Se você trabalha no dia a dia com crianças negras – na escola, no posto de saúde ou no hospital, por exemplo –, vale a pena conhecer melhor uma doença chamada anemia falciforme. Não que ela seja exclusiva de pessoas da raça negra, mas é mais comum entre negros e mulatos. Também não se manifesta só em crianças, mas o diagnóstico precoce pode antecipar o tratamento, que é para a vida toda.
A anemia falciforme é uma doença hereditária, ou seja,
passa do pai e da mãe para os filhos. Provoca uma alteração nos glóbulos
vermelhos do sangue, fazendo com que a membrana da célula se rompa com
facilidade. É dentro dos glóbulos vermelhos que está a hemoglobina, a estrutura
responsável por transportar o oxigênio. Com isso, fica mais difícil oxigenar os
tecidos e podem se formar trombos que bloqueiam o fluxo de sangue.
É mais frequente entre indivíduos da raça negra: estima-se
que a anemia falciforme atinja 8% da população negra do Brasil. Vale lembrar
que estamos falando da maior fatia da nossa população. O Censo 2022 mostra que
quase 60% dos brasileiros se declaram pretos ou pardos.
Agora vamos aos sinais. Fique atento se a criança relatar:
1. Crises de dor.
É o sintoma mais frequente. Em geral, a dor é nos ossos e articulações,
provocada pelo bloqueio do fluxo sanguíneo e pela falta de oxigenação, mas pode
se manifestar no corpo inteiro.
2. Infecções. As
crianças podem ter mais pneumonias e meningites, por exemplo. Por isso, a
vacinação é importante. A febre é um sinal de alerta para a anemia falciforme.
3. Feridas nas pernas,
que podem levar um tempo maior do que o normal para cicatrizar. Também pode
ocorrer inchaço e vermelhidão nas mãos e nos pés.
O jeito mais fácil de diagnosticar a anemia falciforme é fazendo o teste do pezinho, aquele exame gratuito que todo recém-nascido deveria fazer. Infelizmente, no Brasil, não é uma realidade para todos os bebês, menos ainda para a população preta e parda. O exame laboratorial específico para a doença é a eletroforese de hemoglobina.
Conhecer a anemia falciforme é um passo para reduzir o abismo no acesso à saúde existente no país. Segundo o Ministério da Saúde, pretos e pardos têm maior taxa de mortalidade materna e infantil, maior prevalência de doenças crônicas e piores índices de atendimentos. Mais do que desigualdade, é o que defino como iniquidade: um modelo injusto que se perpetua porque está profundamente arraigado na nossa sociedade e cultura. É o oposto de equidade.
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