Apesar das
inúmeras conquistas femininas ao longo dos anos, a diferença salarial entre
homens e mulheres persiste e ainda é muito significativa. Atualmente, em média,
a disparidade está em 17%, mas em cargos de liderança e posições executivas,
esse percentual chega a 25%. Essa discrepância tem raízes profundas em questões
históricas e culturais, em que a maternidade e as responsabilidades domésticas
são vistas socialmente como “trabalho de mulher”.
Para combater essa
realidade, é necessário um esforço conjunto entre governo, empresas e sociedade
civil com o objetivo de criar um ambiente mais justo e igualitário para todos.
A desigualdade salarial é reflexo de uma estrutura social que ainda não
valoriza plenamente o cuidado e as contribuições femininas para a sociedade.
Apenas com ações firmes e de impacto imediato, poderemos ver uma verdadeira
equidade de gênero no mercado de trabalho.
Cuidar
também é trabalho
Desde que as
mulheres começaram a trabalhar fora do ambiente doméstico, enfrentamos o
desafio de equilibrar as exigências profissionais com as responsabilidades do
lar, com a maternidade, por exemplo, sendo um divisor de águas na carreira de
muitas de nós, enquanto o mesmo não acontece com a paternidade. Somos
frequentemente vistas como as principais cuidadoras do lar, dos filhos pequenos
e de pais idosos, o que impacta diretamente a visão de recrutadores em relação
à nossa competitividade e disponibilidade para o trabalho.
Mas,
infelizmente, essa visão não deixa de ser verdadeira, até certo ponto, já que
enquanto os homens podem se dedicar integralmente às suas carreiras – muitas
vezes, é verdade, por terem mães e/ou esposas realizando todo o trabalho doméstico
necessário para eles –, as mulheres são frequentemente obrigadas a assumir um
"terceiro turno" ao chegar em casa, cuidando da casa e da família.
Essa dinâmica cria um ciclo de sobrecarga e exaustão que, na visão de muitos
empregadores, dificulta nossa capacidade de competir em igualdade total de
condições com os homens no ambiente corporativo.
Essa divisão
desigual de responsabilidades não nos torna menos competitivas, embora perpetue
a ideia de que somos menos comprometidas com nossas carreiras. Um sintoma disso
é o fato de setores como educação e saúde, onde a função de cuidadora é mais
valorizada, essa diferença salarial é menor ou inexistente.
O
que as empresas podem fazer
Para diminuir
essa distância, os empregadores devem adotar políticas que promovam a igualdade
de gênero não só no ambiente de trabalho, mas também em casa. Isso inclui
oferecer licenças parentais mais justas, criar ambientes de trabalho
acolhedores para mães e fornecer auxílios financeiros para creches e escolas
infantis. A igualdade no cuidado dos filhos e nas tarefas domésticas é
essencial para que possamos competir em igualdade de condições com os homens no
mercado de trabalho.
Além disso, o
governo deve promover políticas públicas que apoiem as mulheres, como maior
disponibilidade de creches e revisões na carga horária de trabalho. A
implementação dessas políticas pode ser desafiadora, mas é fundamental para
criar um mercado de trabalho mais equilibrado e justo para todos.
Empoderar
para mudar
Para tentar
mudar as visões preconceituosas sobre mulheres e mães, precisamos nos valorizar
e, sempre que possível, não hesitar em reivindicar salários justos e questionar
práticas discriminatórias. Para muitas mulheres, é verdade, isso não é
possível, ainda mais em um cenário como o brasileiro, onde, segundo dados do
IBGE, mais de 11 milhões de famílias têm a mulher como única provedora de lares
com um filho de até 14 anos, em que a maioria delas apenas precisa trabalhar,
sem ter capacidade de escolha.
Contudo, como
mulheres que têm esse poder, nossa responsabilidade é de também entrevistar as
empresas durante processos seletivos, firmando uma posição, escolhendo
trabalhar em organizações que promovam a igualdade de gênero e ofereçam um
ambiente acolhedor para mulheres que desejam ser mães. Em paralelo, precisamos
demonstrar que o nosso comprometimento e entrega no trabalho são frequentemente
superiores aos dos homens, e que isso deve ser reconhecido.
O empoderamento
feminino não é apenas uma questão de justiça, mas também uma vantagem
competitiva para as empresas que reconhecem e valorizam o talento feminino. As
mulheres devem sentir-se encorajadas a buscar posições de liderança e a exigir
reconhecimento por suas contribuições. Este movimento não só beneficia as
mulheres, mas enriquece a sociedade como um todo, promovendo um ambiente de
trabalho mais diversificado e inovador.
A luta pela
igualdade de gênero no mercado de trabalho é contínua, mas com políticas
adequadas, apoio institucional e uma cultura de empoderamento, podemos alcançar
um futuro mais justo para todas as mulheres. Por outro lado, os homens precisam
reconhecer seus privilégios e serem aliados nessa causa, compreendendo que a
igualdade de gênero beneficia a sociedade como um todo, promovendo um ambiente
social que também é mais positivo para eles, onde todos, independentemente de
gênero, possam prosperar e alcançar seu pleno potencial.
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