Segundo pediatra do Hospital Santa Catarina – Paulista, o risco pode ser atribuído à imaturidade do sistema imunológico nessa faixa etária, o que torna as crianças mais suscetíveis a infecções virais graves e complicações associadas
Em meio à epidemia de dengue no Brasil, que fez com que dez
estados decretaram emergência epidemiológica, uma preocupação crescente diz
respeito às crianças, que enfrentam riscos aumentados e demandam atenção
especial. De acordo com o Ministério da Saúde, foram detectados entre janeiro e
início de abril, mais de 2 milhões de casos, entre adultos e crianças, em todo
país.
Dados recentes do Painel de Monitoramento das Arboviroses do
Ministério da Saúde apontaram um coeficiente de incidência da doença de 1.327,5
para cada 100 mil habitantes, sendo que a região Centro-Oeste lidera com o
maior número de casos. A situação da dengue no Brasil varia de acordo com
diversos fatores, incluindo condições climáticas, medidas de controle de
vetores, acesso a serviços de saúde e comportamentos da população.
Neste cenário, a dengue tem atingido com maior gravidade crianças
de até 5 anos em 2024, segundo levantamento realizado pelo Observatório de
Saúde na Infância da Fiocruz/Unifase (Fundação Oswaldo Cruz/Centro
Universitário Arthur Sá Earp Neto). De acordo com a análise, essa faixa etária é
a que exibe as maiores taxas de letalidade, sendo seguida pelas crianças entre
5 e 9 anos. A análise foi feita com base nos dados do Sinan (Sistema de
Informação de Agravos de Notificação) do Ministério da Saúde, considerando as
10 primeiras semanas epidemiológicas de 2024 (até 9 de março).
Segundo a Dra. Gláucia Finotti, pediatra do Hospital Santa
Catarina – Paulista, a vulnerabilidade de crianças, especialmente aquelas com
menos de 5 anos de idade, ocorre devido a diferenças na resposta imune ou a uma
maior probabilidade de terem comorbidades que podem complicar a doença. “As
crianças têm um risco aumentado de desenvolver formas graves da doença. Isso
pode ser atribuído à imaturidade do sistema imunológico nessa faixa etária, o
que as tornam mais suscetíveis a infecções virais graves e complicações
associadas”, explica a especialista.
Os sintomas de dengue em bebês e crianças são semelhantes à doença
que afeta os adultos, como febre alta, mal-estar, dor no corpo e fadiga. Os
pais devem adotar medidas em casa, como a eliminação de criadouros do mosquito
e uso de repelentes. Nos menores, a infecção pela doença pode ser confundida
com outras viroses comuns na infância, o que dificulta sua identificação. “É
importante ficar atento aos sinais de alarme da dengue para evitar que ela se
agrave. Por isso, na dúvida quanto ao diagnóstico, a melhor maneira de
elucidarmos é procurar atendimento médico adequado o mais breve possível",
explica a pediatra.
De acordo com a Dra. Gláucia Finotti, em crianças com outras comorbidades,
como doenças crônicas, desnutrição ou sistemas imunológicos comprometidos, o
risco de desenvolver formas graves da doença é ainda maior: “Essas condições
podem reduzir a capacidade de o corpo combater a infecção viral e lidar com as
complicações associadas. Nesses casos, o médico deve ser procurado
imediatamente, mediante a manifestação de qualquer sintoma diferente”.
Vacinação
A vacina contra a dengue é importante na prevenção da doença, mas
não oferece proteção total contra todas as formas da dengue. A vacinação contra
a dengue pode reduzir significativamente o risco de infecção grave e
hospitalização, mas sua eficácia pode variar dependendo do sorotipo viral, da
idade e da exposição prévia ao vírus. Desde fevereiro, o Ministério da Saúde
disponibiliza a vacina QDENGA no Sistema Único de Saúde (SUS). Nesse
momento, a estratégia inicial para a vacinação contempla indivíduos na faixa
etária de 10 a 14 anos, 11 meses e 29 dias, que residem em localidades
prioritárias, com critérios definidos a partir do cenário epidemiológico da
doença no país.
A vacinação, que aos poucos chega nos laboratórios particulares,
também é recomendada pela Sociedade Brasileira de Pediatria, que avalia o
imunizante com um esquema vacinal rápido, visto que são somente duas doses em
um intervalo de três meses, e não exige testagem prévia, pois pode ser aplicada
em qualquer indivíduo de 4 a 60 anos.
Segundo a Dra. Gláucia Finotti, existem algumas contraindicações
para a vacina contra a dengue. “Pessoas que tiveram uma reação alérgica grave a
uma dose anterior da vacina ou a algum componente da vacina não devem receber a
vacina contra a dengue. Além disso, a vacina pode não ser recomendada para
mulheres grávidas ou pessoas com doenças imunossupressoras”, alerta. Ainda
segundo a médica, as autoridades de saúde geralmente avaliam os benefícios e os
riscos da vacinação contra a dengue em diferentes grupos populacionais. “Em
áreas onde a dengue é endêmica e representa um risco significativo para a saúde
pública, a vacinação pode ser amplamente recomendada para reduzir a carga da
doença”, conclui.
Pais devem ficar alertas aos sintomas
Os pais desempenham um papel fundamental na prevenção da dengue em
seus filhos, adotando medidas como a eliminação de criadouros, uso de
repelentes e observação atenta dos sintomas da doença nas crianças. Buscar
assistência médica adequada ao primeiro sinal de suspeita de dengue é crucial
para um tratamento eficaz.
Distinguir os sintomas da dengue, de viroses ou gripe pode ser
desafiador, pois há uma sobreposição significativa entre os sintomas dessas
condições. No entanto, existem algumas características distintivas:
"Inicialmente a dengue pode apresentar sintomas de virose e gripes, como
febre alta, irritabilidade, desânimo e sonolência. Mas se surgirem manchas
vermelhas na pele, os pais devem levar a criança para realizar o Exame",
explica a médica.
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