Fonoaudióloga corporativa Juliana Algodoal explica como líderes podem transformar uma conversa difícil em ferramenta de crescimento
Dar feedback é uma das responsabilidades mais delicadas e, ao
mesmo tempo, mais estratégicas de qualquer liderança. A forma como a mensagem é
transmitida pode fortalecer a confiança e impulsionar o desenvolvimento ou
gerar desengajamento e insegurança. “O que diferencia o feedback que constrói
daquele que destrói é a intenção, a preparação e, sobretudo, a linguagem”,
afirma a fonoaudióloga Juliana Algodoal, PhD em Análise do Discurso e
referência nacional em comunicação corporativa.
Segundo ela, o problema é que, em muitas empresas, o feedback
ainda é encarado como um momento de correção. “Quando o líder chega para
apontar falhas, sem clareza e sem empatia, o colaborador se sente punido e não
estimulado a evoluir. O feedback, na verdade, deveria ser um convite à reflexão
e ao crescimento”, explica Juliana. Ela alerta que há erros recorrentes que fazem o
feedback perder o propósito. Entre os principais:
- Foco na pessoa, não no comportamento: frases como “você é
desorganizado” soam como ataques pessoais. O ideal é descrever comportamentos
observáveis e seus impactos, como: ‘notei que o relatório das últimas semanas
atrasou, o que impactou o time de planejamento. Como podemos ajustar o
processo?’”;
- Falta de preparo: chegar sem exemplos concretos ou dar o retorno
no calor do momento gera ruído e defensiva;
- Tom de julgamento ou comparação: comparar com outros colegas ou
usar um tom de voz agressivo desmotiva e cria competição desnecessária;
- Falta de escuta: quando o líder fala o tempo todo, sem abrir espaço para o outro se expressar, o feedback deixa de ser diálogo e vira sentença.
“Esses erros transformam o feedback em um evento de medo. E o medo
paralisa. O resultado é o contrário do que se espera: menos inovação, menos
engajamento e mais silêncio nas equipes”, ressalta a especialista.
Já um bom feedback, segundo Juliana, começa muito antes da
conversa. Ela recomenda 5 passos que ajudam líderes a tornar o processo
construtivo:
- Prepare-se: defina o objetivo, colete fatos concretos e escolha
um local adequado;
- Comece ouvindo: pergunte a visão do colaborador sobre o tema
antes de expor a sua;
- Foque no comportamento e no impacto: descreva fatos, não rótulos
e suposições;
- Use linguagem de parceria: substitua o “você precisa mudar” por
“como podemos ajustar isso juntos?”;
- Encaminhe para o futuro: finalize com um plano de ação e uma
data para acompanhamento.
Juliana costuma ilustrar em treinamentos um exemplo simples, como
quando um gestor chama um analista para conversar sobre atrasos em relatórios. O feedback
destrutivo seria: “Você sempre atrasa tudo. Assim não dá para
confiar.” Como resultado o colaborador sai inseguro, sem saber o que corrigir. Já um
feedback construtivo poderia ser realizado assim: “notei que
nas últimas três semanas os relatórios vieram após o prazo. Queria entender o
que aconteceu e como podemos ajustar o processo. O que acha de fazermos
checkpoints semanais para acompanhar juntos?”. Dessa forma o colaborador se
sente parte da solução e assume compromisso com a melhoria.
“Na prática, o conteúdo é parecido, mas a forma muda tudo. A diferença
está na linguagem e no quanto o líder demonstra genuíno interesse em ajudar a
pessoa a crescer. O líder não deve sair do feedback sem que
ambos saibam qual é o próximo passo. E o colaborador precisa sair da conversa
entendendo que foi ouvido e que há um caminho para evoluir”, explica Juliana.
Juliana Algodoal - Considerada uma das maiores especialistas
em Comunicação Corporativa do país, Juliana Algodoal é PhD em Análise do
Discurso em Situação de Trabalho – Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem
e fonoaudióloga pela PUC/SP e fundadora da empresa Linguagem Direta*. Acumula
mais de 35 anos de experiência no desenvolvimento de projetos que buscam
aprimorar a interlocução no ambiente empresarial - tendo como clientes grandes
companhias, como BASF, Porto Seguro, Novartis, Pfizer, Aché, Itaú, Citibank,
Unimed Nacional, Samsung, dentre outras. É coautora do livro Thought
Leadership: muito além da influência e presidente do conselho de administração
da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia.
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