O
transporte rodoviário é o verdadeiro eixo da economia brasileira. Grande parte
das mercadorias do país circulam pelas estradas, tornando o Brasil altamente
dependente de uma malha viária que, muitas vezes, enfrenta problemas
estruturais graves. Essa realidade contribui diretamente para um problema que
se transformou em uma espécie de “custo extra” para empresas e consumidores: o roubo
de cargas. Em 2024, o prejuízo causado por criminosos especializados atingiu
R$1,2 bilhão, segundo levantamento da ICTS Security, empresa de consultoria e
gestão de segurança.
O
Brasil é o segundo país do mundo em número de ocorrências desse tipo de crime,
ficando atrás apenas do México, conforme dados da Associação Nacional do
Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística). O Sistema Nacional de
Informações de Segurança Pública (Sinesp) registrou 3.749 roubos de cargas nos
primeiros seis meses do ano passado, uma média de 27 incidentes por dia. Não é
por acaso que a região Sudeste concentra a maior parte das perdas financeiras,
com 83,6% do total, sendo São Paulo responsável por quase metade (47,2%).
Mas
por que tantos roubos de carga acontecem no Brasil?
O país
é continental, e cerca de 90% da produção depende das rodovias, muitas em
condições precárias. Isso facilita a ação de quadrilhas especializadas, que
aproveitam pontos remotos, vias deterioradas e falhas na comunicação para
executar os crimes.
Adicionalmente,
a facilidade de escoamento da mercadoria roubada - seja para o mercado interno,
através de revendas clandestinas, ou para países vizinhos com fronteiras pouco
monitoradas -, transforma a carga em alvo ainda mais atrativo. Produtos de alto
valor, como eletroeletrônicos, pneus e cigarros, estão entre os mais visados,
assim como veículos de transporte de valores.
O
impacto financeiro vai além da perda direta das mercadorias. O alto risco eleva
significativamente o custo dos seguros, que acaba sendo repassado ao consumidor
final, fenômeno conhecido como “Custo Brasil”. Além disso, empresas de
transporte precisam implementar sistemas complexos de segurança, incluindo
rastreadores, bloqueadores, sensores de porta e monitoramento por telemetria, o
que, embora reduza riscos, representa mais um investimento.
Apesar
desse cenário, há sinais de evolução. O Mapa da Segurança Pública de 2025
mostra que todas as regiões do país reduziram os casos de roubo de cargas entre
2023 e 2024. O Sul lidera a queda, com 63,89%, seguido pelo Centro-Oeste
(41,79%), Norte (22,22%) e Nordeste (11,79%). Essa tendência indica que, mesmo
em um ambiente desafiador, políticas de prevenção e tecnologia podem fazer a
diferença.
Se a
estrada é vulnerável, a tecnologia é nossa defesa
Nesse
contexto, a lei da rastreabilidade, atualmente em tramitação no Congresso,
surge como uma iniciativa estratégica para enfrentar o problema. A proposta
inclui a criação de um código unificado de rastreio que facilite a
identificação de produtos roubados. Especialistas em logística também apontam
que o texto ainda precisa contemplar produtos agrícolas, que também representam
uma parcela significativa da economia.
A
tecnologia, portanto, continua sendo nossa principal aliada. Câmeras
veiculares, sistemas de telemetria, sensores inteligentes e monitoramento
remoto não apenas mitigam perdas, mas também fornecem dados fundamentais para
prevenir crimes e apoiar a atuação das autoridades.
O
investimento em tecnologia, aliado a políticas públicas eficazes e uma malha
rodoviária mais segura, é essencial para reduzir o impacto do roubo de cargas e
garantir um transporte mais eficiente e confiável.
O
roubo de cargas não é apenas um problema logístico; é um desafio de
segurança pública, econômico e social. Para enfrentá-lo de forma efetiva, é
preciso combinar prevenção, tecnologia e legislação adequada, construindo um
sistema integrado que proteja empresas, trabalhadores e consumidores.
A
segurança no transporte de mercadorias é, hoje, mais do que uma questão de
proteção: é um pilar para o desenvolvimento econômico do país.
Gaudêncio Lucena - presidente da CORPVS, uma das maiores
empresas de segurança privada do Brasil
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