Débora Toledo,
advogada tributarista, acredita que sim e explica os motivos
Como alternativa à crise financeira e política que
se instalou no Brasil devido ao novo coronavírus, uma das alternativas que se
tornaram mais viáveis para os investidores que buscam diversificar e ampliar
seus rendimentos é sim o investimento no exterior. Engana-se quem pensa que a
prática é apenas para ricos. Com a democratização do mercado financeiro através
das corretoras, é tão simples quanto investir nacionalmente. E ao contrário de
outros investimentos, o investimento feito no exterior costuma valer a pena
para todos. Principalmente por causa do histórico de apreciação do dólar em
relação ao real. Assim, os investidores conseguem se proteger de eventuais
depreciações e crises da nossa moeda.
Débora Toledo, advogada tributarista e assessora de
investimentos da Cordier Investimentos/ BTG Pactual. Ela fez curso de
Gestão de Empresas Familiares na Fundação Getúlio Vargas (FGV), mesma
instituição onde completou o MBA em Mercados Capitais, na entrevista abaixo
fala sobre os prós de investimentos externos.
Quais são as formas possíveis
de se investir fora?
Assim como no Brasil, no exterior também há
diversos tipos de investimentos. Alguns dos mais comuns são:
- Imóveis: precisa levar em consideração a legislação do local quanto às regras de compra e venda, tributação, impostos, etc. Lembrando que compra e venda de imóvel no exterior também exige o pagamento de imposto de renda aqui no Brasil.
- Investimento via Exchange Traded Fund (ETF): o fundo de investimento negociado na Bolsa de Valores como se fosse uma ação pode ser um bom início para quem está começando a investir fora.
- Ações: é possível comprar ações nas bolsas de valores de diversos países como qualquer outro investidor. Basta ficar atento às regras de cada lugar em relação aos investimentos, taxas e tributação.
- Certificado de Operações Estruturadas (COE): tipo de investimento que combina renda fixa e renda variável.
As possíveis formas:
- Renda Fixa
- Renda Variável
- Ações
- BDR/ADR
- Reits
- ETF
- Imóveis
- Fundos de investimentos
- Offshore
- Abrindo conta em corretoras no exterior
Entre elas, qual a melhor para
quem está fazendo isso pela primeira vez e desconhece esse universo? Por quê?
Para quem ainda não investe fora, é importante
conversar com especialistas nas áreas de finanças - credenciados pela CVM, ou
professores e economistas que podem dar dicas e explicar tudo como funciona, de
acordo com o perfil da pessoa.
A melhor maneira para investir, para quem
desconhece o assunto, é através dos assessores de investimentos. Um assessor
nada mais é do que o profissional responsável por auxiliar investidores e
potenciais investidores a tomarem suas decisões. Para quem já está mais
avançado, pode começar através de ETF´S e fundos de investimentos.
Por que é vantajoso investir
no exterior neste momento?
Primeiramente, devemos começar pelo princípio
básico dos investimentos: diversificação. Os mercados internacionais foram
duramente afetados pelo coronavírus, mas o Brasil foi um dos mais atingidos.
Muita gente perdeu dinheiro nos Fundos Multimercados, nas Ações e até nos
títulos do tesouro de longo prazo. Vale destacar que aqui ainda enfrentamos uma
crise de commodities e a crise política.
A questão é que se todos os recursos estiverem
atrelados a ativos brasileiros, não há diversificação. Sejam eles de renda fixa
ou variável, eles deviam estar expostos a outros mercados. Ter fundos
imobiliários, fundos de ações, tesouro direto e ações, todos aqui, nada mais é
do que colocar ovos diferentes na mesma cesta.
Isso sem falar na diversidade de ativos que podemos
encontrar fora. A lista de ativos americanos, por exemplo, vai de lojas de
video game a grandes empresas de petróleo. São milhares de empresas e/ou ETF’s
dos mais diversos e variados segmentos que te permitem investir até em coisas
que você entende mais do que as tradicionais Petrobras e Vale. E isso vale para
renda fixa também. Ao todo, estamos falando de mais de 6000 ativos.
Para quem já tem investimento
fora, o que é preciso avaliar no cenário internacional para saber se é hora de
voltar com os investimentos para o Brasil?
Independentemente do cenário econômico mundial, é
um fato que comparativamente a outros mercados, somos considerados “lixo” para
muitos investidores. Pode parecer agressivo, mas essa é a tradução dada aos
títulos de dívida de países considerados de alto risco perante os agentes
internacionais – junk bonds – e o Brasil é um deles. Temos o mesmo grau de
investimento que o Vietnã, Macedônia e o Paraguai.
Infelizmente, a instabilidade e incerteza política
e econômica fazem parte do nosso dia dia. Então uma verdade no mercado
financeiro é que o Brasil é considerado um local arriscado a investimentos,
independentemente do cenário internacional.
É necessário ter conta no
exterior para poder investir fora?
Não necessariamente. Muitas pessoas investem
abrindo conta em uma corretora de valores no exterior. Isso porque,
diferentemente do Brasil, as bolsas americanas possuem empresas do mundo
inteiro sendo negociadas. Além de criar uma conta em uma corretora no exterior,
existem outras formas de ter investimentos internacionais. Entre elas:
1. Fundos de Investimentos no Exterior
Investir em Fundos de Investimentos no Exterior, ou
seja, em fundos que possuem em sua carteira ativos de fora do país. Essa
alternativa evita obrigações com o Banco Central ou Imposto de Renda.
2- ETF´S
Os Exchange Traded Funds são produtos negociados na
bolsa que reúnem um conjunto de ações em um mesmo ativo. Com eles, é possível
comprar cotas de fundos como se fossem ações.
Nesse caso, o investidor compra cotas dos ETFs,
sendo que esses são administrados de forma passiva por uma gestora, que segue
uma metodologia de investimentos. Em outras palavras, os ETFs possuem uma
gestão passiva, seguindo a distribuição de carteira de um respectivo índice.
- BDRs (Brazilian Depositary Receipts)
Por último, outra forma de investir no exterior é
por meio dos BDRs. Esses ativos são como ações de empresas americanas, porém
negociadas na bolsa brasileira, a B3.
Diferentemente das ações de empresas negociadas nos
Estados Unidos, os BDRs negociados na bolsa brasileira possuem a cotação em
reais. Então, a variação de preço desses ativos depende da oscilação de preço
da empresa na bolsa americana e também da cotação do dólar.
É necessário ter investimento
interno para poder fazer o externo?
Não, mas é preciso ter uma conta no Brasil. A
primeira maneira de enviar dinheiro para o exterior é por meio da plataforma de
envio de dinheiro do Brasil oferecido pelo próprio banco/ corretora.
Nesse caso, a corretora terá um serviço de envio de
dinheiro, que normalmente é bastante simples. O investidor normalmente deve
fazer uma TED do valor em reais para uma conta no Brasil. Depois, a corretora
faz a conversão do dinheiro e credita o valor em dólar na conta do investidor.
O tempo de resgate é maior
quando o dinheiro está investido fora?
Não. Isso segue a mesma lógica dos investimentos no
Brasil: vai depender da aplicação.
Como é a burocracia para fazer
essa transação?
Depende do ativo que irá investir. Mas, no geral, é
bem parecido a investir no Brasil e mais simples e barato do que era
antigamente.
Quais são as regras de tributação?
Para essa pergunta, não há resposta exata. Cada
país tem uma legislação diferente em relação à tributação e à sucessão de bens.
Por isso, sempre que for investir em algum país, é preciso pesquisar antes as
regras de tributação.
Em alguns lugares, pode ser que o investidor tenha
que pagar tributos em cima dos investimentos. Isso sem contar os tributos que
deverão ser pagos aqui, que geralmente envolvem o Imposto de Renda e outras
possíveis taxas que podem aparecer, conforme o caso.
Se for vender ativos em algum país, deverá declarar
isso no país de origem e no Brasil. Há países que têm acordos com o governo
brasileiro para facilitar essa questão e evitar que a pessoa seja tributada
duas vezes (uma no Brasil e outra no país de origem dos ativos).
Como fica a situação em caso de herança e
sucessões?
As questões de sucessão e herança são mais
complexas. Cada país tem sua própria legislação referente ao tema. De maneira
geral, o país onde os bens se encontram é o responsável por julgar as questões
referentes à sucessão.
Se investir em ativos e comprar imóveis, por
exemplo, em algum país estrangeiro, precisará observar as regras daquela nação.
Logo, as chances da sucessão ocorrer com as regras de lá são grandes.
Outros países utilizam regras diferentes,
declarando que as regras do país do domicílio do investidor é que são as
válidas. Há lugares que declaram que é a nacionalidade do indivíduo que define
o país competente para julgar o caso.
O Brasil, por exemplo, reconhece sua incompetência
para julgar fatos em relação a imóveis e bens no estrangeiro. Como existem
muitas particularidades nesse contexto, o ideal é que o investidor busque se
informar antecipadamente com um especialista nas regras de sucessão e direito
internacional.
As taxas fora são equivalentes
às daqui?
Tudo vai depender do tipo de investimentos. Em
geral, são as mesmas taxas. Os imóveis é que são bem mais caros.
Como abrir uma conta no
exterior?
Depois de ter conversado com especialistas, o
segundo passo é abrir uma conta no exterior, dependendo da opção desejada. É
fundamental escolher uma instituição financeira confiável. Depois, é preciso
pesquisar a situação do lugar, riscos políticos, tributação, qualidade dos investimentos
e liquidez, entre outros. Uma pesquisa completa sobre o país, o mercado
financeiro e as regras de investimento é de extrema importância neste momento.
Além de ver todos esses detalhes, é preciso
conferir se a instituição escolhida está em harmonia com os objetivos do
investidor e, principalmente, com o perfil do mesmo. Por isso, a necessidade de
procurar informações referentes às opções de investimentos disponíveis e os
custos de manutenção da conta bancária e outras possíveis taxas.
Cabe mencionar também que algumas instituições
brasileiras permitem fazer investimentos no exterior sem precisar abrir uma nova
conta. Se já investe por meio de alguma delas, basta se informar para saber se
há essa possibilidade.