A transmissão vertical pelo aleitamento
materno é uma realidade que pode ser evitada, caso sejam seguidas todas as
orientações médicas
Agosto, também conhecido como "Agosto Dourado", é o mês
dedicado ao incentivo e conscientização sobre o aleitamento materno,
ressaltando os inúmeros benefícios dessa prática para a saúde do bebê e da mãe.
No entanto, muitas mães vivendo com HIV/Aids enfrentam a impossibilidade de
vivenciar esse momento de conexão com seus bebês, uma vez que são orientadas a
não amamentar para evitar a transmissão vertical do vírus.
De acordo com o segundo volume do Boletim Epidemiológico Saúde da
População Negra, entre 2011 e 2021, o número de casos de HIV detectados em
gestantes pardas e pretas aumentou anualmente, passando de 62,4% em 2011 para
67,7% em 2021. Observou-se uma maior proporção desses casos entre as gestantes
com idade entre 15 e 29 anos, que representaram 69,6% das notificações.
Durante a gestação e o parto, há o risco de transmissão do HIV,
assim como de outras doenças. É importante destacar que o HIV pode ser
transmitido através da amamentação. Diante dessa realidade, a infectologista
dos Hospitais Samaritano e Indianápolis, Dra. Rafaela Arvai Pereira, enfatiza
que orientar as mães a não amamentar em caso de infecção é uma medida de
proteção ao bebê.
"Médicos prescrevem medicamentos para a mãe não produzir
leite, evitando o ingurgitamento mamário, a mastite ou outros problemas, e
recomendamos o uso de fórmula láctea", explica a infectologista. Essa
fórmula é fornecida gratuitamente pelo governo, assegurando o acesso a uma
alternativa segura e adequada para a alimentação do recém-nascido.
Diagnóstico durante a gestação
No Brasil, a notificação de gestantes, parturientes e puérperas com HIV é obrigatória desde o ano 2000, com o objetivo de prevenir a transmissão vertical da infecção de mãe para o bebê. Contudo, o boletim epidemiológico revela que, em 2021, mais de 70% das notificações de AIDS em crianças com menos de 14 anos eram de pessoas negras, sendo 6,3% pretas e 64,9% pardas. Além disso, o documento destaca um aumento de 12% na proporção de pessoas pretas e pardas testadas para HIV ou AIDS, que passou de 50,3% em 2011 para 62,3% em 2021.
Nesse contexto, é essencial que as gestantes realizem testes para
HIV, sífilis e hepatites durante os três primeiros meses de gestação, nos três
últimos meses e em casos de exposição de risco e/ou violência sexual,
respectivamente. Além disso, o teste para HIV deve ser realizado no momento do
parto, independentemente de exames anteriores.
Para as gestantes diagnosticadas com HIV durante a gestação, é
recomendado o início imediato do tratamento com medicamentos antirretrovirais, que
deve se estender por toda a gestação e, se orientado pelo médico, também no
momento do parto. Essa abordagem visa prevenir a transmissão vertical do HIV
para o bebê.
"É de extrema importância que todas as pessoas vivendo com
HIV, incluindo as mães, tomem os medicamentos antirretrovirais diariamente, de
preferência no mesmo horário e também sem pular nenhum dia, uma vez que essa
disciplina resulta em uma carga viral indetectável, o que significa
intransmissibilidade", ressalta Dra. Rafaela. O recém-nascido também deve
receber o medicamento antirretroviral (xarope) e ser acompanhado regularmente
por um profissional de saúde.
Prevenção e cuidado para o crescimento saudável do bebê
É fundamental enfatizar que mulheres com diagnóstico negativo para
o HIV durante o pré-natal ou parto devem utilizar camisinha (masculina ou
feminina) nas relações sexuais, inclusive durante o período de amamentação,
como medida preventiva para evitar a infecção e garantir o crescimento saudável
do bebê.
A presidente do Projeto Criança Aids (PCA), ONG de São Paulo que
atua com crianças e famílias de crianças que vivem com HIV/Aids, Adriana Galvão
Ferrazini, frisa que o ato de não amamentar é uma prova de amor e de direito à
vida.
“Mulheres amamentando podem ser infectadas e só ter conhecimento
do fato quando já estiverem doentes da Aids, quando os sintomas das
comorbidades aparecem nelas e em seus filhos também infectados, através do
leite materno”, salienta Adriana. “Por isso a importância da testagem periódica
para o vírus HIV, do uso de preservativos masculino ou feminino e da PrEP
(profilaxia pré-exposição), durante a amamentação“
Casos em crianças
Os dados oficiais divulgados pelo Boletim Epidemiológico de
HIV/Aids revelam que os casos de HIV em crianças menores de 5 anos de idade têm
se mantido estáveis nos últimos dois anos. Entre 2019 e 2021, a taxa de
detecção nessa faixa etária registrou uma significativa queda de 35,4%,
passando de 1,8 para 1,2 casos por 100 mil crianças.
“Em nossa ONG temos diversos casos de crianças que foram
infectadas através do aleitamento materno e infelizmente a descoberta do
ocorrido foi tardia, algumas dessas crianças já têm sequelas irreversíveis por
conta das doenças causadas pela Aids”, pontua a presidente do PCA.
O "Agosto Dourado" é um momento oportuno para reforçar a
importância da não amamentação em casos de infecção por HIV/Aids e promover a
conscientização sobre a prevenção, o diagnóstico precoce e o cuidado adequado
para as mães e seus bebês. A adoção de medidas preventivas e a busca por
assistência médica qualificada são fundamentais para garantir a saúde e o
bem-estar de todos.
Sobre o PCA
O Projeto Criança Aids (PCA) é uma Organização Não Governamental
(ONG) sem fins lucrativos que atende famílias em vulnerabilidade social
responsáveis por crianças e adolescentes vivendo e convivendo com HIV/AIDS.
O PCA atua desde 1991 no auxílio e no resgate da dignidade das
crianças e seus familiares. Por meio de uma equipe de assistentes sociais, o
Projeto visita regularmente as casas de todas as famílias responsáveis para
conferir a frequência escolar, condições de saúde e moradia, além de ofertar
cestas básicas mensais com produtos de higiene pessoal, limpeza doméstica e
alimentos.
Atualmente, o Projeto atende cerca de 40 crianças, propiciando
acolhimento e reflexão voltadas para o resgate psicossocial e educativo
realizados por equipe interdisciplinar composta por: psicólogo, assistente
social, farmacêutica, enfermeira, pedagoga, psicopedagoga e estagiários das
áreas afins.
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