Vivemos em uma sociedade marcada pela cultura da
pressa, em que tudo precisa ter forma, função e resultado imediato. E esse
ritmo acelerado invade, também, a infância.
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As crianças aprendem aquilo que presenciam e
vivenciam. Muitas vezes, a forma como nos comunicamos com elas gera estresse e
a sensação de tempo acelerado. Exemplo disso é que, no momento da saída para a
escola, os pais já alertam: “Só temos cinco minutos! Vamos nos atrasar, todo
dia é essa dificuldade!”.
A fala indica impaciência em torno de uma rotina
atribulada e deixa a situação ainda mais difícil. Portanto, o melhor seria
estabelecer uma comunicação mais empática: “Crianças, ainda temos cinco
minutos, vocês precisam de ajuda?”. São os mesmos cinco minutos, porém,
alertados com leveza e respeito.
Espera-se que os pequenos aprendam o quanto antes,
tenham maior agilidade e rendam mais. O brincar espontâneo é substituído por
atividades estruturadas, a curiosidade cede lugar à performance, e o erro —
parte fundamental da aprendizagem — se torna indesejado.
Mas a infância não é um ensaio para a vida adulta.
Ela é vida em sua forma mais intensa, marcada pela descoberta, pela
experimentação e pelo encantamento diante do mundo. É nesse tempo livre de
pressões que a criança constrói quem ela é, desenvolve sua criatividade, regula
as emoções e aprende sobre o outro.
Quando exigimos que tudo tenha uma função imediata,
eliminamos o espaço da dúvida, da tentativa e do erro. E, sem erro, não há
aprendizado significativo. Foi com esse olhar que escrevi “O Rabisco”, uma
história que convida adultos e crianças a desacelerarem juntos.
A pressa em “ensinar” antes da hora compromete não
apenas o desenvolvimento cognitivo, mas, também, o emocional. Crianças precisam
de tempo para observar, repetir, perguntar e errar sem medo. A pausa, muitas
vezes, ensina mais do que a correria. Elas devem sentir sua importância.
Reconhecer que o tempo livre, muitas vezes visto como “tempo perdido”, é
essencial.
É nesse intervalo que podem criar, reinventar e
encontrar sentido nas experiências. Brincar sem roteiro, desenhar livremente é
mais do que diversão: é uma forma profunda de conhecer o mundo e a si mesmas.
Além disso, o sentimento de pertencimento é vital
nesse processo. Quando a atividade faz sentido para a criança e ela se sente
respeitada e acolhida em seu ritmo, o engajamento surge naturalmente. E com
ele, a autoconfiança. Saber que se é capaz, que se tem valor mesmo quando não
se acerta de primeira, fortalece a autoestima e o desejo de aprender.
Criar, brincar, imaginar, explorar. Esses não são
desvios do caminho, são o próprio caminho do desenvolvimento infantil.
Precisamos resgatar o tempo da infância como momento de descoberta, e não de desempenho.
Um tempo que respeita o ritmo, valoriza o processo e entende que crescer é,
antes de tudo, viver com sentido.
Iara Mastine - psicóloga
infantojuvenil e autora do livro “O Rabisco”.
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