz-se necessário destacar a realidade de grande parte das famílias brasileiras. Afinal, é preciso muito tempo e dedicação. Não adianta a família ser formada por pessoas que trabalham fora durante todo o dia para tentar dar conta do processo educacional durante a noite, naqueles poucos momentos com o filho. Se não houver a presença consciente da responsabilidade, o desenvolvimento educacional poderá ser prejudicado.

O conteúdo, por fim, é o último ponto de reflexão. No formato da educação brasileira, há exigência do desenvolvimento pedagógico de acordo com material e base curricular específicas para cada etapa escolar. Em casa, como aconteceria esse desenvolvimento? Seria preciso algum tipo de acompanhamento do desenvolvimento da criança, de modo que garantisse que ele acontecesse de forma semelhante ao que acontece na educação tradicional, dada em uma instituição de ensino.

Com tantos pontos de debate, vê-se a complexidade do assunto tratado pelo STF. Embora a falta de regulamentação de lei fosse um dos principais pontos para o não reconhecimento da educação domiciliar, o tema vai muito além.

Agora, após decisão do Supremo, a única educação legalmente reconhecida é a formal, dada dentro das instituições de ensino públicas e privadas do país. A elas cabe a missão de transmitir conteúdo pedagógico e social, que possibilite a cada criança, a cada jovem, formar-se cidadão atuante e consciente de seu papel social.

Claro, sempre contando com o total apoio e acompanhamento dos pais. Afinal, não há escola que garanta educação plena sem contar com a família como parceira permanente nesse processo.






Edson D’Addio - educador e diretor pedagógico do Colégio Palmares


Posts mais acessados