A transição energética global é inevitável. Mas, a
pergunta que fica é: quem irá ditar o ritmo e a direção dessa mudança? O Brasil
é uma das nações com maior potencial para liderar essa inovação, com uma das
maiores e mais diversificadas matrizes energéticas do planeta capazes de guiar
na busca por fontes renováveis e ecologicamente benéficas. Uma expectativa,
realmente, promissora, porém que dependerá de uma forte governança por trás
para que essas ideias se transformem em geração de valor à sociedade.
Diante de um território tão vasto e rico em
energias renováveis, muito tem sido direcionado em pesquisas inovadoras neste
campo que consigam encontrar soluções cada vez melhores para esse fim. Em 2023,
como exemplo, os investimentos públicos orientados em PD&I no setor de
energia no Brasil somaram R$ 5,5 bilhões, segundo dados da Empresa de Pesquisa
Energética (EPE), um crescimento de 36% em relação a 2022.
A maior parte desses recursos vem de programas
regulados, como os da ANEEL e da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural
e Biocombustíveis). Todavia, se há tanto investimento assim, por que ainda não
temos resultados significativos? Principalmente, pela falta de estratégia e
governança ao levar essa teoria à prática, prejudicados, ainda mais, pelo
enorme gap entre as descobertas feitas nas universidades nacionais e o
conhecimento dessas pelo mercado.
Os riscos dessa falta de orientação são visíveis
quanto à falta de aproveitamento de fontes que poderiam ser completamente
benéficas. Um dos exemplos mais nítidos engloba a energia nuclear, capaz de
prover energia elétrica de forma confiável, ininterrupta e com baixas emissões
associadas, ainda mais com o apoio da IA. Porém, ainda há um enorme medo
rotulado a este termo após os famosos acidentes de Chernobyl e Fukushima.
Outra fonte também má explorada é a eólica. Em
2024, dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) mostraram
que o número de instalações de novas usinas no país caiu mais de 30% em relação
à quantidade registrada em 2023. Por mais que seja uma fonte constante em
termos de geração, ainda há formas positivas de utilizá-la. A Alemanha, como exemplo,
direciona essa matriz à sua rede hidroelétrica, em um sistema que funciona como
"bateria de água", usando a energia excedente das turbinas para
bombear água para um reservatório elevado ou estrutura apropriada, para depois
liberar quando houver queda de geração eólica – impulsionando, assim, a
eficiência.
Esses são apenas alguns exemplos do que poderíamos
dedicar esforços por aqui. Mas, o que acabamos vendo, ao invés, é uma
insistência em estratégias que não tendem a ser completamente benéficas. Perfurações
anunciadas, recentemente, na Margem Equatorial, devido ao potencial petrolífero
da região, vêm gerando debates intensos e resistência quanto à limitação deste
recurso em nosso meio ambiente, além de argumentos que destacaram que os
recursos obtidos com a exploração do petróleo poderiam financiar a transição
energética do país para fontes mais limpas.
Há várias formas de olharmos para nossa matriz
energética e buscarmos por novas maneiras inovadoras e sustentáveis que
preservem nosso ecossistema e, ao mesmo tempo, garantam o fornecimento elétrico
à sociedade. O que falta para colocar isso em prática é, justamente, a
governança, nos inspirando em tudo que é feito internacionalmente nesse sentido
e adaptando essas boas ideias à nossa realidade.
A própria Aneel disponibiliza uma cartilha
orientativa sobre a regulamentação e usos da energia elétrica nacionalmente, o
que poderia ser muito bem aproveitado pelas empresas caso quebrassem esse ciclo
de insistência em fontes não renováveis, para outras mais limpas e benéficas ao
setor elétrico. Falta critérios nas decisões tomadas, assim como um olhar
crítico que traga mais inteligência ao determinar quais caminhos seguir.
Uma governança estratégica orienta das empresas a
estudarem este mercado, e como investir nas fontes renováveis que sejam, de
fato, benéficas para cada necessidade, conduzindo este processo com máxima
inteligência e cuidado para que obtenham resultados eficazes sem danos
ambientais. Ela quebra paradigmas, analisando o que já deu errado, quais planos
podem trazer os objetivos desejados, e como preparar o negócio para trilhar
essa trajetória com segurança, mitigando possíveis riscos que possam impactar
as operações.
Precisamos olhar este tema sob uma perspectiva diferente,
pensando não apenas nos resultados capazes de serem conquistados agora, mas
levando em consideração onde desejam chegar à longo prazo, conscientizando os
times sobre essa importância. Afinal, o próprio Albert Einstein já dizia: “A
insanidade é continuar fazendo a mesma coisa esperando resultados diferentes”.
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