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sexta-feira, 7 de junho de 2024

Médicos Sem Fronteiras alerta que o aumento da desnutrição entre crianças requer ação urgente no norte da Nigéria

Número de casos atendidos pelas equipes da organização dobrou em alguns locais em relação ao ano passado. 

 

Nas últimas semanas, as instalações de Médicos Sem Fronteiras (MSF) no norte da Nigéria registraram um aumento expressivo no número de admissões de crianças com desnutrição grave, algumas delas com complicações potencialmente fatais. Em alguns locais, o aumento dos atendimentos dobrou em relação ao ano passado. É uma situação terrível, uma vez que o elevado número de pacientes e o aumento dos casos de desnutrição estão ocorrendo antes do pico esperado, que normalmente acontece em julho.

"Estamos tendo de recorrer a colchões no chão para tratar os pacientes porque as nossas instalações estão lotadas. As crianças estão morrendo. Se não forem tomadas medidas imediatas, mais vidas estarão em perigo. Todos precisam intervir para salvar vidas e permitir que as crianças do norte Nigéria se livrem da desnutrição e de suas consequências desastrosas, que a longo prazo podem ser fatais”, defende o Dr. Simba Tirima, representante nacional de MSF na Nigéria.

A assistência humanitária deve ser urgentemente intensificada. MSF apela às autoridades nigerianas, organizações internacionais e instituições doadoras para que tomem medidas imediatas para diagnosticar e tratar crianças com desnutrição, prevenindo complicações e evitando mortes. Também pedimos para que esses atores se envolvam em iniciativas sustentáveis e de longo prazo para reduzir as causas relativas a este problema urgente.

“Temos alertado sobre o agravamento da crise de desnutrição nos últimos dois anos. Os anos de 2022 e 2023 já foram críticos, mas um quadro ainda mais sombrio se desenrola em 2024. Não podemos continuar repetindo esses cenários catastróficos ano após ano. O que é preciso fazer para que todos percebam e tomem alguma atitude?", indaga o Dr. Tirima.

 

Número de admissões dobra em Maiduguri

Em abril de 2024, a equipe médica de MSF em Maiduguri, no nordeste da Nigéria, atendeu 1.250 crianças com desnutrição grave e complicações no centro de nutrição terapêutica intensiva, o dobro do número em relação a abril de 2023. Forçado a aumentar urgentemente a capacidade, no final de maio, o centro acomodou 350 pacientes, ultrapassando em muito os 200 leitos inicialmente designados para a época de pico da desnutrição, que é de julho a agosto.

Também no nordeste da Nigéria, a instalação operada por MSF no hospital Kafin Madaki, no estado de Bauchi, registrou um aumento significativo de 188% no número de admissões de crianças com desnutrição grave durante os primeiros três meses de 2024, em comparação com o mesmo período de 2023.

Na parte noroeste do país, no estado de Zamfara, os centros intensivos em Shinkafi e Zurmi receberam até 30% mais pacientes em abril em comparação com março. A instalação de Talata Mafara registrou um aumento de cerca de 20% no mesmo período. De forma semelhante, em abril, as instalações intensivas de MSF em grandes cidades como Kano e Sokoto reportaram aumentos alarmantes, de 75% e 100%, respectivamente. O centro de nutrição terapêutica no estado de Kebbi também documentou um aumento de mais de 20% nas admissões de março a abril de 2024.

Apesar da situação alarmante, a resposta humanitária global continua inadequada. Outras organizações sem fins lucrativos ativas no norte da Nigéria também estão sobrecarregadas. A Organização das Nações Unidas (ONU) e as autoridades nigerianas emitiram um apelo urgente em maio no valor de US$ 306,4 milhões para responder às necessidades nutricionais imediatas nos estados de Borno, Adamawa e Yobe. No entanto, isso será insuficiente, ao ignorar outras partes do norte da Nigéria onde as necessidades também superam a capacidade atual das organizações para responder de forma adequada.

 

Situação catastrófica

A situação nutricional catastrófica observada nos últimos anos no norte da Nigéria exige uma resposta maior. A região já é persistentemente excluída da resposta humanitária formal, e as reduções no limitado financiamento disponível para o noroeste também afetaram perigosamente o fornecimento de alimentos terapêuticos e suplementares cruciais.

Esses fornecimentos estiveram completamente indisponíveis no estado de Zamfara durante os primeiros quatro meses deste ano e agora só estão disponíveis em quantidades menores. Com a redução, só é possível fornecer tratamento para casos de desnutrição mais graves, comprometendo uma resposta eficaz que também trate a desnutrição em uma fase mais precoce da sua progressão e evite expor as crianças a um maior risco de mortalidade.

“Estamos alarmados com a redução da ajuda nestes tempos críticos. Diminuir o apoio nutricional apenas às crianças com desnutrição grave é o mesmo que esperar que uma criança fique gravemente doente antes de fornecer os devidos cuidados. Pedimos para que os doadores e as autoridades aumentem urgentemente o apoio às abordagens curativas e preventivas, garantindo que todas as crianças com desnutrição recebam os cuidados de que necessitam urgentemente”, afirma o Dr. Tirima.

A persistente crise de desnutrição no norte da Nigéria decorre de uma variedade de fatores, como inflação, insegurança alimentar, infraestrutura de saúde insuficiente, problemas de segurança contínuos e surtos de doenças agravados pela baixa cobertura vacinal.

O combate à desnutrição aguda no norte da Nigéria requer medidas preventivas e curativas. A criação e o reforço de instalações e programas de saúde capazes de diagnosticar e tratar de forma eficaz a desnutrição são medidas necessárias e urgentes. Além disso, reforçar os programas de vacinação que podem ajudar a prevenir doenças evitáveis; ampliar o acesso a alimentos nutritivos por meio de iniciativas agrícolas e programas de distribuição de alimentos e melhorar as condições da água e do saneamento são passos fundamentais.

 

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