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| IMAGEM: Paulo Pinto/AE |
Sobretaxa de 50% pode reduzir exportações para os Estados Unidos, diminuindo o fluxo de navios com destino aos portos brasileiros, tendo como efeitos o aumento do volume de contêineres parados nas áreas de armazenagem e a ociosidade das frotas rodoviárias e ferroviárias
Os empresários brasileiros
vivem dias de incertezas causados pela iminência da tarifa extra de 50% sobre
as vendas aos Estados Unidos prometida por Donald Trump para 1º de agosto. No
setor de logística, a Aprile Brasil, filial da multinacional Aprile SPA, diz que
todos os seus clientes brasileiros frearam os envios ao mercado norte-americano
desde o anúncio do presidente norte-americano, em 9 de julho.
“Trabalhamos com mais de 60
exportadores e todos seguraram suas exportações.
Estamos com muito menos volume que o normal”, disse Federico Battaglia, General
Manager da Aprile Brasil. Responsável pela intermediação entre as empresas
exportadoras e os armadores - incumbidos do transporte marítimo das cargas -, a
operadora logística envia anualmente cerca de 4 mil contêineres do Brasil para
os Estados Unidos.
Apesar da empresa possuir
outras frentes, a relação comercial com os norte-americanos representa cerca de
10% das cargas operadas pela Aprile Brasil. “Esse anúncio das tarifas traz
indecisão para o nosso negócio porque vemos o exportador cancelando o booking (reserva
nos navios). Isso não significa que eles não vão mais fazer negócios, mas estão
analisando se a taxa vai seguir efetivamente”, diz Battaglia.
Ele diz ainda que a sobretaxa
americana pode comprometer todo o desenho logístico atual. “Os armadores escolhem
as rotas, tarifas e quantidade de navios que enviam ao porto com base na
quantidade de mercadorias carregadas para exportação e importação, porque, para
eles, precisa ser economicamente rentável tanto a ida como a volta”, diz
Battaglia.
Em um cenário mais grave, os
armadores podem diminuir as escalas nos portos brasileiros, acompanhando a
redução das cargas de exportação, explica Battaglia, o que interfere
diretamente na eficiência logística e pode implicar em aumento dos custos para
o envio das mercadorias, afirma.
“Imagine uma situação em que um
armador decide escalar um navio para um porto uma vez por mês, mas esse navio
já está cheio. O próximo disponível só atracaria em 45 dias, mais 20 dias de
trânsito. Nessa situação, o cliente vai receber o produto em dois meses e meio,
quando poderia receber em 30 dias”, diz o representante da Aprile Brasil.
Com essa ineficiência
logística, muitos exportadores brasileiros correm o risco de perder seus
parceiros comerciais, ou ter de fazer uma programação assertiva e antecipada.
“Os exportadores e importadores de ambos os países saem prejudicados.”
O cenário não é descartado pela
coordenadora do Conselho de Comércio Exterior da Associação Comercial de São
Paulo (ACSP), Rita Campagnoli, que tem
lidado com armadores preocupados com a situação. “O tarifaço ameaça toda a
cadeia logística, o que afeta o preço do frete e dos portos", diz.
Mudanças nas rotas marítimas
podem ser uma das soluções adotadas pelos armadores para não serem afetados
pela redução da demanda para exportação. No entanto, essa ação teria impacto
direto nos exportadores, que contariam com uma menor quantidade de navios para
os Estados Unidos, o que poderia até mesmo sobrecarregar os portos.
“Imagine que antes a rota de um
navio era passar pela China, França, México e Brasil e acontece essa troca de
rota e ele deixa de parar no Porto de Santos ou no de Paranaguá, ou até mesmo
não vem mais para o Brasil. Com essa mudança, as mercadorias acabam acumuladas
no porto, reduzindo as áreas para armazenagem de contêineres.”
Outro cenário que pode
sobrecarregar os portos, como consequência da sobretaxa de Trump, envolve a
busca por novos mercados. “Se antes do tarifaço, em um porto existia uma
quantidade de carga para a Europa e outra para os Estados Unidos, com o
tarifaço, as cargas que iriam para os Estados Unidos podem ser redirecionadas
para a Europa. Isso gera uma sobrecarga para essa cadeia”, explica Rita, que
menciona que os portos precisam se readequar pensando nesse novo cenário. “O
próprio porto precisa se reconfigurar já que pode haver mudanças na programação
dos navios, acordos logísticos, e isso gera custo de transição”, diz.
Além de afetar o trânsito de
exportação e importação, a tarifa pode ter impacto até mesmo na logística
interna brasileira, segundo a especialista, uma vez que, com menos demanda nos
portos, pode haver ociosidade nas frotas rodoviárias e ferroviárias. “Outra
questão que tem sido pouco discutida é o impacto na mão de obra dentro dos
terminais portuários”, diz Rita, que vê a possibilidade de redução no quadro de
funcionários.
Rebeca Ribeiro
https://www.dcomercio.com.br/publicacao/s/tarifaco-pode-desconfigurar-cadeia-logistica-brasileira

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