Levantamento da Virtual Gate mostra
queda de 8,4% no fluxo de pessoas nas lojas de rua e de 3,1% nas de shoppings
em relação a 2023. Setor de perfumaria e cosmético é exceçãoIMAGEM: Paulo Pampolin/DC
Um dos termômetros de como andam
as vendas no varejo é o fluxo de pessoas nas lojas, até porque o e-commerce, em
expansão, ainda representa cerca de 10% da receita total do setor.
A Virtual Gate, empresa que
monitora volume de pessoas em aproximadamente 2 mil lojas espalhadas pelo país
- entre elas C&A, Caedu, Sephora, Adidas, Farm, Natura, Constance,
Americanas e Veste -, portanto, não tem uma notícia muito boa para os
comerciantes.
No primeiro trimestre deste
ano, o fluxo de pessoas nessa amostra de pontos-de-venda caiu 4,3% em relação
ao mesmo período do ano passado.
As lojas de ruas sofreram mais
do que as de shoppings. As quedas são de 8,4% e 3,1%, respectivamente, no
período.
O setor de perfumaria e
cosmético foi o único que registrou aumento no fluxo de pessoas, de 13,5%. As
lojas de material de construção já apresentaram a maior retração, de 11,3%.
Outros setores que viram o
número de clientes diminuir foram o de móveis, com queda de 8,7%, o de
utilidades domésticas, de 3,7% e o de vestuário e calçados, de 3,6%.
Esses dados, de acordo com
Heloísa Cranchi, diretora-geral da Virtual Gate, são pistas de desempenho de
vendas e um alerta para ações capazes de aumentar a visita de clientes.
“Os números revelam que há
consolidação do perfil de consumo. Há mais pessoas em home office e com
trabalho híbrido, o que resulta em uma diminuição nas visitas às lojas”, diz.
No ano passado, o fluxo de
pessoas em lojas já tinha caído 1,3%, em média, sobre 2022. Nas lojas de rua, a
queda foi de 6% e, nas de shoppings, não houve nem crescimento nem queda.
Mais uma vez, as lojas de
perfumaria e cosméticos foram no caminho contrário. O fluxo de pessoas nos
pontos-de-venda cresceu 26,8%, no período. Outros setores registraram queda.
Os setores que estão mais
afetados com visitação e vendas, de acordo com Mauro Francis, presidente da
Ablos (associação dos lojistas satélites), são os que atendem as classes B e C.
Eis uma das razões. “As
plataformas chinesas viraram as vilãs do varejo brasileiro. Dos grandes
magazines aos pequenos lojistas, todos estão sofrendo com a concorrência
desleal”, diz.
Por região do Brasil, as lojas
do Norte foram as que registraram as maiores perdas de fluxo de pessoas, de
8,3%, no período.
Em seguida vêm as lojas das
regiões Sudeste, com queda de 5,4%, Nordeste (2,5%), Sul (2,2%) e Centro-oeste
(1,6%), de acordo com a Virtual Gate.
DIVERSIFICAÇÃO
DE NEGÓCIOS
Os shoppings estão sofrendo
menos do que as ruas com queda de público, diz Heloísa, porque estão investindo
em setores, como serviços e entretenimento, como desejam os consumidores.
“Esse movimento nem sempre se
reflete em mais vendas, mas incentiva a ida aos shoppings.”
Samuel Macedo, gerente de
indicadores da Virtual Gate, diz que o fluxo de pessoas pode voltar a crescer,
se houver investimentos em experimentação e em ações diferenciadas das lojas.
A recente inauguração de uma
unidade da Sephora no Ribeirão Shopping, em Ribeirão Preto (SP), diz, causou
filas para entrada de clientes.
A Alshop, associação de
lojistas de shoppings, vê um movimento de alta nas visitas aos shoppings,
apesar de os números ainda serem menores do que os de antes da pandemia.
“Os shoppings tem hoje um fluxo
da ordem de 350 milhões de pessoas por mês, mas este número já chegou a 400
milhões, que pode ser atingido no final deste ano ou em 2025”, afirma Luís
Augusto Ildefonso da Silva, diretor de relações institucionais da Alshop.
Além de o fluxo de pessoas
ainda estar aquém do período pré-pandêmico, de acordo com ele, o consumidor
passa menos tempo nos centros de compra.
“Antes da pandemia, o
consumidor ficava cerca de uma hora e meia no shopping. Esse tempo chegou a
cair para 15 minutos e, agora, está entre 40 e 50 minutos, em média”, afirma.
Isso acontece, de acordo com
ele, porque o brasileiro se acostumou a fazer mais pesquisa pela internet e já
sai de casa sabendo o que e onde comprar o que precisa.
O cenário macroeconômico,
desfavorável ao consumo, em sua avaliação, é a causa de um menor público e
também de uma menor permanência nos empreendimentos.
FREI
CANECA
Um dos shoppings que sofreram
com a pandemia, justamente por estar em uma região com fluxo flutuante de
pessoas, o Frei Caneca, ainda não atingiu o volume de visitação de 2019.
A média do fluxo de pessoas no
shopping era de 620 mil por mês. Em março deste ano, este número chegou a 590
mil pessoas.
“Mas, aos poucos, o número de
visitantes está aumentando”, afirma Carlo Zanetti, gerente-geral do Frei
Caneca.
No primeiro trimestre deste
ano, o fluxo de pessoas no shopping subiu 22% em relação a igual período do ano
passado. “A nossa região não perdeu o boom imobiliário.”
O centro de convenções
localizado em três andares do empreendimento, sempre ocupado com eventos,
também tem contribuído para levar públicos diferentes ao local.
“O nosso centro de convenções
talvez seja o que tem mais evento médico do Brasil, além de convenções
corporativas. Isso dá uma oxigenada no shopping”, afirma.
Um dos reflexos de que há mais
pessoas no empreendimento é a diminuição de espaços vagos.
A vacância no Frei Caneca, que
chegou a 1.800 metros quadrados de área, hoje é da ordem de 820 metros
quadrados ou 3,2% do total de área bruta locável (ABL).
Em número de lojas, são cerca
de 12 espaços disponíveis no momento, de um total de 143 operações do shopping,
incluindo quiosques.
Os espaços vagos variam de 28 a
40 metros quadrados, dedicados, especialmente, a lojas de menor porte, de
roupas, calçados, bijuterias.
“Estamos atrás de operações que
possam agregar valor ao mix de lojas do shopping, que é de vizinhança, e já
oferece uma variedade de serviços aos clientes”, diz.
OTIMISMO
Longe de soltar rojões, o
primeiro trimestre foi um pouco melhor do que o esperado pelo setor, de acordo
com levantamento da Alshop.
As vendas subiram 2,1% em
relação a igual período do ano passando, sem considerar a inflação no período,
e a expectativa era de um aumento ao redor de 1,5%.
Esse resultado, de acordo com
Idelfonso da Silva, levou os lojistas a ter uma expectativa mais positiva para
o Dia das Mães, a segunda melhor data de venda do comércio, depois do Natal.
Para Marcos Hirai, consultor de
varejo especializado em expansão de redes, existe um certo clima de otimismo
nas lojas de shoppings em razão da redução da vacância.
“Há um ano, haviam mais tapumes
espalhados pelos empreendimentos do que agora. Alguns shoppings estão até com
ocupação plena, com fila de loja para entrar”, diz.
Alguns shoppings consolidados,
diz, estão mudando o mix de lojas e se há tapumes é porque estão numa fase de
transição, de saída de uma loja para a entrada de outra.
“No ano passado, o shopping
queria acabar com os tapumes de qualquer jeito, sem se preocupar com a
qualificação do mix. Hoje, já estão numa situação de conforto”, diz.
A preocupação dos centros comerciais no momento, diz, já não é reduzir a vacância e, sim, qualificar o mix para atender as novas demandas dos consumidores.
Fátima Fernandes
https://dcomercio.com.br/publicacao/s/ida-de-clientes-as-lojas-de-shoppings-e-ruas-cai-no-primeiro-trimestre
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