Estudo
populacional de vida real demostra que o risco de desenvolver câncer de colo do
útero reduziu 88% nas mulheres vacinadas antes dos 17 anos, em comparação às
não imunizadas1
A revista cientifica The
New England Journal of Medicine acaba de publicar um grande estudo
científico de base populacional que comprova a efetividade da vacina
quadrivalente contra o papilomavírus humano (HPVs 6, 11, 16 e 18) na prevenção
do câncer do colo de útero invasivo¹. A pesquisa inédita "HPV
Vaccination and the Risk of Invasive Cervical Cancer", foi conduzida
por epidemiologistas do Karolinska Institutet da Suécia e usou dados de
registro nacional, acompanhando 1,7 milhão de meninas e mulheres (população
total de 1.672.983) com idades entre 10 e 30 anos de 2006 - ano em que a vacina
contra o HPV foi aprovada naquele país - até 2017. Destas, 527.871 haviam
recebido pelo menos uma dose da vacina durante o estudo¹.
A pesquisa de larga escala
demonstrou que as mulheres imunizadas contra o HPV têm um risco
significativamente menor de desenvolver câncer de colo do útero, sendo aquelas
vacinadas durante a adolescência as mais beneficiadas. Houve uma redução de 88%
do risco de desenvolver câncer de colo do útero invasivo nas jovens imunizadas
antes dos 17 anos e de 53% naquelas imunizadas entre os 17 e os 30 anos de
idade, quando comparadas com as não vacinadas. O câncer cervical foi
diagnosticado em 19 mulheres vacinadas e em 538 mulheres não vacinadas durante
o período do estudo. Os pesquisadores explicam que mulheres que foram vacinadas
quando meninas provavelmente tiveram melhor proteção porque foram imunizadas
antes de serem expostas ao HPV através da atividade sexual¹.
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Os resultados estão
tendo grande repercussão e foram recebidos pela comunidade médica e científica
como um marco significativo na luta pela eliminação do câncer cervical. "O
estudo é significativo porque, embora pesquisas anteriores tenham mostrado repetidamente
que a vacina do HPV protege contra a infecção do papilomavírus humano, verrugas
genitais e lesões pré-cancerosas, ainda não havia comprovação em vida real de
que a vacina realmente previne o câncer cervical invasivo. Esta é a primeira
vez que foi demonstrado em nível populacional que a vacinação contra o HPV é
protetora não apenas contra as mudanças celulares que podem ser precursoras do
câncer de colo do útero, mas também contra o câncer", destaca a
pesquisadora do Departamento de Radiologia e Oncologia da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo,
Luísa Villa.
Com aproximadamente
570 mil casos novos por ano no mundo o câncer do colo do útero é o quarto tipo
de câncer mais comum entre as mulheres. Ele é responsável por 311 mil óbitos
por ano, sendo a quarta causa mais frequente de morte por câncer em mulheres1. No
Brasil, em 2020, são esperados 16.710 casos novos. É a terceira localização
primária de incidência e a quarta de mortalidade por câncer em mulheres no
país, com 6.526 óbitos registrados em 2018².
De acordo com estudo
POP-Brasil, projeto realizado pelo Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre
(RS), em parceria com o Ministério da Saúde, a infecção é muito comum em jovens
brasileiros. Sabe-se que, entre os jovens de 16 a 25 anos 53.6% estão
infectados por algum tipo de HPV, sendo que o HPV de alto risco para o
desenvolvimento de câncer presente em 35,2% dos participantes. A prevalência de
HPV geral na população feminina pesquisada foi de 54,6% e na masculina, de
51,8%³.
Quanto mais cedo,
maior a eficácia na prevenção do câncer
"A vacinação é
mais eficiente quando aplicada em meninas e meninos, antes da atividade
sexual", afirma Luísa Villa. Os estudiosos, completa, observaram uma
redução maior quando a vacinação ocorreu nas meninas a partir dos 10 anos de
idade, na comparação com a faixa etária entre 17 e 30 anos de idade.
"Apesar de existir benefício em diferentes faixas etárias, a efetividade é
indiscutível quando a vacinação é realizada em meninos e meninas mais
jovens", reflete acerca da publicação.
No Brasil, a vacina
contra o HPV é distribuída gratuitamente pelo SUS para meninas de 9 a 14 anos e
meninos de 11 a 14 anos. A vacinação gratuita no posto de saúde ainda está disponível
para pessoas que vivem com HIV e pacientes transplantados na faixa etária de 9
a 26 anos4.
Adultos que não foram
imunizados também podem decidir receber a vacina após conversar com seu médico
sobre o risco de novas infecções por HPV e os benefícios da vacinação5.
Estimativas apontam que a probabilidade de infecção em algum momento da vida é
de 91,3% para homens e 84,6% para mulheres. Mais de 80% das pessoas de ambos os
sexos contraem o vírus antes dos 45 anos6.
A pesquisadora Luísa
Villa ainda informa que também é importante fazer o rastreamento da população.
"É relevante considerar que as mulheres devem ser acompanhadas de maneira
preventiva, com exames como o Papanicolau e, mais recentemente, com os testes
de HPV para aquelas que, por ventura, sejam infectadas e/ou possam vir a
desenvolver lesões precursoras ou o próprio câncer recebam assistência
adequada", finaliza a especialista.
O que é o HPV
Sigla em inglês para
Papilomavírus Humano (Human Papiloma Virus - HPV). Os HPV são vírus capazes de
infectar a pele ou as mucosas. Existem mais de 150 tipos diferentes de HPV, dos
quais cerca de 40 podem infectar o trato genital. Destes, aos menos 12 são de
alto risco e podem provocar câncer (oncogênicos) e outros podem causar verrugas
genitais4.
O HPV também pode
causar o câncer cervical e outras lesões, incluindo as de vulva, vagina, pênis
ou ânus. Também pode causar câncer no fundo da garganta, incluindo a base da
língua e as amígdalas (chamadas de câncer de orofaringe). Não há como saber
quais pessoas com HPV desenvolverão câncer ou outros problemas de saúde, por
isso a importância de rastrear com exames médicos a população4.
Referências:
1-HPV Vaccination and the Risk of Invasive
Cervical Cancer. Jayao Lei et al. N Engl J Med 2020;383:1340-8. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1917338?query=featured_home
. Acesso em 06 OUT 2020.
2- Instituto Nacional
de Câncer. Controle do câncer do colo do útero. Conceito e Magnitude.
Disponível em: https://www.inca.gov.br/controle-do-cancer-do-colo-do-utero/conceito-e-magnitude.
Acesso em 08 OUT 2020
3- Wendland, E.M.,
Villa, L.L., Unger, E.R. et al. Prevalence of HPV infection among
sexually active adolescents and young adults in Brazil: The POP-Brazil Study. Sci
Rep 10, 4920 (2020). https://doi.org/10.1038/s41598-020-61582-2
4 -Ministério da Saúde.
HPV: o que é, causas, sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção. Disponível
em: https://saude.gov.br/saude-de-a-z/hpv. Acesso em 15 MAI
2020.
5- Centers for DiseaseControl and Prevention (CDC). Genital HPV
Infection: FactSheet. Disponível em: https://www.cdc.gov/std/hpv/stdfact-hpv.htm. Acesso em 15 MAI
2020.
6- Chesson et al. The Estimated Lifetime Probability of Acquiring Human
Papillomavirus in the United States, Sexually Transmitted Diseases: November
2014-Volume 41-Issue 11-p660-664. Disponível em: https://journals.lww.com/stdjournal/Fulltext/2014/11000/The_Estimated_Lifetime_Probability_of_Acquiring.4.aspx e acessado em 15 MAI
2020.