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quinta-feira, 24 de abril de 2025

Consentimento, ética e riscos legais: o que é preciso saber sobre violência obstétrica

Especialistas alertam para a importância do consentimento informado, da boa documentação e da cautela nas redes sociais para evitar que atendimentos se transformem em processos por violência obstétrica


Diante das recentes denúncias envolvendo profissionais da saúde e exposição de pacientes nas redes sociais, cresce a preocupação com práticas que podem configurar violência obstétrica – ainda que ocorram dentro de ambientes hospitalares. Especialistas esclarecem o que pode ser considerado violação ética e como os profissionais podem se proteger juridicamente.

“Atualmente considera-se a violência obstétrica qualquer ação ou omissão praticada por profissionais de saúde, instituições ou serviços, públicos ou privados, que cause à mulher gestante, parturiente ou puérpera dor física ou psicológica desnecessária, desrespeito, discriminação, humilhação, negligência ou abuso, durante o atendimento pré-natal, parto ou pós-parto imediato”, explica a  Ariane Vilas Boas, Advogada Especialista em Defesa Medica e membro da Comissão de Direito Médico da OAB do Estado de São Paulo.

Segundo a especialista, além de um atendimento pautado em evidência científica com o objetivo de fornecer um melhor atendimento à paciente, um dos pontos centrais para a atuação médica segura é garantir que haja clareza e registro das informações repassadas à paciente.

“É importante que esse profissional informe todas as possibilidades e riscos durante a assistência. É imprescindível que a paciente tenha conhecimento sobre como esse processo acontecerá e isso se dará através de documentações estruturadas e prontuário médico bem preenchido”, informa Ariane Vilas Boas.

De acordo com a médica Caroline Daitx, especialista em medicina legal e perícia médica, o parto humanizado deve ser compreendido como uma abordagem que prioriza o respeito à fisiologia do parto e à autonomia da gestante, sem jamais negligenciar os protocolos clínicos estabelecidos. A individualização do atendimento é fundamental, mas não pode se sobrepor às diretrizes que visam à segurança da mãe e do recém-nascido.

"Complicações podem ocorrer em qualquer procedimento médico. Entretanto, a responsabilização do profissional se dá quando há evidências de que houve inobservância de normas técnicas, imprudência, negligência ou imperícia. Nesses casos, é imprescindível a análise criteriosa de cada situação para determinar a extensão dos danos e a possível responsabilização do médico envolvido", enfatiza a perita.

Para Daitx, o caso da Dra. Anna Beatriz Herief serve como um alerta para a necessidade de equilíbrio entre a humanização do parto e a observância rigorosa dos preceitos médicos. “A busca por uma experiência de parto respeitosa e acolhedora não pode comprometer a segurança e o bem-estar das pacientes e de seus filhos”, ressalta a médica.

 

Atenção às redes sociais

Sobre a exposição de imagens de pacientes nas redes sociais, o cuidado deve ser redobrado. “Já as imagens, ainda que a resolução de publicidade médica tenha autorizado parcialmente e com restrições o compartilhamento de registro fotográfico, é importante que tenham o cunho informativo e que sejam autorizados previamente pelo paciente”, destaca a advogada.

Ariane Vilas Boas também comenta o caso da médica influencer denunciada por suposta violência obstétrica e exposição de pacientes. Para ela, é fundamental não haver conclusões precipitadas: “Precisamos ter cuidado com o ‘júri popular’ em casos expostos na mídia. É impossível ser conclusivo sem acesso a detalhes do processo e documentos, como o próprio prontuário e termos de consentimento”, finaliza a advogada.

 


Fontes:

Ariane Vilas Boas - advogada Especialista em Defesa Medica e membro da Comissão de Direito Médico da OAB do Estado de São Paulo

Caroline Daitx - médica especialista em medicina legal e perícia médica. Possui residência em Medicina Legal e Perícia Médica pela Universidade de São Paulo (USP). Atuou como médica concursada na Polícia Científica do Paraná e foi diretora científica da Associação dos Médicos Legistas do Paraná.


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