Psicólogo clínico e neurocientista, Julio Peres, lista os principais
fatores que impedem a superação de traumas psicológicos
Assaltos, sequestros, estupros, acidentes
naturais, enfermidades, conflitos interpessoais, desajustes familiares,
desamparo, confrontos armados, acidentes automobilísticos e perdas de entes
queridos são considerados, entre outros, eventos potencialmente traumáticos.
Estes assuntos serão tratados no curso“ Trauma Psicológico: Diagnóstico e
Tratamento”, realizado pelo Laboratório de Neurociências do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas em 23 de setembro.
Para se ter ideia da dimensão do problema no
Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam que a cada hora mais de cinco
pessoas são internadas por conta de transtornos mentais e comportamentais,
sendo a maioria de mulheres.
De janeiro a junho foram 24.148 casos - 15.986
mulheres e 8.162 homens.
“É um mal que atinge todos, independentemente da
faixa etária e da classe social. Infelizmente, de maneira distinta ao que
ocorre com a doença ‘física’, os transtornos psicológicos raramente são
debatidos com a população em geral”, afirma o psicólogo clínico e
neurocientista Julio Peres, que lista abaixo os principais fatores que impedem
a superação, os sete pecados capitais, do trauma psicológico:
1-Fugir das lembranças do acontecimento: é compreensível a dificuldade de expressar nossos
sentimentos. Ficar em silêncio não impedirá que lembranças e emoções dolorosas
se manifestem com toda sua potência. Também não permite o processamento do
trauma e sua superação;
2- Autovitimização: pensamentos e diálogos como “Não deveria
acontecer comigo” ou “Isto é uma injustiça comigo” e ainda “Por que eu?”. Esta
postura só intensifica e prolonga a dor, além de dificultar a recuperação;
3-Não ter confiança: o medo causado pelo trauma pode, muitas vezes,
gerar o sentimento de que o pior sempre está por vir, aumentando cada
vez mais a insegurança e a ansiedade. Pensamento que paralisa e prejudica
planos futuros. Quando se descobre a importância de seguir adiante, o trauma
perde a força;
4-Medo de que a dor nunca será superada: é fundamental acreditar que a dor será superada ou
ao menos amenizada. Os sinais psicológicos e psicopatológicos mudam ao longo do
tempo. Buscar ajuda profissional e buscar exemplos que sirvam de apoio é
fundamental;
5-Responder
ao trauma criando outro: é comum as pessoas buscarem válvulas de escape
negativas para fugir de uma situação traumatizante criando outra. Será criada
uma bola de neve de sentimentos ruins e não aplacará a dor psicológica;
6-Isolamento:
é
importante evitar o afastamento das pessoas. Busque os amigos certos e
converse com eles, de forma adequada sobre sua dor, sempre evitando a
vitimização. Também procure atividades que lhe dão prazer, caminhadas, leitura
etc;
7-Não criar
novos objetivos: criar e/ou participar de novos projetos pode ajudar
na superação dando uma nova motivação para o dia a dia. A prostração pode levar
à depressão.
Julio Peres - Psicólogo clínico com 27 anos de experiência
clínica, neurocientista há 15 anos. Como clínico e pesquisador, unificou os
campos da Psicologia e Neurociências e aprofundou seu interesse nos efeitos
neurobiológicos da psicoterapia. Conduziu estudos com neuroimagem funcional
sobre o tema em seu doutorado e um dos pós-doutorados, revelando as repercussões
cerebrais da superação mediada pela psicoterapia. É doutor em Neurociências e Comportamento pelo
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Tem pós-doutorado
pela University of Pennsylvania e pela Escola Paulista
de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em Diagnóstico por
Imagem. É autor do livro “Trauma e Superação: o que a Psicologia, a
Neurociência e a Espiritualidade ensinam” da editora ROCA. Possui
artigos científicos publicados sobre trauma e superação, neurociências, neuroimagem,
psicoterapia, resiliência, espiritualidade, entre outros temas. Também é
pesquisador do PROSER, Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo.
Editor da seção Psicologia e Psicoterapia do periódico científico Archives of Clinical Psychiatry.