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segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Maternidade e cuidado como desafios para igualdade salarial entre homens e mulher


Apesar das inúmeras conquistas femininas ao longo dos anos, a diferença salarial entre homens e mulheres persiste e ainda é muito significativa. Atualmente, em média, a disparidade está em 17%, mas em cargos de liderança e posições executivas, esse percentual chega a 25%. Essa discrepância tem raízes profundas em questões históricas e culturais, em que a maternidade e as responsabilidades domésticas são vistas socialmente como “trabalho de mulher”.

 

Para combater essa realidade, é necessário um esforço conjunto entre governo, empresas e sociedade civil com o objetivo de criar um ambiente mais justo e igualitário para todos. A desigualdade salarial é reflexo de uma estrutura social que ainda não valoriza plenamente o cuidado e as contribuições femininas para a sociedade. Apenas com ações firmes e de impacto imediato, poderemos ver uma verdadeira equidade de gênero no mercado de trabalho.

 

Cuidar também é trabalho


Desde que as mulheres começaram a trabalhar fora do ambiente doméstico, enfrentamos o desafio de equilibrar as exigências profissionais com as responsabilidades do lar, com a maternidade, por exemplo, sendo um divisor de águas na carreira de muitas de nós, enquanto o mesmo não acontece com a paternidade. Somos frequentemente vistas como as principais cuidadoras do lar, dos filhos pequenos e de pais idosos, o que impacta diretamente a visão de recrutadores em relação à nossa competitividade e disponibilidade para o trabalho.

 

Mas, infelizmente, essa visão não deixa de ser verdadeira, até certo ponto, já que enquanto os homens podem se dedicar integralmente às suas carreiras – muitas vezes, é verdade, por terem mães e/ou esposas realizando todo o trabalho doméstico necessário para eles –, as mulheres são frequentemente obrigadas a assumir um "terceiro turno" ao chegar em casa, cuidando da casa e da família. Essa dinâmica cria um ciclo de sobrecarga e exaustão que, na visão de muitos empregadores, dificulta nossa capacidade de competir em igualdade total de condições com os homens no ambiente corporativo.

 

Essa divisão desigual de responsabilidades não nos torna menos competitivas, embora perpetue a ideia de que somos menos comprometidas com nossas carreiras. Um sintoma disso é o fato de setores como educação e saúde, onde a função de cuidadora é mais valorizada, essa diferença salarial é menor ou inexistente.

 

O que as empresas podem fazer


Para diminuir essa distância, os empregadores devem adotar políticas que promovam a igualdade de gênero não só no ambiente de trabalho, mas também em casa. Isso inclui oferecer licenças parentais mais justas, criar ambientes de trabalho acolhedores para mães e fornecer auxílios financeiros para creches e escolas infantis. A igualdade no cuidado dos filhos e nas tarefas domésticas é essencial para que possamos competir em igualdade de condições com os homens no mercado de trabalho.

 

Além disso, o governo deve promover políticas públicas que apoiem as mulheres, como maior disponibilidade de creches e revisões na carga horária de trabalho. A implementação dessas políticas pode ser desafiadora, mas é fundamental para criar um mercado de trabalho mais equilibrado e justo para todos.

 

Empoderar para mudar


Para tentar mudar as visões preconceituosas sobre mulheres e mães, precisamos nos valorizar e, sempre que possível, não hesitar em reivindicar salários justos e questionar práticas discriminatórias. Para muitas mulheres, é verdade, isso não é possível, ainda mais em um cenário como o brasileiro, onde, segundo dados do IBGE, mais de 11 milhões de famílias têm a mulher como única provedora de lares com um filho de até 14 anos, em que a maioria delas apenas precisa trabalhar, sem ter capacidade de escolha.

 

Contudo, como mulheres que têm esse poder, nossa responsabilidade é de também entrevistar as empresas durante processos seletivos, firmando uma posição, escolhendo trabalhar em organizações que promovam a igualdade de gênero e ofereçam um ambiente acolhedor para mulheres que desejam ser mães. Em paralelo, precisamos demonstrar que o nosso comprometimento e entrega no trabalho são frequentemente superiores aos dos homens, e que isso deve ser reconhecido.

 

O empoderamento feminino não é apenas uma questão de justiça, mas também uma vantagem competitiva para as empresas que reconhecem e valorizam o talento feminino. As mulheres devem sentir-se encorajadas a buscar posições de liderança e a exigir reconhecimento por suas contribuições. Este movimento não só beneficia as mulheres, mas enriquece a sociedade como um todo, promovendo um ambiente de trabalho mais diversificado e inovador.

 

A luta pela igualdade de gênero no mercado de trabalho é contínua, mas com políticas adequadas, apoio institucional e uma cultura de empoderamento, podemos alcançar um futuro mais justo para todas as mulheres. Por outro lado, os homens precisam reconhecer seus privilégios e serem aliados nessa causa, compreendendo que a igualdade de gênero beneficia a sociedade como um todo, promovendo um ambiente social que também é mais positivo para eles, onde todos, independentemente de gênero, possam prosperar e alcançar seu pleno potencial.

 

Ana Britto - diretora da divisão de temporários e efetivos da Gi Group Holding, multinacional italiana que trabalha com consultoria e gestão para o mercado de trabalho.


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