Apraxia de Fala na Infância é pouco conhecida no país e afeta 2 a cada mil crianças
Nicolas e sua família Divulgação |
Quando o pequeno Nicolas tinha apenas 17 dias de vida, a percepção da mamãe Vanessa dizia que ele tinha algo de diferente das outras crianças. Com o passar do tempo ela foi percebendo que ele não olhava dos olhos, não balbuciava e parecia não escutar, pois não reagia a sons altos e nem atendia quando era chamado. Mesmo morando em São Paulo – cidade tida como referência em profissionais na área de saúde – os pediatras pareciam negligenciar os marcos do desenvolvimento do bebê que Nicolas não acompanhava, e Vanessa trocou de médico quatro vezes em um ano e meio.
O diagnóstico só veio aos dois anos de idade,
quando Nicolas já estava na escola: Transtorno do Espectro Autista. Mas o caso
dele ia além: Nicolas foi uma criança totalmente não verbal até os 5 anos e 8
meses, mesmo com acompanhamento de fonoaudióloga e diversas terapias. “Só
quando chegamos ao diagnóstico de apraxia de fala é que pudemos direcionar
melhor o tratamento, fazendo com que o Nicolas desenvolvesse as habilidades
necessárias para começar a falar” – revela Vanessa, mãe do Nicolas.
Hoje, aos 7 anos recém completados, Nicolas é
acompanhado por equipe interdisciplinar, e a terapia baseada em estratégias
motoras, tem contribuído muito para o desenvolvimento da fala.
Nicolas é uma das milhares de crianças no
Brasil diagnosticadas com AFI (a estimativa é sejam cerca de 100 mil crianças,
mas esse dado não é oficial), transtorno que acomete o planejamento dos
movimentos necessários para a produção dos sons da fala. De acordo, com a
Dra. Elisabete Giusti, fonoaudióloga, com expertise em transtornos do
desenvolvimento da fala e da linguagem e responsável pelo diagnóstico de
Nicolas, a apraxia é “um tipo de transtorno motor e neurológico da
fala, que afeta a habilidade do cérebro em enviar os comandos e instruções
adequadas para que os articuladores (por exemplo, mandíbula, lábios, língua,
etc), se movimentem para produzir os sons da fala. É uma alteração
funcional, cujo diagnóstico é clínico, e não detectado em exames para o estudo
do cérebro, como ressonância ou tomografia de crânio. Para as crianças com
apraxia, desenvolver a fala é um desafio e que exige muito esforço”,
explica.
Mães
se unem para fundar a Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância
O caso de Vanessa não é isolado. O mesmo
alerta soou na casa de três mães que não se conheciam. Os filhos estavam
demorando muito a balbuciar e, depois, para produzir as primeiras palavras.
Inevitável não comparar com crianças da mesma idade, de outras famílias, e com
os amiguinhos – que já apresentavam a fala mais desenvolvida. Preocupadas, elas
passaram por alguns médicos e fonoaudiólogos, até que receberam o diagnóstico
de Apraxia de Fala na Infância (AFI) – que atinge 2 a cada mil crianças.
Em Curitiba, estava a engenheira Juliane
Tosin, mãe da Giovana, que só foi diagnosticada aos 3 anos. Em Goiânia, Fabiana
Collavini, vivia a mesma situação com sua filha Ana Beatriz, que tinha 2 anos e
5 meses quando a família ouviu pela primeira vez sobre a apraxia. E Mariana
Chuy, de Porto Alegre, só soube que o filho Gabriel tinha o transtorno quando
ele completou 2 anos e 4 meses. Na história das três havia algo em comum, que
ia além da condição de seus pequenos. Elas notaram que se sabia muito pouco
sobre o transtorno no Brasil. “Fomos a vários médicos e fonoaudiólogos, mas não
obtivemos um diagnóstico preciso porque a apraxia era pouco conhecida, até
mesmo pelos profissionais de saúde no Brasil”, relata Juliane.
Com a ideia de formar uma rede de apoio,
Fabiana criou um grupo no Facebook para que outras famílias pudessem dividir o
pouco conhecimento que possuíam. E foi aí que as três mães se uniram. “Nos
Estados Unidos, encontramos mais respostas e tratamento. Ao voltarmos, fundamos
a Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância”, conta Fabiana –
presidente da ABRAPRAXIA, que atua ao lado de Juliane Tosin, vice-presidente; e
Mariana Chuy, Diretora.
Desde 2016, a Associação já capacitou mais de
25 mil pessoas, entre fonoaudiólogos, pais e familiares, traduziu materiais e
livros sobre o tema, além de oferecer cursos de formação profissional. “A
quantidade de profissionais que já participaram dos eventos indica a
necessidade de buscar capacitação e formação nesta área, que até pouco tempo,
não era abordado, nem mesmo durante a graduação”, conta a fonoaudióloga
Elisabete Giusti, referência em apraxia da fala na infância, conselheira
técnica da ABRAPRAXIA e a grande responsável por apresentar Fabiana, Juliane e
Mariana umas às outras. Doutora em Linguística pela Universidade de São Paulo e
detentora de diversas certificações, Dra. Elisabete participou das iniciativas
propostas pelas mães fundadoras, e ministrou vários cursos em várias cidades,
de diferentes estados.
Agora, a Associação continua trabalhando pelo
acesso ao diagnóstico correto e precoce, conscientizando e formando não apenas
os fonoaudiólogos, como também os profissionais de outras áreas. “Os
pediatras são os profissionais de saúde, mais próximos das crianças, nos dois
primeiros anos de vida. É preciso que eles que se conscientizem sobre a apraxia
de fala, e que não negligenciem os sinais de alerta deste diagnóstico, para que
possam realizar as orientações aos pais e os encaminhamentos necessários, para
avaliação e tratamento”, enfatiza Fabiana Collavini.
"Queremos trazer visibilidade para a
AFI. Precisamos alertar os pais e profissionais de saúde sobre a existência
desse transtorno. “O acesso precoce ao diagnóstico e tratamento adequado, fará com que a
criança tenha mais chances de atingir o seu melhor potencial”, conclui
a Diretora da ABRAPRAXIA, Mariana Chuy.
Onde
buscar informação:
Site: www.apraxiabrasil.org
Instagram: @apraxiakidsbrasil
Facebook: www.facebook.com/ApraxiaKidsBrasil
LinkedIn:
https://www.linkedin.com/company/apraxia-brasil-abrapraxia
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