Pesquisar no Blog

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Mídias sociais podem influenciar comportamentos parentais a respeito das vacinas?



 Intervenções são necessárias para abordar a hesitação dos pais em relação às vacinas. Este estudo procurou determinar se uma intervenção, por meio da mídia social, aumenta a imunização na primeira infância



As mulheres grávidas que receberam informações sobre vacinas através de um site interativo monitorado por um especialista em vacinas eram mais propensas a vacinar seus filhos do que aquelas que não usavam o recurso da web, de acordo com um estudo publicado na revista Pediatrics.

Os achados da pesquisa se baseiam em um estudo anterior, também publicado no Pediatrics (2011), que descobriu que entre 10-15% dos pais optaram por atrasar ou recusar uma ou mais vacinas de seus filhos e em um estudo publicado no JAMA (2013) que encontrou um número crescente de pais que optaram por adiar ou não ministrar uma ou mais vacinas em seus filhos.

Este estudo examinou o impacto de uma intervenção baseada na web nas taxas de vacinação de 888 bebês no Colorado.

“Os resultados sugerem que os sites com componentes interativos têm o potencial de complementar as interações clínicas presenciais. É bem sabido que os pacientes usam a internet para obter informações sobre cuidados de saúde. Os médicos podem combater a desinformação dando aos pacientes acesso a sites que são clinicamente precisos, envolventes e oferecem maneiras de se comunicar com especialistas e outros pacientes sobre suas preocupações”, afirma o pediatra e homeopata Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).

De 2013 a 2016, os pesquisadores acompanharam 888 grávidas que participaram do estudo, criando um site que apresentava informações fáceis sobre os riscos e benefícios da vacinação, os horários recomendados, os componentes das vacinas e as leis sobre imunização.

Além da informação sobre vacinas, o site continha um blog, um fórum de discussão, uma sala de bate-papo e um chat ("Pergunte uma pergunta"), onde os pais poderiam trazer questionamentos aos especialistas sobre o tema.

Os participantes foram distribuídos aleatoriamente em três grupos de estudo:

·        Site com informações sobre vacinas e componentes interativos de mídia social (ou VSM); 

·        Site com informações sobre vacinas (ou VI); 

·        Cuidados habituais apenas (UC).

Os bebês das participantes do estudo foram acompanhados do nascimento até a idade de 200 dias para avaliar as taxas de imunização relativas às vacinas na primeira infância. Os bebês dos pais no grupo VSM tinham cerca de duas vezes mais probabilidades de estar atualizados em todas as vacinas recomendadas do que os bebês no grupo UC. O status atualizado não foi estatisticamente diferente entre os grupos VI e UC, ou entre os grupos VSM e VI.

De acordo com os pesquisadores, “os resultados do estudo também têm implicações sobre quando a informação sobre vacina é apresentada aos pais. Este tipo de informação geralmente é ofertada após o nascimento, durante os exames no recém-nascido. Como os pais geralmente começam a pesquisar sobre vacinas durante a gravidez, o estudo sugere que a informação parece ser mais efetiva quando apresentada antes do nascimento da  criança”, observa o pediatra.


Rejeição de vacinas e hesitação examinadas

O centro de um debate sobre saúde pública é se os pais devem ter seus filhos vacinados. Tara Smith, professora de epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade Estadual de Kent, desafia as declarações feitas por indivíduos influentes que se opõem ao uso generalizado de vacinas e pede aos colegas da comunidade científica que falem para promover a vacinação.

O artigo, publicado pelo Oxford Forum Open For Infectious Diseases, apresenta argumentos claros e cientificamente fundamentados para explicar por que as declarações anti-vacinação são imprecisas, enganosas e até mesmo falsas. Como especialista reconhecida em microbiologia das doenças infecciosas, sua preocupação é que o público pode se confundir sobre a segurança das vacinas e pode hesitar em imunizar a si próprio e seus filhos.

A recusa generalizada das vacinas pode levar a que mais pessoas sejam infectadas com doenças preveníveis por vacinas, como o sarampo, caxumba e gripe. “Embora existam poucas evidências de que a recusa é genuinamente crescente na população, vários estudos demonstraram declínio da confiança nas vacinas. Os profissionais médicos que administram e os cientistas que estudam e desenvolvem vacinas constatam o mesmo”, escrevem os pesquisadores.

“O artigo apresenta informações confiáveis ​​sobre a segurança das vacinas, enquanto desmascara mitos que estão sendo propagados, criando mal-entendidos entre o público em geral. O artigo também apresenta sugestões para que os profissionais de saúde e que estudam doenças infecciosas possam ativamente promover a vacinação para amigos, familiares e a comunidade”, destaca Chencinski.




Moises Chencinski

Site: http://www.drmoises.com.br

Email: fale_comigo@doutormoises.com.br

 

 

Um retrato do combate à corrupção no Brasil



Iniciativas que fomentam o compliance devem ser valorizadas porque servem de incentivo às empresas e trazem referências de como é trabalhado o combate à corrupção corporativa no Brasil, atualmente. Neste sentido, temos exemplos: o Empresa Pró-Ética, promovido pelo Ministério de Transparência e Controladoria-Geral da União, e o estudo "Transparência em relatórios corporativos", publicado pela Transparência Internacional (TI). Um destaque positivo e comum nestas duas iniciativas é o trabalho de promoção por medidas éticas, que é muito bem realizado por companhias do setor de energia, um contraponto saudável a outros segmentos que ainda demonstram pouca mobilização quando o assunto é mitigar ações antiéticas.

O estudo publicado pela Transparência Internacional no fim de janeiro traz conclusões e recomendações importantes às empresas que atuam no Brasil. Umas delas é o fortalecimento de Programas de Compliance com foco na prevenção e no combate à corrupção. Além disso, a análise sinaliza uma nova mentalidade no mercado, apontando uma progressão no que tange à aderência por questões de normativos, canal de denúncias e treinamentos. Constatação que, por sinal, está alinhada a pesquisas recentes sobre compliance divulgadas na imprensa. Tais levantamentos comprovam a maturidade destes programas através da presença destes elementos na maioria das empresas ouvidas para compor a pesquisa.

Por outro lado, vale ressaltar que o programa de compliance é composto por oito passos e todos eles precisam ser devidamente trabalhados nas empresas. O próprio estudo da TI traz um recorte em termos de exigência dos elementos para um programa de compliance efetivo. Por exemplo, na parte de mapeamento de riscos de compliance e gestão de riscos de terceiros com a utilização de ferramentas de due diligence, pesquisas recentes mostram que ainda há espaço para evolução.

Mesmo no caso dos códigos de ética e das políticas de compliance, há oportunidade de reforçar sua permeabilidade na cultura organizacional alinhado ao mote do levantamento da TI de que o compliance não pode ficar apenas no papel, sendo parte integrante do dia-a-dia das empresas. Um bom termômetro neste caso seria a utilização de uma auditoria de cultura de compliance, prática ainda incipiente no Brasil.

O que chama a atenção no estudo é que quase metade das empresas não demonstraram monitoramento do programa e apoio expresso da alta liderança. Isto permite concluir que não há uma visão estruturada e formal por parte das organizações para verificar se o programa de compliance funciona de fato. Além disto, é essencial incorporar elementos de gestão nos Programas de Compliance e também dar a devida relevância ao tema, colocando na ordem de pauta prioritárias de conselhos e diretorias, nas metas e nos exemplos diários da alta liderança.





Jefferson Kiyohara - líder da prática de riscos & compliance da Protiviti, consultoria global especializada em Gestão de Riscos, Auditoria Interna, Compliance, Gestão da Ética, Prevenção à Fraude e Gestão da Segurança.


Venezuelanos, lei migratória e hospitalidade



Desde que as condições de vida se deterioraram na Venezuela, muitos venezuelanos começaram a deixar o país. Pela proximidade geográfica e cultural, o Brasil tem sido o segundo maior destino de fuga dos venezuelanos, atrás apenas dos EUA. O governo federal tardou a responder a esse súbito aumento da demanda, considerando que a competência sobre o controle das fronteiras e gestão da política migratória é de âmbito federal. Ocorre que o Brasil ainda não possui política migratória. O que há é uma nova Lei de Migração (Lei 13.445/2017) que, após longa tramitação, criou um marco legal mais atual, baseado na proteção dos direitos humanos dos migrantes e, finalmente, livre do autoritarismo e burocracia da legislação anterior. A Lei foi regulamentada, no entanto, por um decreto repleto de falhas, que possui dispositivos, inclusive contrários à própria lei que visa regulamentar - como é o caso da prisão por razões migratórias, vedada expressamente pela Lei.

A questão é que a maioria dos venezuelanos que entram no Brasil por Roraima buscam trabalho imediato, justamente para encontrar uma forma de sustento. Mas como não podem trabalhar com visto de turista, a saída encontrada foi solicitar refúgio, como os haitianos, anos atrás. Assim, essas pessoas obtém um protocolo provisório, podendo expedir documentos e trabalhar legalmente no país, enquanto aguardam a decisão sobre o refúgio. Ocorre que dificilmente o CONARE – Comitê Nacional para Refugiados concederá refúgio para aqueles que saíram da Venezuela, sem serem perseguidos por algum dos motivos previstos em lei, mesmo o Brasil tendo adotado a definição ampliada que permite a concessão de refúgio devido a grave e generalizada violação dos direitos humanos. A solução encontrada pelo governo foi conceder residência temporária de até dois anos para esses migrantes, via resolução. Para ter direito à residência, os venezuelanos devem apresentar pedido de desistência da solicitação de refúgio. Porém, a solução mais adequada, hoje, seria o visto ou residência para fins de acolhida humanitária, previstos na nova Lei Migratória. No entanto, o decreto que regulamenta a Lei é lacônico quanto a esta modalidade, dependendo de ato conjunto dos Ministério da Justiça, Relações Exteriores e Trabalho.

Por fim, observa-se que o governo federal adotou algumas medidas para enfrentar a questão em Roraima, como apoio para assistência humanitária, aumento do patrulhamento nas fronteiras, e um projeto de “interiorização”, pelo qual os venezuelanos seriam encaminhados para outros Estados. Se a ideia for “despachar” as pessoas para outros lugares, sem infraestrutura adequada para recebê-los, e apoio para integração ao mercado de trabalho, a medida tem tudo para repetir o fiasco do caso dos haitianos enviados do Acre de ônibus para o centro de São Paulo. Além do visto de acolhida humanitária, a solução passa por uma vigorosa coordenação política entre autoridades municipais, estaduais e federais, com participação da sociedade civil e do setor privado, de modo a criar condições para a recepção digna dessas pessoas, honrando a trajetória que foi se construindo juridicamente nos últimos anos, de hospitalidade para com migrantes vítimas de conflitos armados, desastres naturais e outras calamidades.





Thiago Assunção - Mestre em Educação para a Paz pela Universidade de Roma, doutorando em Direito Internacional pela USP, e professor dos cursos de Direito e Relações Internacionais do Unicuritiba e da Universidade Positivo (UP).

Posts mais acessados