Período de lactação exige orientação personalizada por parte de mastologistas e tratamento diante de problemas como a mastite, que atinge até 20% das mães que amamentam
A Semana Mundial de Aleitamento Materno, realizada
entre 1º e 7 de agosto, destaca na campanha deste ano que “o aleitamento deve
ser fator de igualdade na sociedade, e esforços precisam ser feitos para
garantir que todos tenham apoio e oportunidade para amamentar”. Apesar da ação
abrangente, a amamentação envolve questões individuais, segundo a mastologista
Mayka Volpato, responsável pelo Departamento de Aleitamento Materno da
Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). “É preciso olhar para o aleitamento
como algo personalizado, que requer orientação por parte de especialistas. Em
alguns casos, é necessária uma equipe multidisciplinar para tratamentos das
dores e lesões mamilares crônicas, além da mastite, que é fator do desmame
precoce de bebês”, afirma.
O leite materno é rico em vitaminas e minerais,
carboidratos, ferro, gorduras, hormônios, enzimas e anticorpos que atuam contra
microorganismos e agentes infecciosos, garantindo proteção à criança. Entre os
nutrientes também estão proteínas como a lactoalbumina. A OMS (Organização
Mundial de Saúde) recomenda o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis
meses de vida.
Apesar de fundamental para a saúde do bebê, muitas
mulheres interrompem a amamentação diante de intercorrências, como a mastite,
processo inflamatório associado à dor que dificulta o aleitamento. “Este é um
problema que atinge de 3% a 20% das lactantes”, destaca a mastologista Mayka
Volpato, da SBM.
Desde 2022, no entanto, a partir da mudança de
entendimento sobre os fatores que causam a mastite, os especialistas podem
proporcionar tratamentos mais adequados às pacientes. “Até esta data,
acreditávamos que a mastite era causada pela entrada de bactérias por fissuras
na mama”, lembra. “Hoje a fisiopatologia entende como causa o estreitamento do
ducto da mama, por onde passa o leite. Esse estreitamento pode ser fruto do
excesso de leite tanto na produção quanto no armazenamento.”
No caso de hiperlactação, a especialista sugere o
manejo, que pode ser orientado para que a paciente faça a livre demanda, em que
o bebê regula as mamadas de acordo com sua necessidade, evitando ordenhas
desnecessárias, que contribuem para o aumento da produção. Casos menos comuns
necessitam de tratamento medicamentoso.
“Cada dia mais também temos novas evidências sobre
a disbiose intestinal (desequilíbrio da microbiota intestinal), que tem
potencial para desencadear doenças sistêmicas e impactar outros órgãos como
mama, pele, vagina, cérebro, fígado entre outras. Diante disso, os probióticos
estão ganhando mais espaço em todas as áreas da medicina”, observa Mayka.
A disbiose mamária é outro fator predisponente para
mastite e se caracteriza pelo desequilíbrio no crescimento de microrganismos
que naturalmente são encontrados na mama.
De acordo com a mastologista, o ducto de leite
normal apresenta várias bactérias heterogêneas e que vivem em equilíbrio. “Em
caso de disbiose, existe um aumento de uma população de bactérias específicas,
promovendo um estreitamento ductal e menor fluxo de leite”, explica. “E quando
temos uma obstrução ductal mais significativa ocorre a galactocele (acúmulo de
leite), com possibilidade de infecção associada, que é a mastite lactacional.”
No tratamento da disbiose, que deve ser
individualizado, as primeiras recomendações são alimentação equilibrada,
hidratação, higiene do sono, manejo do estresse e atividade física. “Como forma
de aumentar as bactérias benéficas da mama também podemos prescrever o
probiótico Lactobacillusfermentum, que será lançado comercialmente em
outubro no Brasil pela Nestlé”, diz. A mastologista explica que no caso
brasileiro a opção ainda é a importação ou a prescrição manipulada do probiótico.
Como indicação terapêutica e preventiva da mastite, já é disponibilizado de
forma comercial em vários países.
Ao reforçar a importância do apoio à amamentação em
todas as situações, como preconiza a campanha da Semana Mundial de Aleitamento
Materno, Mayka Volpato afirma que o aleitamento materno é a forma natural de
estabelecimento de vínculo e afeto entre mãe e bebê. “Como estratégia de
nutrição, contribui para a saúde da criança e da lactante e a redução da
mortalidade infantil no Brasil”, finaliza a mastologista da SBM.
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