Adeildo Nascimento, CEO da DHEO Consultoria,
adverte que a busca por uma cultura forte pode criar ambientes de exclusão e
culto à personalidade
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A cultura organizacional tornou-se um dos ativos mais valorizados pelas empresas nas últimas décadas. No entanto, o que deveria ser um instrumento de alinhamento e engajamento pode rapidamente se transformar em algo tóxico e excludente. É o que alerta Adeildo Nascimento, CEO da DHEO Consultoria e especialista em cultura organizacional.
“Toda empresa quer uma cultura forte. Mas e quando ela começa a
exigir fé cega?”, questiona. O alerta ganhou força após denúncias sobre
práticas de uma grande franqueadora brasileira, acusada de confundir cultura
empresarial com devoção ao líder. “Quando o líder é elevado a uma figura quase
sagrada, o questionamento é visto como traição. A cultura perde sua função
integradora e se transforma em doutrinação”, explica Adeildo.
Sinais de alerta
Para o especialista, há sinais claros de que uma cultura pode estar saindo do eixo: o culto à personalidade, rituais vazios e a tentativa de homogeneizar comportamentos. “Narrativas heroicas sobre o fundador, cerimônias sem conexão prática e um discurso que suprime a diversidade de pensamento são alertas importantes”, destaca.
Um fenômeno que contribuiu para essa distorção foi a popularização das chamadas tribos corporativas, grupos com identidade própria dentro das empresas, como os “Googlers” no Google ou os “Think Differents” na Apple. Outros exemplos de tribos corporativas incluem os “Nooglers” (novos contratados do Google), os “Zapposians” (da varejista Zappos, conhecida pela cultura interna) ou os “Ninjas” e “Evangelists” de startups, termos criados para reforçar a cultura.
“Essa segmentação funcionava como ferramenta de engajamento,
especialmente entre jovens em busca de propósito. Mas, em algumas organizações,
virou um sistema de adesão forçada, em que quem não se encaixa é isolado”,
aponta. “O problema não está na nomenclatura em si, mas no que ela passa a
representar. Quando a identidade coletiva sufoca o espaço individual, o risco é
de alienação”, completa.
Como evitar que a cultura vire uma
seita
Para evitar que a cultura corporativa se transforme numa
caricatura de seita, Adeildo Nascimento defende quatro pilares essenciais. O
primeiro é o propósito compartilhado, que precisa ser construído de forma
coletiva, com a adesão genuína das equipes, e não apenas comunicado de forma
impositiva pela liderança. Outro ponto crucial é avaliar o fit cultural já no
momento do recrutamento, em vez de tentar moldar os profissionais depois que já
estão inseridos no ambiente.
A diversidade também é uma condição indispensável. Os rituais corporativos, por sua vez, devem fazer sentido para a realidade da equipe, com valor prático e simbólico, não podem assumir uma carga mística que afaste as pessoas da concretude do trabalho.
Ele reforça ainda a importância dos canais de escuta ativa. “Toda cultura forte precisa ouvir de baixo para cima. Quando não há espaço para o contraditório, o engajamento se torna fachada”, alerta.
Adeildo finaliza com um alerta direto: “Uma cultura organizacional sólida não apaga a individualidade. Ela potencializa o melhor de cada um. Se a cultura exige lealdade incondicional, estamos diante de um culto, não de uma empresa. E o risco é alto: da alienação ao cancelamento institucional”.
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